terça-feira, 6 de janeiro de 2015

AS MUDANÇAS DO MUNDO.

É curioso saber que Francisco de Assis tenha sensibilizado até o ilustre e declarado ateu José Saramago. Num pequeno teatro, o escritor envolve em polêmica o Santo da grande paz quando o imagina preocupado numa possível volta à terra. No reencontro com frei Elias, Francisco escuta que sua obra de ontem não tem mais nenhuma semelhança com o que existe hoje. “O mundo mudou enquanto estiveste ausente”. Elias chama Francisco de ingênuo, se por acaso esperasse encontrar a insignificância de sua herança.
Imaginamos que triste recepção nesta possível volta à terra. Mas Francisco, conforme nos apresenta Saramago, tem uma resposta muito sábia quando diz a frei Elias: “O mundo mudou assim, porque nós não soubemos mudá-lo de outra maneira. Agora teremos de mudar-nos a nós próprios para que o mundo possa mudar”.
O certo é que Francisco de Assis nunca teve como primeira intenção a mudança dos outros, nem da Igreja, nem do mundo, mas a mudança de si mesmo. Quando seu grande centro se tornou o “meu Deus e meu tudo”, todas as demais relações se ajustaram da forma mais condizente.
“O mundo mudou!” Essa expressão não deixa de ser verdadeira, mas também pode esconder uma triste impotência de quem olha para trás e não consegue conviver com a possibilidade de um sadio relacionamento, com um mundo que, em certos setores, mudou para pior.
Com justiça constatamos que muitas mudanças, trabalhadas pela inteligência humana, estão gerando avanços de humanização no mundo, tanto no campo como na cidade. Há progressos que se confirmam como o novo nome da paz. Esses são sempre bem vindos porque são efetivados com alto senso de humanidade e são favoráveis à vida.
Existe uma expressão popular que a considero sábia e oportuna para todos: “Se queres mudar alguma coisa, mude para melhor, nunca para pior”. Querer mudar faz parte natural dos humanos que desejam imprimir a própria marca por onde passam. A mesmice sedimenta a pessoa, acomodando-a. Desde as pequenas mudanças do dia a dia, até as grandes e extraordinárias, ajudam a dinamizar a vida e a acreditar que é possível um mundo melhor.
Quando pensamos em mudanças não é difícil dedicar uma grande atenção aos meios, achando que são tudo. Na verdade, a sofisticação dos meios que vai acontecendo com fins equivocados pode se tornar uma desgraça para as pessoas e a sociedade. Posso querer um carro novo para desempenhar bem e com segurança meu serviço, como posso desejar um carro novo para humilhar um vizinho ou acelerar uma desgraça.
Na verdade, as melhores mudanças que se tornaram um benefício para a humanidade sempre cuidaram com sabedoria os fins para os quais os novos meios se justificam. Outra grande verdade é que dentre todas as mudanças, a mais importante é a mudança do coração. Isso se chama “conversão”.

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