terça-feira, 3 de agosto de 2021

TUDO MUDOU COM O COVID

 

Com o avanço da vacinação no Brasil, mesmo que ainda muito lento, algumas pessoas têm retomado sua rotina. Mas, tanto entre aqueles que ainda estão em casa, como os que já saem para trabalhar, e também aqueles que nunca puderam ficar em casa, há um consenso: ninguém está como antes. Isso porque todos parecem ter um sentimento de tristeza, um nó na garganta por tudo que viram e vivem nestes tempos. Muitas pesquisas já têm apontado e quantificado esses sentimentos na população, como a realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da qual participou a professora Celia Szwarcwald. Para ela, há múltiplos fatores para o entristecimento. “Em primeiro lugar, as incertezas sobre a doença, a perda e o medo de perder pessoas queridas pela Covid-19”, destaca.

Porém, há ainda outros fatores que têm impactado a saúde mental, como o isolamento e outros que ainda parecem perdurar. “Citamos as perdas de trabalho, emprego e rendimento familiar, o que trouxe, além dos problemas emocionais, questões relacionadas à insegurança sobre o sustento da família, incluindo a insegurança alimentar”, acrescenta a doutora em Saúde Pública pela Fiocruz.

Ou seja, significa que de um modo ou outro, essa tristeza e seus impactos na saúde mental têm atravessado as mais variadas classes sociais e pessoas das mais distintas idades. “Os adolescentes foram os que mais sofreram durante a pandemia. Com a falta da escola e as restrições dos espaços físicos para esportes coletivos, os adolescentes perderam as oportunidades de se socializarem com os amigos e professores”, exemplifica.

Já entre os mais velhos, além da solidão, há casos em que membros da família têm de largar o trabalho em atenção aos idosos. “Familiares, filhos e netos acabaram se distanciando dos idosos, como medida de proteção, o que trouxe muita solidão e tristeza. Por outro lado, familiares tiveram que cuidar de idosos com dificuldades nas atividades de vida diária, com sobrecarga de trabalho nessas famílias e mudanças importantes na vida das pessoas”, afirma a especialista em Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde.

No entanto, se nesse ponto o impacto na saúde mental é horizontal e ataca a todos, os acessos a diagnósticos e tratamentos adequados revelam mais uma face das desigualdades no Brasil. Como aponta Celia, muitas pessoas nem conseguem perceber seu próprio adoecimento. “A manifestação dos problemas de saúde mental pode ocorrer de forma diferente entre as pessoas. Por exemplo, as mulheres relatam mais os problemas do que os homens, mas os homens reagem mais frequentemente com atitudes de irritabilidade, agressão e violência, mais difíceis de entender como problemas emocionais”, observa.

Além disso, há um grande preconceito quando se fala em problemas de depressão e tristeza nos mais pobres, como se não tivessem motivos e direito de adoecerem. Por isso, além de enfrentar o preconceito, é preciso assegurar o acesso a atendimentos. “Pessoas de todos os estratos sociais relataram problemas emocionais durante a pandemia. O que ocorre é menos acesso ao diagnóstico de doenças mentais na população em desvantagem social”, resume.

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