segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O TEMPO É AUTÔNOMO.

Se depender da floração dos ipês, o inverno está se despedindo. Em outros tempos, se diria que não acontecerão mais geadas a partir das flores desta árvore que permanece por longo tempo sem folhas, com aparência de secas. Evidente que a natureza, com tanta intervenção humana, já não detém a última palavra quanto às estações e às variações meteorológicas. Mas ainda é possível decifrar outros sinais diante das alterações naturais.
A vida não espera. Ela chama e vai andando. Uma estação sucede a outra. Um dia, naturalmente, o inverno existencial também fará passagem. Sim, acontecem muitos invernos, no decorrer da vida. Por vezes são longos períodos de prostração, sem nenhuma expectativa, nenhum sinal de esperança. De tão prolongados, pensa-se que jamais findarão. A vida, que tanto inquieta o coração humano, um dia terá que partir. Seria assustador ter que dizer; ‘eu não vivi e já tenho que ir embora!’ O tempo é autônomo. Não se importa com o que falta ser feito. Simplesmente passa.
Só existe um caminho para não perder tempo e, assim, viver com intensidade: não cansar de amar. Do amor a si mesmo, nascem todos os outros amores. Para amar bem, a condição é saber amar-se. Um aprendizado exigente, mas compensador. Todos saem ganhando quando uma pessoa empreende o itinerário do amor. E quem ama profundamente não se atém ao sofisticado, adere à simplicidade e com ela constrói intimidade.
Ninguém pode prender o inverno. Impossível. Além dos ipês não florescerem, as outras estações cansariam de esperar. Assim é na caminhada humana: chega um momento em que é necessário se despedir do sofrimento e acenar exaustivamente para a alegria que está lá, um tanto distante. Não cansar de acenar até que ela suplique para ser hóspede por um longo tempo. Há pessoas que não sabem viver sem sofrer. Há outras que se assustam com o despontar do mínimo sofrimento. A primavera sempre será precedida pelo inverno.
Verdadeiras alegrias alcançam a superfície existencial, depois de rigorosos invernos de dor. Tudo passa. Os ipês florescem no tempo certo. Não é diferente com o coração humano. Paciência e persistência necessitam estar de mãos dadas para garantir outras alegrias, aquelas que somente uma alma sedenta sabe o valor. Enquanto isso, convém olhar os ipês floridos.

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