quarta-feira, 3 de maio de 2023

A LONGEVIDADE É UMA BÊNÇÃO

A humanidade está ficando mais velha, dizem as estatísticas. E isso parece que é bom, porque só atinge a velhice quem vive mais tempo. Pelo menos parece ser o que todos buscamos: viver muito, desfrutar até onde for possível das alegrias que significam viver, existir. E adiar a morte, conhecida por muitas culturas, notadamente a ocidental. A poesia a identificou como “a indesejada das gentes”. E mesmo os escritores bíblicos a chamaram por nomes negativos, como o apóstolo Paulo: “a última inimiga a ser vencida”; e o autor do último livro da Bíblia, o Apocalipse, que a inclui entre os quatro cavaleiros que anunciam a catástrofe final, ao lado da fome, da guerra e da peste.

Por isso, a longevidade é uma bênção e viver muitos anos um prêmio a que todos aspiram. Assim, o livro do Êxodo exorta o israelita a honrar o pai e a mãe “para que se prolonguem os seus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá”. O livro dos Provérbios promete que quem aceita as palavras divinas verá seus anos de vida multiplicados, afirmando igualmente que o galardão da humildade e o temor do Senhor são riquezas, honra e vida longa. No livro dos Salmos, é prometido a quem guarda a língua e os lábios do mal e da mentira, praticando o bem, largos dias para ver esse bem florescer e frutificar. E ao justo que invoca o Senhor, este estará com ele na angústia, dando-lhe abundância de dias e mostrando-lhe a salvação.

O Novo Testamento seguirá essa rica tradição judaica. Toda a pregação e ação de Jesus de Nazaré é curativa, procurando dar às pessoas mais tempo de vida, e vida plena. Assim é que vemos nos Evangelhos curas de várias doenças, físicas e mentais. Há narrativas do poder de Jesus ressuscitando mortos como o filho da viúva de Naim e de seu amigo Lázaro. Nos escritos paulinos, é resgatada a orientação da Bíblia Hebraica sobre a honra que é devida aos pais. A quem isso pratica, como diz a Carta aos Efésios, será dada uma vida longa sobre a terra.

Não se encontrará no texto bíblico nenhuma afirmação de depreciação à vida. Pelo contrário, há sempre uma valorização da mesma, encarando o fato de ela ser longa como uma bênção de Deus, que não quer a morte de ninguém, nem do pecador, mas que ele viva. A tradição cristã seguiu fiel a essa revelação divina destacando-se pelo serviço aos pobres, dando-lhes alimento e abrigo, a fim de sustentar-lhes e prolongar-lhes a vida.

Os idosos estão entre os “exilados ocultos” de nossas sociedades da abundância que se tornam desumanas com a obsessão de gerar riquezas e consideram como peso as pessoas que entendem que já não podem contribuir. Viver 100 anos e até mais é justo e desejável, sim. Vidas humanas não são descartáveis. A garantia de uma vida humana é o próprio Deus da vida que nelas soprou seu Espírito e deseja vê-las cheias de dias, contribuindo com sua experiência e sabedoria para a construção da memória sem a qual a humanidade se perde e deteriora. Como diz o salmo 92: “Mesmo na velhice darão fruto, permanecerão viçosos e verdejantes”.

Nossa utopia deveria ser não desejar que encurtem os dias das pessoas para que as contas fechem na Previdência e no serviço público. Mas poder dizer como o salmista: “Já fui jovem e agora sou velho, mas nunca vi o justo desamparado nem seus filhos mendigando o pão.”

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