quarta-feira, 18 de maio de 2011

GLOBO - A GENTE FAZ PARA VOCE

Na magnífica e volumosa biografia de Adolf Hitler (Hitler, Companhia das Letras,1.077 pág.), o historiador inglês Ian Kershaw atribui à extraordinária capacidade do führer de usar os instrumentos de comunicação – os comícios, o rádio e mais tarde o cinema – para obter o apoio do povo alemão (o Partido Nazista ganhou as eleições de 1933). Assim, suas odiosas políticas racistas, no plano interno, e de conquistas territoriais, no plano externo, geraram o genocídio racial na Alemanha e nos países ocupados pelos nazistas e a Segunda Guerra Mundial.
Se a propaganda através dos meios de comunicação, precários na época, foi capaz de mobilizar uma sociedade culta e desenvolvida como a alemã para objetivos tão nefastos, é lógico que hoje, quando estes meios são extraordinariamente mais desenvolvidos, a influência deve ser ainda maior sobre qualquer agrupamento social.
Mesmo que os objetivos dessa comunicação não tenham a dimensão trágica do que ocorreu na Alemanha de Hitler, é preciso olhar com cautela o que se faz nesse campo, e buscar estabelecer um controle da sociedade – e não do governo – sobre os seus agentes. Esse tema se tornou relevante esta semana a partir da entrevista do diretor geral da Rede Globo, Octávio Florisbal, anunciando que a principal rede de televisão do Brasil pretende adaptar sua programação para atender uma nova clientela emergente, a classe C. Estas mudanças deverão ocorrer na programação de novelas, shows e no telejornalismo.
No caso dos telejornais, o diretor da Globo falou em “cuidar para não colocar em excesso certos temas que não atendem tanto” aos interesses da classe C. É o velho discurso das elites de que pobre gosta mesmo é de feijão com arroz. O filé e o camarão ficam com os ricos. Dentro dessa visão, que a observação do Jornal Nacional mostra que já está sendo posta em prática, vai se dar mais evidência às notícias policiais e aos fatos exóticos, reservando-se os temas polêmicos e importantes para o fim da noite, quando o pobre já tiver ido dormir, porque precisa acordar cedo no dia seguinte.
Com isso, no Congresso, as bancadas ruralista, empresarial, religiosa e de muitos outros interesses que não são verdadeiramente os do povo brasileiro, ficam livres para aprovar o que bem entendem, sem maiores explicações para uma sociedade anestesiada pelas notícias filtradas do Jornal Nacional.
A Globo tem um passado que recomenda uma posição de resistência aos seus objetivos que não são apenas comerciais. Ninguém esquece a sustentação que ela deu ao regime militar e a manipulação da campanha eleitoral que permitiu a eleição de Fernando Collor. É preciso ficar de olho vivo na Globo.

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