segunda-feira, 17 de outubro de 2016

PARA PENSAR II

Em continuidade à reflexão sobre a importância do pátio, destaco outras significativas contribuições do espaço para a vida humana. A crônica anterior destacava as dimensões psicológicas, econômicas, climáticas, culturais e religiosas do ser humano. É incontroverso que em zonas urbanas falta espaço de contato com o ecossistema para melhor qualidade de vida. Suprimir o pátio em vista de ganhos financeiros é uma ação impactante na vida das pessoas.

Primeiramente é possível destacar várias visões do pátio. Pode ser descrito como um recinto que dá acesso à porta principal de algumas casas. Também é definido como um terreno murado anexo a um edifício. É, ainda, um ambiente descoberto entre casas. Quanto ao termo, do verbo latino pateo, significa estar aberto, exposto, estender-se, abrir-se. Aberto, significa a possibilidade de relacionar-se com a natureza, com os outros, estar suscetível aos seus semelhantes. Exposto quer dizer acessível à chuva, ao sol, ao vento, às pessoas, ao movimento, à inquietude, ao cheio, ao vazio, uma relação passiva de acontecimentos. Estender-se significa uma posição ativa perante os outros e o mundo. Abrir-se é o indivíduo que se faz visto e adquire uma razão de ser. São as várias visões do pátio.

Seja qual for a definição de pátio, o aspecto da urbanização com seus fechamentos laterais manifesta futuras preocupações. O fechamento sempre é algo que impossibilita relações entre as pessoas. Consequentemente, acontecem eliminações até das manifestações climáticas. A atual visão de construções urbanas é resultado de uma ideia puramente econômica e imobiliária. Esta visão usa o máximo de espaço para a construção com blocos de concreto interligados. Então, a mensuração de seu valor está associada a sua área de construção.

Em contrapartida, a defesa do pátio tem outra medida e compreensão da vida humana, pois valoriza mais o espírito e a essência do ser humano. Por isso, o pátio transcende o econômico e imobiliário. É lugar de conversa e convivência. É local de perguntas e de respostas para a vida. A sombra de uma pequena árvore acresce contribuições psicológicas, culturais, religiosas, econômicas, ecológicas. O pátio é um lugar de autoeducação. Nele descobre-se que a vida não é um movimento linear, similar às ruas de uma cidade. Como a praça estava para os gregos, lugar de diálogo entre mestres e discípulos, tem-se o pátio local de liberdade, privacidade, confraternização, convivência, do lúdico. As políticas urbanas, as construtoras e incorporadoras preocupadas com o máximo de rendimentos econômicos esquecem as significativas contribuições do pátio, imprescindível para o crescimento humano.

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