sexta-feira, 6 de maio de 2022

CARNAVAL.

 

É parte constitutiva da identidade do ser humano o elemento da festa. A festa interrompe o tempo cotidiano e introduz a diferença do ritual e da celebração, para marcar uma ocasião especial em que é preciso deixar a rotina e voltar os olhos para o extraordinário que irrompe no tempo cronológico.

Todas as festas são eventos pelos quais se entra em “outra” ordem de coisas, onde a fantasia, a imaginação e o desejo tomam lugar. Festejar, portanto, é reafirmar nossa condição de ser humano, é sublinhar o fato de que não somos guiados apenas pelos instintos e pelo kronos que implacavelmente passa. Festejar é demonstrar que temos algum poder sobre o tempo, transfigurando-o com o rito da comemoração e da celebração.

Em tempo de carnaval, mesmo fora de época como no feriado de 21 de abril, as reflexões acima se aplicariam. Somos instigados a refletir sobre o sentido e o objetivo da música e da dança, dos espetáculos cheios de luzes e cores, dos corpos desnudados e fantasiados em desfile, do samba na rua, de tudo que compõe os três dias que o povo espera com sofreguidão. Isso torna-se ainda mais importante no Brasil, país onde o carnaval ocupa lugar central no imaginário do povo. Chamado com justeza país do Carnaval, o Brasil parece que entra em câmara lenta no Ano Novo para só recuperar seu ritmo e dinamismo depois dos festejos momescos.

A alegria do povo que vai às ruas fazer festa é bendita. É cura para as dores e catarse para as opressões vividas e padecidas. Assim foi esse carnaval extemporâneo, acontecido depois da Páscoa, mas onde se expressou uma alegria pascal após tanto luto e tanta morte, como as que assolaram o povo brasileiro nos últimos dois anos. Essa demonstração de alegria encontra seu paradigma no mistério que configura o cristianismo e sua esperança no amor que é mais forte que a morte.

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