domingo, 19 de dezembro de 2021

QUEM SOU EU.

Observação de cunho pessoal de impressões já consolidadas durante o estendido período da pandemia: o envelhecimento acelerado das feições do rosto e do corpo. Expressões do desgaste da rotina imposta, do receio da contaminação generalizada, do desassossego da morte à espreita, do medo da ausência de perspectiva de trabalho, do desalento das relações familiares expostas ao desgaste da convivência obrigatória diária, da tediosa rotina dos solitários, da melancolia crescente pela distância de amigos, afetos e familiares, e, no nosso caso, da depressão e inconformidade com a irresponsável e inaceitável conduta governamental das autoridades máximas do país no agravamento das consequências letais da Covid-19.

De alguma forma, de algum modo, todos carregamos nos semblantes, nas posturas corporais, nos pensamentos, nas ações, ‘sequelas’ advindas da peste do século XXI, já prevista pelos cientistas e especialistas desde muito. Nada que aponte, por ora, para uma descompressão mais permanente, um voltar ao que jamais será como antes, um armistício duradouro. Pelo contrário, temos que nos (re)ver, nos (re)fundar, nos (re)descobrir em temporada de duro combate, em luta constante de preservação da vida, revista e reconstruída em sensibilidade e percepção, mais atenta e perspicaz (tomara) para o que se avizinha.

Tempo de inteireza, tempo de integridade, tempo de entender-se no meio do caos, de encontrar os próprios caminhos e saídas, de manter-se altivo e ativo, de não tergiversar sobre o básico essencial, de dar-se ao respeito e exigir respeito, de entender que as relações demandam equilíbrio e cuidado, que o muito que já foi feito ainda é pouco ou quase nada, que muito há por fazer e por viver, que a sanidade passa pelo amor próprio, pelos outros em dose de equilíbrio e repartição sem cobrança, que amizades sinceras são poucas e que merecem cuidado redobrado e rega contínua, que separar joio do trigo é sinal de sabedoria e maturidade, que o sol é para todos e que seu naco de felicidade passa pela coragem e ousadia de ser e saber-se quem se é.

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