sexta-feira, 21 de setembro de 2012

RAIZES E ASAS

Pierre Auguste Renoir (1841–1919) figura no seleto grupos dos gênios da pintura. Como poucos, ele soube pintar a luz, o brilho e a beleza das coisas. Entre suas obras merecem destaque os quadros das Duas Meninas e Banhistas. Quase octogenário, foi visitado por um jovem e ambicioso universitário. Queria que o grande mestre o ensinasse a pintar. Como fosse muito ocupado, queria saber quanto duraria o aprendizado.
Renoir chamou o jovem para seu atelier e, com uma rapidez assombrosa, em alguns minutos pintou uma tela maravilhosa. Vendo a rapidez da pintura e sabendo o preço de suas telas, o jovem animou-se. Alguns dias seriam suficientes para dominar a arte, mas Renoir explicou: fiz esta pintura em cinco minutos, mas me preparei durante 60 anos para este momento.
Nosso tempo é marcado pela pressa e pelas coisas prontas. No mercado encontramos todos os produtos pré-fabricados, com esta orientação: aqueça por cinco minutos e acrescente seus temperos preferidos. Na vida queremos conseguir tudo sem levar em conta as leis do tempo. Em outras palavras: não queremos perder tempo com as raízes. Elas nos parecem inúteis, nós as consideramos perda de tempo. Não são vistas por ninguém.
Quanto vale a aula de uma professora ou o artigo de um jornalista? Quanto vale uma consulta médica ou uma camisa bem passada? Quanto vale o parecer de um perito ou o trabalho urgente de um eletricista? O critério mais comum é levar em conta o tempo gasto. Esquecemos o longo tempo de preparação que possibilitou este momento. Este tempo, quase sempre, é garantia de qualidade. Um perito, chamado às pressas, em dois minutos resolveu um complicado problema de informática. Naturalmente tinha seu preço. Os 500 reais exigidos pareceram muito, pelo trabalho de dois minutos, onde tudo foi resolvido ao acionar uma combinação de peças. Ele explicou: pelo trabalho de dois minutos, apenas um real, mas pelo saber qual a peça devia ser acionada: 499 reais.
Este modo de pensar se aplica especialmente à educação. Educar é criar asas, mas não podemos esquecer as raízes. O frágil bambu enfrenta as tempestades porque, durante longos anos, fortaleceu as raízes. O ciclo de vida de uma aboboreira se reduz a algumas semanas, mas para formar um cedro, a natureza leva 60 anos
Pierre Renoir, velhinho e atacado por doloroso reumatismo, continuava qualificando os mínimos detalhes de seus quadros. Para alguém que achava perda de tempo, ele disse: a dor passa, a beleza fica. Outro pintor, o grego Zeuxis, esclareceu: eu pinto para a eternidade.

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