quinta-feira, 17 de outubro de 2013

PARA PENSAR: "MERECER A PRÓPRIA MORTE"?

Condenado pelo assassinato, a sangue frio, de dois vizinhos, Patrick Brian Knigth, depois de 16 anos de batalha judicial, foi executado. Antes de ir para a cadeira elétrica, no Texas, Patrick, 39 anos, pediu, pela internet, que lhe enviassem piadas e desenhos humorísticos. Queria morrer rindo da última piada. Instantes antes de morrer, já no corredor da morte, falou a seus companheiros: “A morte vai me libertar. Esta é a melhor piada. A mereço”. Quando a porta fatal ia se abrindo, alertou os carcereiros: “Parem esta execução: eu não sou Patrick Brian Knigth!”. E, após pequena hesitação dos guardas, pediu: “Em frente. Terminei”.
Há uma íntima ligação entre a vida e a morte. Num certo sentido, a morte não existe. Existe a vida que um dia termina. É o apito final de um jogo, bem ou mal jogado. O apito final não altera nada. Prevalece o placar do jogo. A morte torna definitivo o que a pessoa foi em vida. E, nesse sentido, mais que julgar, Deus respeita a decisão de cada um, mesmo quando for a mais infeliz. É a graciosa possibilidade e responsabilidade da liberdade humana. “Faz me tremer a idéia de ser livre”, filosofava Jean Paul Sartre.
Vida e morte são feitas do mesmo tecido. Quando a vida é uma tragédia, a morte também é trágica. Quando a vida é bela, a morte também é bela. Há vidas que se revestem de heroísmo e de santidade. Mas há vidas construídas na alienação. São piadas de mau gosto.
Martin Luther King comparava a vida a um livro. Cada dia é uma página e as páginas vão formando um enredo, com um desfecho lógico. “Cada dia é dia de julgamento, e nós, com nossos atos e nossas palavras, com nosso silêncio e nossa voz, vamos escrevendo continuamente o livro da vida. A luz veio ao mundo e cada um de nós deve decidir se quer caminhar na luz do altruísmo construtivo ou nas trevas do egoísmo. Portanto, a mais urgente pergunta a ser feita nesta vida é: o que fiz hoje pelos outros?”
A interrogação de Luther King deixa evidente a possibilidade de recomeçar. Hoje é o tempo de Deus. O bom ladrão recomeçou horas antes de morrer. Mas a experiência de cada dia também nos garante que é mais fácil continuar o que somos do que mudar. É a lógica dos hábitos que adquirimos, bons ou maus. Os bons hábitos nos possibilitam caminhar com facilidade ao encontro dos outros e de Deus. Os maus hábitos criam a facilidade em praticar o mal. Além de nos encaminhar para o mal, tentam legitimá-lo. Isso significa considerar como certo o que é errado.
Cada um deve merecer a própria morte. Podemos morrer na pobreza de uma piada ou numa prece redentora. Francisco de Assis, em seu leito de morte, exortava a si e aos frades presentes: “Comecemos hoje, porque até agora pouco fizemos”. Assim como a vida, a morte pode ser uma tragédia, uma comédia ou a aurora da ressurreição.

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