quarta-feira, 6 de abril de 2011

POR QUE OS JAPONESES NÃO CHORAM?

Imediatamente depois da tragédia que atingiu o Japão, os meios de comunicação ocidentais maravilharam-se diante das multidões de Tóquio que caminhavam em ordem na noite do terremoto sem manifestações de desespero e sempre contendo as lágrimas. Falou-se de estoicismo, dignidade, fatalismo, tabu...Essa atitude foi atribuída à formação (“todos os estudantes japoneses aprendem o que é preciso fazer em caso de terremoto”), ao costume (“no Japão, as fúrias da natureza fazem parte da vida”) e, às vezes, à manipulação (“os meios de comunicação ocultam o que é mais horrível”). Também falou-se muito de uma suposta mescla de Zen e cultura pop, desenhos e “mangás” (HQ japonesas), “cultura do efêmero” e “cultura do desastre”. Chegaram a recitar na televisão – sobre a tumba de barro onde jazem enterradas vinte mil vítimas – os antiquíssimos “haikus” para explicar aos telespectadores “por que os japoneses não choram”.Essa evolução também reflete a crise profunda do impulso nacional em um país que envelhece, debilitado por vinte anos de depressão econômica, traumatizado pelas reformas neoliberais implantadas desde princípios do século e paralisado por um sistema político sem alento. Como o 11 de setembro transformou os Estados Unidos, o 11 de março transformará o Japão. O cataclismo será um eletrochoque e a reconstrução se converterá no objetivo nacional do qual carecem hoje os japoneses? O fato de ter roçado o Apocalipse os levará a reconsiderar um modo de desenvolvimento, onde um único acidente pode transformar uma de suas megalópoles em um deserto envenenado? Estas perguntas dirigem hoje todo o futuro do Japão.




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