sexta-feira, 2 de setembro de 2011

DA GUERRA FRIA A DITADURA DE 64 - II Um pouco de história para o fim de semana

Ligas - O Brasil situou-se na área de influência dos Estados Unidos, com intelectuais de esquerda desempenhando papel de relevo na tentativa de transferir os laços econômicos norte-americanos para o bloco comunista. O processo de industrialização brasileira com a substituição de importações, de 1950-61, provocou desequilíbrios e distorções, acentuando as desigualdades regionais de distribuição de renda, com a concentração de novas indústrias na região Centro-Sul, que reduziram o investimento na modernização da agricultura. A substituição de importações provocou a estagnação econômica no Brasil, que não conseguiu se expandir.

Diante da situação de fome no Nordeste brasileiro, que sofrera duas secas violentas em 1952 e 1958, organizaram-se as Ligas Camponesas com o objetivo de fazer a reforma agrária, a partir de 1.1.1955. Também a Igreja Católica, através da CNBB, estimulou a criação da Sudene e declarou-se favorável à reforma agrária, iniciando em 1960 intensa campanha de organização do sindicalismo rural. Lideradas pelo deputado Francisco Julião, as Ligas Camponesas, em busca de justiça, tornaram o Nordeste explosivo.
A esquerda formou o Movimento Popular de Libertação, liderado por Miguel Arraes. A extrema direita estava concentrada no Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), que recebia verbas dos Estados Unidos. Havia também o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) e a Tradição Família e Propriedade (TFP).
João Belchior Marques Goulart candidatou-se à vice-presidência pela aliança PSD-PTB. Fernando Ferrari lançou-se pelo MTR, dissidência do PTB do Rio Grande do Sul.
A UDN representava o sentimento liberal-burguês, cooptando setores da indústria, fazendeiros e classe média. Defendia a educação e o localismo em seu anti-
populismo. Era partido forte em Minas Gerais, Bahia e Paraíba. Tendo como porta-voz o jornalista Carlos Lacerda, denunciava a corrupção no governo de Juscelino Kubitschek como uma continuação da era de Getúlio Vargas. A UDN apoiou a candidatura de Jânio da Silva Quadros, lançado pelo inexpressivo PTN, que empunhava uma vassoura para varrer a corrupção do Brasil, de acordo com o moralismo da classe média. A UDN apresentou a candidatura de Leandro Maciel, ex-governador de Sergipe, para vice-presidente. Jânio ameaçou renunciar. A UDN trocou Maciel por Milton Campos e Jânio, satisfeito em sua exigência, desistiu de renunciar.
Populista - A atitude visionária de Jânio marcou campanha para presidente da República. Ele ganhou apoio, graças ao descontentamento dos eleitores urbanos e das populações marginalizadas, pois os eleitores buscavam objetivos imediatos e não programas ideológicos. Os discursos elaborados num português acadêmico, com o emprego correto de pronomes e concordâncias verbais, eram dissonantes em relação aos temas popularescos atacando os políticos, criticando a “Dona Light”, apontando os direitos e deveres dos cidadãos, denunciando a corrupção e a injustiça, apresentando-se como defensor dos necessitados.
O historiador Skidmore considera que Jânio demonstrou certas características populistas: apresentava-se como candidato dinâmico, com força redentora e capaz de grandes transformações, prometendo permanecer acima das estruturas partidárias. O vestuário descuidado e dramáticas demonstrações de independência partidária, com promessas generalizadas e apelos aos sentimentos de nacionalismo atraíram os eleitores de todas as camadas sociais. (Skidmore, p. 232-33).
O marechal Henrique Teixeira Lott era o oposto de Jânio. Ele aparecia na televisão defendendo causas nacionalistas, o voto do analfabeto e a restrição das remessas de lucros das firmas estrangeiras para o exterior. Cada vez que falava de forma inexpressiva e monótona, dava sinal de fraqueza e timidez, deixando evidente que era inexperiente em política. A espada, como símbolo, também não ajudava, lembrava sua condição de militar.
A campanha de Jânio Quadros era financiada pela Conclap, grupo Matarazzo, Votorantin, Moinhos Santistas, indústrias automobilísticas e Associação Comercial de São Paulo.
Fraqueza - A vitória de Jânio assinalou o declínio dos grandes partidos conservadores, diante da dispersão do eleitorado nas alianças e coligação e pelo aumento dos votos nulos e em branco. Segundo Campello de Souza, a votação maciça em Jânio Quadros também contou com o eleitorado de pequenas cidades. Isto demonstrava sua fraqueza em termos competitivos, que tinha de sair dos grandes centros para ganhar as pequenas cidades do interior. Nenhum partido se apresentava como uma força nacional. (Souza, p. 149 e 153).
O governo de Jânio Quadros não pode ser estudado isoladamente, como um entreato ligeiro entre o desenvolvimentismo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-61), que trouxe o endividamento externo e uma corrida inflacionária, com a derrocada do populismo de João Goulart até a implantação de uma ditadura militar em 1964.

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