Na liturgia cristã, os gestos são lentos para que
se permita aprofundar o espírito: o vinho derramado no cálice, as ondulações
suaves do canto gregoriano, os joelhos dobrados em sinal de adoração ao Senhor.
Isso vale para o conjunto da vida. Na relação com o alimento usufrui melhor
quem faz da refeição, celebração. Sem pressa ou preocupações. O que importa não
é o prazer, é a felicidade.
Sentir os atos mais vulgares como
aventura espiritual é um desafio proposto pelas religiões orientais. Um
ocidental enche de água o copo sem ouvir o murmúrio do líquido, enquanto a
cabeça permanece distante daquele momento. Um oriental instruído na sabedoria
milenar sabe ser aqui-e-agora: copo, água, sede, gesto e atenção formam um todo
e favorecem a harmonia interior.
O sábio não corre atrás do tempo
nem se deixa arrastar pelo ritmo do relógio. Ele é senhor do tempo. Em suas
atividades nunca submerge, pois se comporta “como a cortiça na água”, como
sugere São João da Cruz. Ele aprendeu que só o Absoluto e suas expressões – as pessoas
e a natureza – valem a pena. Tudo mais é relativo e, como tal, não merece tanta
importância.
Nenhum comentário:
Postar um comentário