segunda-feira, 15 de agosto de 2022

OS TRÊS GARGALOS

Os estrategistas da campanha de Lula precisam encontrar saídas para alguns gargalos que favorecem Bolsonaro. Bolsonaro vem dominando a agenda do debate político do país nos últimos meses. Até o início de julho dominou o debate com a PEC da reeleição. Há mais tempo domina o debate com suas arruaças antidemocráticas, de ataque aos tribunais superiores e de suspeição das urnas. Ele capturara as reações da oposição, da sociedade civil e da própria mídia – da grande mídia e da mídia alternativa. Essas arruaças conseguem até mesmo intimidar muita gente.

O segundo gargalo diz respeito ao uso do discurso religioso, moralista e obscurantista pelo bolsonarismo. Esse discurso constitui uma tática de mobilização de afetos que radicalizam o ativismo de extrema-direita e bloqueia qualquer fluidez reflexiva quanto à decisão do voto. Parece que os estrategistas de esquerda não compreenderam até hoje a importância da mobilização dos afetos e o poder do estímulo ao ódio na política.

O terceiro gargalo se refere a como enfrentar o uso inescrupuloso do aparelhamento do Estado para fins eleitorais. Encontrar uma saída tática para esta investida, como se disse, é difícil por conta dos erros cometidos pela oposição parlamentar. Aqui, no máximo, se conseguirá apenas uma política de redução de danos.

Por fim, os estrategistas da campanha precisam dar vasão a uma campanha combativa, mobilizadora dos ativistas, dos militantes e dos movimentos sociais. Uma campanha popular, de mobilização de rua e de organização. Somente uma campanha com este teor poderá influenciar positivamente o caráter progressista do governo Lula. O resgate da democracia não pode ser um impeditivo para o seu aprofundamento. A democracia são as regras do jogo mas também o seu conteúdo social e econômico. A campanha de Lula não pode ser aprisionada por um discurso de uma democracia minimalista e elitista.

A fantasia desta campanha precisa voltar-se para o futuro. E o futuro está na proposição de uma democracia que resolva os problemas sociais, que produza mais igualdade. A fantasia consiste em conferir um caráter plebeu, tanto à campanha, quanto à democracia.

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