quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

LADEIRA ABAIXO

 

A posse de Lula, que pela terceira vez irá ocupar o cargo de presidente da república, simbolicamente, nos dá a exata noção do que seja um governo democrático. Um governo onde o povo tenha participação e poder de decisão, precisa ter diversidade. E ela subiu a rampa junto o presidente eleito, com representatividade de cor, gênero, etnia, condição social, PCD e espécie, num momento emocionante que irá entrar para a história da república brasileira. Algo que se construiu em alternativa ao desrespeito institucional cometido pelo antigo ocupante do cargo, que, numa postura antidemocrática e pouco civilizada, se recusou a cumprir a liturgia de transferência do cargo e passar a faixa presidencial ao novo presidente. A ideia, possivelmente de Janja, a nova primeira dama do país, deixa claro que o atual governo representa socialmente o oposto do anterior, onde as minorias eram tratadas como reféns de uma ideologia que as obrigavam a se renderem à maioria ou desaparecerem do mapa.

Um garoto preto, uma liderança indígena, um influenciador digital homossexual e pessoa com deficiência, uma mulher preta catadora de materiais recicláveis, um professor, um metalúrgico e dois apoiadores da Vigília Lula Livre, além da cadela de estimação da primeira dama, subiram a rampa do Palácio do Planalto ao lado de Lula. O presidente eleito recebeu a faixa presidencial das mãos de Aline Sousa, que é articuladora do Movimento Nacional das Catadoras e uma liderança do movimento de mulheres catadoras do Distrito Federal. Ao convidar as minorias para fazerem parte do seu governo, ressaltando a identidade de cada uma delas, Lula abriu um leque maior no que diz respeito a representatividade. Sobretudo, com relação a uma certa resistência que ainda há no campo progressista, no que diz respeito a pautas consideradas identitárias. Uma possível sinalização de que os anseios dos grupos minoritários não se resumem a luta de classes. Estimular a diversidade, algo que sempre foi visto com maus olhos pelos opositores do progressismo, é promover inclusão e combater privilégios adquiridos em qualquer sociedade estruturalmente racista, machista, homofóbica, capacitista e aporofóbica. Que Lula não fique apenas no discurso, onde frisou por mais de uma vez o seu compromisso prioritário com as minorias representativas, ou no simbolismo da subida da rampa, quando fez renascer a esperança dos grupos quase que institucionalmente excluídos. Uma sociedade mais justa, igualitária e verdadeiramente democrática, se constrói com a participação de todos e todas. “União e reconstrução” é o lema do novo governo. E Lula terá a missão de corrigir os desastres sociais promovidos por s eu antecessor, que o deixou como herança 33 milhões de pessoas passando fome e outras tantas milhões em condição de insegurança alimentar. Um presidente que apostou no retrocesso como futuro, se articulando sob um ufanismo pátrio, religioso e irracional como ideologia. A diversidade sobe a rampa com Lula, num país onde as minorias estavam indo ladeira abaixo com Bolsonaro.

 


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