Mas a conquista da velocidade não foi acelerada uniformemente. A quase 2.000 anos de distância um do outro, se Júlio César e Napoleão quisessem abranger a distância entre Roma e Paris, levariam o mesmo tempo: algumas semanas a pé, uma semana de carruagem. A 200 anos de Napoleão, se nós também quiséssemos fazer o mesmo trajeto, bastariam apenas algumas poucas horas, mesmo sem gozar de privilégios imperiais.
Foi com o advento industrial que o desafio da velocidade acelerou as suas etapas: em 1903, o primeiro voo dos irmãos Wright durou 59 segundos em uma distância de 260 metros. Seis anos depois, em 1909, Filippo Tommaso Marinetti publicou o “Manifesto do Futurismo”: “Nós afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova; a beleza da velocidade. Um carro de corrida com o seu capô adornado com grandes tubos semelhantes a serpentes de hálito explosivo… um automóvel que ruge, que parece correr sobre uma metralhadora, é mais belo do que a Vitória de Samotrácia”.
Precisamente naqueles anos, Tuiavii de Tiavea, um chefe indígena das Ilhas Samoa, teve a oportunidade de visitar a Europa e de escrever, com um afiado espírito de observação, uma espécie de reportagem antropológica sobre a tribo dos brancos por ele chamados de papalagui. “Acima de tudo – afirma – o papalagui ama aquilo que não se pode aferrar e que, no entanto, está sempre presente: o tempo. Os papalaguis afirmam que nunca têm tempo. Correm ao redor como que desesperados, como que possuídos pelo demônio e, por onde passam, levam a desgraça e o pavor por terem perdido o seu tempo. Essa loucura é um estado horrível, uma doença que não há médico que cure, que contagia muita gente e leva à ruína”.
Dezoito anos depois do “Manifesto Futurista”, em 1927, Lindbergh conseguiu voar de Nova York a Paris em 33 horas. Trinta e cinco anos depois, em 1961, Gagarin foi para o espaço, e, oito anos depois, em 1969, Armstrong pôs os pés na lua.
Epidemia vem de epídemos: o dia em que o deus chega à cidade. Antes que o coronavírus chegasse à cidade do homem, a cidade, atingida pela mosca da velocidade, produzia cada vez mais rápido para consumir e consumia cada vez mais rápido para produzir. Todo mundo estava correndo descontroladamente de um lado para o outro nos vastos espaços do planeta, pulando sem parar de um trem para um avião, de modo que o tempo nunca era suficiente.
Depois, de repente, o confinamento inverteu a situação: agora, blindados em casa, é o espaço que falta. Para ir de uma parede a outra da sala, de uma sala a outra do apartamento, bastam poucos segundos. Abolido o deslocamento entre a casa e o escritório, eliminadas as reuniões com amigos e clientes, o tempo se dilatou, e agora temos muito mais tempo à nossa disposição do que costumávamos ter. A velocidade não representa mais um valor; a pausa não é mais um luxo; e só quem possui o dom da lentidão pode se salvar com a ajuda da sabedoria, mantendo-se equidistante da paranoia das idas e vindas lotadas e da depressão da solidão sedentária.
No fim das contas, a lentidão e a velocidade são sensações relativas. No “Fedro”, Platão descreve Sócrates idoso e cansado que, em uma tarde ensolarada de verão, se refresca do calor: “Que belo lugar para fazer uma pausa! O plátano cobre tanto espaço quanto a sua altura. Em plena floração, o lugar não poderia ser mais perfumado. E o fascínio incomparável desta fonte que corre debaixo do plátano, o frescor das suas águas: basta o pé para me dizer. Mas o requinte mais refinado é este prado, com a doçura natural do seu declive que, quando nos deitamos nele, permite manter a cabeça perfeitamente à vontade”. No entanto, naqueles mesmos anos, Tucídides diz que os gregos “se afanam com dificuldades e perigos todos os dias das suas vidas, com pequenas oportunidades de desfrute”. Aristóteles despreza os comerciantes pela sua vida sem pausas.
Cinco séculos depois, é assim que Lucrécio descreve um rico romano: “Ele corre para sua casa de campo, chicoteando ansiosamente os cavalos, mesmo que a casa não esteja pegando fogo e ele não tenha que apagar as chamas. Então, assim que toca a soleira, ele instantaneamente boceja e cai em um sono profundo, buscando o esquecimento. Ou vai embora às pressas e com fúria, porque sente falta da cidade. Assim, cada um foge de si mesmo, daquele eu do qual, obviamente, não é possível fugir”.
Nenhum grego e nenhum romano da era clássica jamais viajou a uma velocidade superior à do cavalo ou trabalhou mais de cinco ou seis horas por dia. Nunca dois gregos ou dois romanos conseguiram ver e falar permanecendo a mais de 100 metros de distância um do outro. No entanto, nenhum filósofo depois de Platão ou depois de Sêneca jamais produziu reflexões tão vastas e profundas; nenhum artista depois de Sófocles ou depois de Fídias jamais criou obras-primas tão perfeitas; nenhum homem soube gerir o tempo e a vida de maneira tão equilibrada e com uma hierarquia de valores tão precisa: “A guerra visa à paz – diz Aristóteles –, o trabalho visa ao repouso, as coisas úteis visam às coisas belas”.
Na sociedade industrial, aceleramos tanto os nossos ritmos de vida a ponto de consideramos lentos aqueles guerreiros e aqueles comerciantes que pareciam frenéticos aos gregos. Mas, depois, chegou o coronavírus exterminador e nos prendeu a meses de súbita e inevitável lentidão. Nada de trens, nada de aviões.
A multidão dos atarefados, acostumados a cumprir as suas turbulentas atividades materiais, viram-se forçados a um lento e inusual seminário em tempo integral, propício para o exercício espiritual da lentidão, em que também se encontraram involuntariamente envolvidos as almas mais inexperientes e recalcitrantes à busca interior.
A reclusão e a calma impostas pelo vírus nos forçam a exercitar aquela reflexão que a convulsiva sociedade secularizada nos fizeram desaprender e que agora se revela aos nossos olhos e nos obriga a admitir a diferença entre necessário e supérfluo, consistente e fútil, adulto e pueril. Quanto mais o olhar se acalma, mais sentido ele capta nas coisas que vê e que, antes, às pressas, ficavam indiferentes. Assim, aquelas ideias, aqueles objetos finalmente dotados de sentido oferecem ao nosso pensamento mais espaço para relaxar, porque somente a lentidão é capaz de nos fazer captar e amar até mesmo as coisas mínimas, aquelas que os poetas encontram sem a necessidade de um confinamento: “Benditos sejam os instantes, e os milímetros, e as sombras das pequenas coisas”, invocava Fernando Pessoa.
Infelizmente, a lentidão, assim como o ócio, não é um assunto para principiantes. Requer vocação e treinamento. Mas é uma condição imprescindível para alimentar o espírito criativo, que, segundo o testemunho de Le Corbusier, “só se afirma onde reina a serenidade”.
Domenico De Masi
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