segunda-feira, 30 de setembro de 2024

CADÊ A NOSSA DEMOCRACIA?

 


É imprescindível que a população pense com seriedade sobre a historicidade da democracia brasileira, na medida em que candidatos assustadores figuram na liderança a cargos municipais importantes que impactarão a vida dos brasileiros. Estas figuras grotescas não apresentam propostas que beneficiem as condições materiais de existência, sobretudo, da população desvalida. Para permanecerem no poder eles aliam-se à parte podre da elite econômica, cumprindo religiosamente seus interesses.

Os contrastes das más administrações são evidentes nas cidades. As diferenças da qualidade de vida entre os bairros nobres e os da periferia são abissais. Durante suas campanhas, os vulgos outsiders tentam encantar os pobres com promessas que nunca serão realizadas, fingem arregaçar as mangas pelos marginalizados. No entanto, a situação se repete a cada gestão. O curioso é que conseguem enganar os excluídos, sempre presas fáceis a cada novo pleito.

Vivemos em sobressaltos, desde o período da redemocratização do país, como o que recentemente presenciamos no resgate de práticas fora da curva do Estado de Direito, ocorridas no fim do governo passado e que culminaram na tentativa do golpe do dia 8 de janeiro de 2023.

As lembranças da ditadura militar ainda são cultuadas. Milhares de pessoas convencidas pelos extremistas de direita marcharam em direção aos três poderes da República para alvejarem a liberdade. Após mais de trinta anos dos tempos de chumbo praticados pelo governo militar, o país e sua frágil democracia sofre constantes ataques. É desnudado o radicalismo como opção, o fascismo como alternativa.

Por essas razões e por outras não mencionadas neste simples texto, volto a perguntar por onde anda a nossa democracia com todos os episódios antidemocráticos recorrentes, com candidaturas fascistas e seus desejos de poder e de domínio. Pobre povo pobre. Resta-nos desejar que no dia da votação possamos ver essa nuvem insana se afastar dos eleitores.

Termino esse texto prestando uma breve homenagem a uma admirável socióloga e jornalista que nos deixou precocemente nesta semana. Nathalia Urban foi uma incansável lutadora por um mundo livre de opressões de qualquer natureza e justo para todos, por uma América Latina de veias abertas para a democracia. Sua luta nunca terá sido em vão, pois sua práxis humanizadora estará sempre viva em nossa memória. Na sua breve existência ela fez a diferença e inspirou a todos que conheceram seu nobre e significativo trabalho. Nathalia Urban Presente!

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

FELICIDADE.


 A felicidade é um dos bens mais ansiados pelo ser humano. Mas não pode ser comprada nem no mercado, nem bolsa, nem nos bancos. Apesar disso, ao redor dela se criou toda uma indústria que vem sob o nome de auto-ajuda. Com cacos de ciência e de psicologia  se procura  oferecer uma fórmula infalível para alcançar “a vida que você sempre sonhou”.

Confrontada, entretanto, com o curso irrefragável das coisas, ela se mostra insustentável e falaciosa. Curiosamente, a maioria dos que buscam a felicidade intui que não pode encontra-la na ciência pura ou nalgum centro tecnológico. Vai  a um pai ou mãe de santo ou a um centro espírita ou freqüenta um grupo carismático, consulta um guru ou lê o horóscopo ou estuda o I-Ching da felicidade. 

Tem consciência de que a produção da felicidade não está  na razão analítica e calculatória mas na razão sensível e na inteligência emocional e cordial. Isso porque a felicidade deve vir de dentro, do coração e da sensibilidade.      

Para dizer logo, sem outras mediações, não se pode ir direto à felicidade. Quem o faz, é quase sempre iludido. Bem dizia um poeta popular: “Entre o sonho e a realidade é bem diverso o matiz/ Quem sonha felicidade é quase sempre infeliz” A felicidade resulta de algo anterior: da essência do ser humano e  de um sentido de justa medida em tudo.

A essência  do ser humano reside na capacidade de relações. Ele é um rizoma de relações, cujas raízes apontam para todas as direções. Só se realiza quando ativa continuamente sua panrelacionalidade, com o universo, com a natureza, com a sociedade, com as pessoas, com o seu próprio coração e com Deus.

Essa relação com o diferente lhe permite a troca, o enriquecimento e a transformação. Deste jogo de relações, nasce a felicidade ou a infelicidade na proporção da qualidade destes relacionamentos. Fora da relação não há felicidade possível.

Mas isso não basta. Importa viver um sentido profundo  de justa medida no quadro da concreta condição humana. Esta é feita de realizações e de frustrações, de violência e de carinho,  de monotonia do cotidiano e de emergências surpreendentes,  de saúde, de doença e, por fim, de morte.

 ”Se não dá para trazer o céu para terra, pelo menos podemos aproximar o céu da terra”. Eis a singela e possível felicidade que podemos penosamente conquistar como filhos e filhas de Adão e Eva decaídos.

Em todos os caos, o caminho mais seguro é: alguém será tanto mais feliz quanto mais fizer outros felizes e cultivar indignação e compaixão contra as perversidades que ocorrem em nosso país e no mundo e nos esforçarmos em ser amáveis com todos, cuidadosos para com a natureza, solidários para com os desamparados, humildemente sermos amigos do Criador de todas e em fim colocar o amor no centro de nossas vidas mortais.