quinta-feira, 4 de abril de 2013

SALTO DO YUCUMÃ VAI DESAPARECER OU NÃO?

Sete Quedas, em Guaíra, Paraná. O maior complexo de cachoeiras do mundo em volume de água desapareceu em 13 de outubro de 1982 com a formação do Lago Internacional de Itaipu. As Sete Quedas eram constituídas por 19 cachoeiras principais, sendo agrupadas em sete quedas. A construção da usina inundou o monumento esculpido pela natureza ao longo de 50.000 anos. 
No dia 31 de dezembro de 1999, quando os fogos de artifício espocavam para celebrar a virada do milênio, os habitantes de 11 municípios da divisa do RS com SC deram adeus a um pedaço da terra onde cresceram. Neste dia, foram fechadas as comportas da Usina Hidrelétrica de Itá, no rio Uruguai. Entre os itens submergíveis, porém, um despertou atenção diferenciada, o Estreito Augusto Cezar, no município de Marcelino Ramos. 
Nesse trecho de 8 km, o majestoso rio Uruguai, que em alguns pontos chegava a ter 500 metros de uma margem a outra, se espremia em um canal de 8 metros de largura por 70 de profundidade. Ali, dezenas de cavernas e pequenas cachoeiras foram lapidadas pelo atrito com a água no decorrer de milhões de anos. Na época de estiagem, o leito deixava à mostra uma ponte de pedra que unia SC ao RS. Tudo isso ficou debaixo das águas definitivamente. 
O mesmo destino aguarda 60% da área do Salto do Yucumã, segundo o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB). Já a Eletrobras, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma que “o salto não será afetado pelas obras”. Localizado no Parque do Turvo, em Derrubadas (RS), o Salto é a maior queda longitudinal do mundo, com queda d’água de 1,8 mil metros de extensão e até 20 metros de altura. Essa paisagem única pode ser sepultada pelo complexo binacional de energia Garabi-Panambi. As usinas formarão lagos que inundarão 96.960 hectares, afetando cerca de 13 mil famílias atinjindo 17 municípios só no RS. 
O projeto das hidrelétricas, localizadas em Alecrim (Panambi) e Garruchos (Garabi), no Rio Grande do Sul, e nas províncias argentinas de Misiones e Corrientes (ver mapa ao lado), é resultado da parceria entre a Eletrobras e a empresa argentina Emprendimientos Energéticos Binacionales (Ebisa). 
A construção das AHEs (aproveitamento hidroelétrico de energia) representa um custo superior a R$ 10 bilhões, com capacidade instalada total estimada em 2.200 MW.

Impacto - O alerta sobre os riscos ao Salto do Yucumã vem do impacto já constatado com a construção das usinas Foz de Chapecó e Itá. “A visibilidade do Salto está menor. Ali, é um afundamento do leito do rio Uruguai e, por conta disso, aquelas cachoeiras ficam visíveis. Com essas novas represas, o Salto praticamente desapareceria”, avisam ambientalistas e autoridades da região.
Além do risco à beleza natural, grupos organizados reclamam da ausência de informações sobre os impactos sociais do empreendimento, que deve iniciar os trabalhos em 2013, com recursos da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento. “Não temos muita clareza sobre as reais consequências, pois poucas informações foram repassadas e as audiências públicas não são muito divulgadas”, critica Neudicléia de Oliveira, da coordenação do MAB. “Se não houver resistência, as construções podem iniciar, tendo em vista os grandes interesses em jogo”, opina ela.

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