segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

NÃO CAIR EM TENTAÇÃO

Apesar do calor de mais de 30 graus que teimosamente insiste em aquecer os últimos dias de fevereiro, o ano finalmente começou. O carnaval com suas fantasias, sonhos e sons se foi. As praias pouco a pouco são retomadas pelo silêncio e solidão raramente quebrada pelos lentos passos daqueles e daquelas que já não precisam retornar à cidade e prolongam seu descanso devidamente merecido depois de muitos anos de trabalho.

As escolas retomam suas atividades e seus entornos se enchem de gritos e correrias de crianças que entram e saem em busca do conhecimento e do reconhecimento que ele – todos sonhamos e vendemos este sonho para as futuras gerações – um dia nos dará. As ruas das cidades estão outra vez apinhadas de carros que teimam em empurrar pedestres e ciclistas para fora do espaço urbano. As contas das festas e compras de Natal, fim de ano e carnaval insistem em nos lembrar daquilo que já gastamos e ainda não recebemos.

Dentro de nós, a consciência libertada da euforia do interlúdio estival martela tenazmente as promessas que fizemos para o ano que finalmente está a começar. A promessa de emagrecer, a de chegar mais cedo em casa depois do trabalho e ajudar o companheiro ou a companheira nos afazeres domésticos, a de gastar somente na proporção do salário recebido e não ter que apelar para o cartão de crédito, a de dispor mais tempo para estar com os filhos, com os pais ou com os avós, a de diminuir a quantidade de bebida alcoólica, a de parar de fumar, a de controlar o uso das redes sociais... Promessas que fizemos para nós ou que fizemos para outros, não importa. De qualquer forma, nos incomodam e nos lembram que é preciso recomeçar a vida normal e, trabalhar para que, com um pouco de esforço disciplinado esforço, ela se torne um pouco anormal em relação ao ano que passou.

Afinal, as grandes transformações raramente se dão de forma explosiva, revolucionária, fantástica ou milagrosa. Como nos ensinaram Darwin e Marx, é a acumulação das pequenas mudanças que faz com que, um dia, quando menos esperamos e muitas vezes fora do nosso controle, sejamos tomados pela surpreendente constatação de que já não somos o que um dia fomos e que, contra o renitente pessimismo que muitas vezes afeta o pensamento humano, podemos, sim, contra tudo e contra todos, ser aquilo que sonhamos ser.

Para isto, basta um movimento, um recomeçar, sacudir o torpor do verão que teima em paralisar carne, músculos, ossos e mente e lançar-se, passo a passo – sempre cuidando para não cair na tentação da carreira desabalada que não leva a lugar nenhum – em busca daquilo que sempre sonhamos.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

ALGUNS DIREITOS DO CORAÇÃO


Atualmente se constata fecunda discussão filosófica sobre a necessidade do resgate da razão cordial, como limitação da excessiva racionalização da sociedade e como enriquecimento da razão instrumental-analítica, que deixada em livre curso, pode prejudicar a correta a relação para com a natureza que é de pertença e de respeito a seus ciclos e ritmos. Elenquemos aqui alguns direitos da dimensão do coração.
1 = Proteja o coração que é o centro biológico do corpo humano. Com suas pulsações irriga com sangue todo o organismo fazendo que viva. Não sobrecarregue-o com demasiados alimentos gordurosos e bebidas alcoólicas.
2 = Cuide do coração. Ele é o nosso centro psíquico. Dele sai, como advertiu Jesus, todas as coisas boas e ruins. Comporte-se de tal maneira que ele não precise se sobressaltar face aos riscos e perigos. Mantenha-o apaziguado com uma vida serena e saudável.
3 = 
Vele por seu coração. Ele representa a nossa dimensão do profundo. Nele se manifesta a consciência que sempre nos acompanha, aconselha, adverte e também nos acusa. No coração brilha a centelha sagrada que produz em nós entusiasmo. Esse entusiasmo filologicamante significa ter um “Deus interior” que nos aquece e ilumina. O sentimento profundo do coração nos convence de que o absurdo nunca terá a última palavra no livro da vida.
4 = Cultive a sensibilidade, própria do coração. Não permita que ela seja dominada pela razão funcional. Mas componha-se com ela. É pela sensibilidade que sentimos o pulsar do coração do outro. Por ela intuímos que também as montanhas, as florestas, os animais, o céu estrelado e o próprio Deus têm um coração pulsante. Por fim damo-nos conta de que há um só imenso coração que late em todo o universo.
5 = Ame seu coração. Ele é a sede do amor. É o amor que produz a alegria do encontro entre as pessoas que se querem e que permite a fusão de corpos e mentes numa só e misteriosa realidade. É o amor que produz os milagres da vida pela união amorosa dos sexos e ainda a doação desinteressada, o cuidado dos desvalidos, as relações sociais includentes, as artes, a música e o êxtase místico que faz a pessoa amada fundir-se no Amado.
6 = Tenha um coração compadecido que sabe sair de si e se colocar no lugar do outro para com ele sofrer e carregar a cruz da vida e também juntos celebrarem a alegria.
7 = Abra o coração para a carícia essencial. Ela é suave como uma pena que vem do infinito e nos dá a percepção, pelo toque, de sermos irmãos e irmãs e de pertencermos à mesma família humana habitando a mesma Casa Comum.
8 = Disponha o coração para o cuidado que faz o outro importante para você. Ele cura as feridas passadas e impede as futuras. Quem ama cuida e quem cuida ama.
9= Amolde o coração para a ternura. Se quiser perpetuar o amor cerque-o de enternecimento e de gentileza.
10 = Purifique dia a dia o coração para que as sombras, o ressentimento e o espírito de vingança que também se aninham no coração, nunca se sobreponham à bem-querença, à finura e ao amor. Então ele pulsará no ritmo do universo e encontrará repouso no coração do Mistério, aquela Fonte originária de onde tudo procede e que nós chamamos simplesmente de Deus.

Tem sentido estas recomendações que reforçam o amor.
Em tudo o que pensar e fizer coloque coração. A fala sem coração soa fria e institucional. Palavras ditas com coração atingem o profundo das pessoas. Estabelece-se então uma sintonia fina com os interlocutores ou ouvintes que facilita a compreensão e a adesão.
Procure junto com o raciocínio articulado colocar emoção. Não a force porque ela deve espontaneamente revelar a profunda convicção naquilo que crê e diz. Só assim toca o coração do outro e se faz convincente.
A inteligência intelectual fria, com a pretensão de tudo compreender e resolver, gera uma percepção racionalista e reducionista da realidade. Mas também o excesso da razão cordial e sensível pode decair para o sentimentalismo adocicado e para proclamas populistas que afastam as pessoas. Importa sempre buscar a justa medida entre mente e coração mas articulando os dois polos a partir do coração.
Quando tiver que falar a um auditório ou a um grupo, procure entrar em sintonia com a atmosfera aí criada. Ao falar, não fale só a partir da cabeça mas dê primazia ao coração. É ele que sente, vibra e faz vibrar. Só são eficazes as razões da inteligência intelectual quando elas vêm amalgamada pela sensibilidade do coração.
Crer não é pensar Deus. Crer é sentir Deus a partir do coração. Então nos damos conta de que sempre estamos na palma de sua mão e que uma Energia amorosa e poderosa nos ilumina e aquece e preside os caminhos da vida, da Terra e do inteiro universo

sábado, 27 de fevereiro de 2016

O VALOR DO PERDÃO.

Durante semanas, o dinamarquês Karsten Mathianse, 40 anos, viveu à margem da loucura. Dominado pela fúria, não se alimentava direito, começou a beber para dormir e em sua cabeça uma ideia fixa: matar ou suicidar-se. Durante vinte anos foi feliz com sua esposa Ingrid. Sem motivo aparente, ela o abandou para morar com outro homem, deixando com ele a responsabilidade por dois filhos.

A vida de Rosalyn Boyce, inglesa de 26 anos, desabou. Um homem invadiu seu apartamento e a estuprou, enquanto sua filha de dois anos dormia no berço ao lado da cama.

Todos eles viveram períodos de intensos sofrimentos. Já em vida eles estavam no inferno. Os únicos momentos positivos eram quando acalentavam projetos de vingança. Tornaram-se amargos, desequilibrados e doentes.

O retorno a uma vida normal e feliz só pode acontecer pelo perdão. Foi um caminho demorado e difícil. Em ambos os casos, as vítimas aceitaram um encontro com os agressores, que estavam presos. Por fim, conseguiram perdoar. O perdão foi o grande presente que dei a mim mesmo, afirmou Karsten. Por sua vez, Rosalyn garante: depois que aceitei perdoar, um fardo imenso foi tirado de minha vida; não penso mais no estupro. Ele sumiu como fumaça.

O perdão, tantas vezes recomendado no Evangelho, ganha hoje o apoio total da psicologia e da medicina. A pessoa que se recusa perdoar torna-se doente e desequilibrada. Robert Enright, fundador do Instituto Internacional do Perdão, esclarece: mais que ao outro, o perdão faz bem a nós mesmos. A medicina fala de “ raiva tóxica” alimentada pela falta do perdão.

Perdoar não significa esquecer a ofensa, nem que a atitude errada torne-se certa. Perdoar é uma reconfiguração: é ver o incidente por uma lente mais ampla, com mais compaixão. Perdoar é fazer a paz com o fato, por mais doloroso que tenha sido. È um ato de inteligência porque o passado é imutável, mas podemos vê-lo com uma luz diferente.

Medicina e psicologia vêm, mais uma vez, confirmar a sabedoria do Evangelho. A única maneira de vencer o mal é com o bem. Aquele que se vinga, de alguma maneira, iguala-se ao ofensor. Os gregos antigos diziam que a vingança se constitui no mais refinado prazer que alguém possa ter. Jesus garante que a suprema vingança é perdoar. É preciso perdoar sempre, perdoar até o imperdoável.

No Pai-Nosso, propomos a Deus um acordo: que Ele nos perdoe assim como nós perdoamos. E na cruz, o último gesto de Jesus foi perdoar a humanidade: “Pai, perdoai-os porque não sabem o que fazem”.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

QUE A PALAVRA SEJA O PORTA-VOZ DOS SENTIMENTOS.

Como faz bem ter por perto pessoas bem-humoradas. Elas transformam ambientes e corações. Não sei de onde tiram tantas histórias, nem como incrementam com detalhes que tornam o que é muito simples por demais engraçado. Não sei contar piadas. Acabo rindo o tempo todo. Em algumas situações, acaba-se rindo mais de quem está contando a piada do que da própria piada. É um conjunto que rouba intermitentes gargalhadas: a tonalidade da voz, o jeito de narrar, o envolvimento com o fato, a atenção dos ouvintes.

Num dia desses, por acaso, participei de uma ‘rodada’ de engraçadas anedotas. Algumas me fizeram rir ao ponto de provocar lágrimas. Faz bem para a alma chorar de tanto rir. Uma certa leveza toma conta do ser, quando rimos bastante. Enquanto alguns ainda riam, de forma um tanto suave alguém disse algo que poderia ser motivo de riso, mas que acabou provocando um silêncio reflexivo: foi comentada a morte de uma pessoa. Um do grupo perguntou: “morreu de que?”. O outro respondeu: “sufocou-se com as palavras que nunca disse”. O silêncio falou alto, os olhares se cruzaram, a consciência foi abordada.

As palavras que nunca foram ditas podem sufocar, sim. Não se trata de um incidente repentino. Tem algo a ver com o jeito de ser, postura diante da vida, desconhecimento da própria personalidade. Palavras e sentimentos buscam uma contínua fusão. O que cada pessoa sente, aguarda por expressão. A palavra traz à realidade o que é pensado e sentido. Falar o próprio sentimento, alegre ou dolorido, é uma forma de harmonizar o que vai no íntimo. O ato de desabafar tem um efeito saudável, pois alivia o que, com o passar dos dias, se tornou um peso. A dificuldade em expressar os sentimentos impacta diretamente na qualidade de vida.

A influência cultural, o formato educacional e as objeções com que cada um vai construindo sua história, exercem um papel quase determinante no modo como cada um interage com o mundo. Há pessoas silenciosas, resguardadas em sua própria intimidade. As mais falantes, nem sempre transbordam o essencial. Cada qual com seu jeito, todas com a necessidade de uma ajuda para a utilização adequada da palavra, como expressão do que vai nas profundezas do ser. Os tempos são outros. Ninguém precisa sufocar-se com o que não disse. Que a palavra seja porta-voz dos sentimentos.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

UMA CULTURA CUJO CENTRO É O CORAÇÃO.

A nossa cultura, a partir do assim chamado século das luzes (1715-1789) aplicou de forma rigorosa a compreensão de René Descartes (1596-1650) de que o ser humano é “senhor e mestre” da natureza podendo dispor dela ao seu bel-prazer. Conferiu um valor absoluto à razão e ao espírito científico. O que não conseguir passar pelo crivo da razão, perde legitimidade. Daí se derivou uma severa crítica a todas as tradições, especialmente à fé cristã tradicional.

Com isso se fecharam muitas janelas do espírito que permitem também um conhecimento sem necessariamente passar pelos cânones racionais. Já Pascal notara esse reducionismo falando nos seus Pensées da logique du coeur ( “o coração tem razões que a razão desconhece”) e do esprit de finesse que se distingue do esprit de géométrie, vale dizer, da razão calculatória e instrumental analítica.

O que mais foi marginalizado e até difamado foi o coração, órgão da sensibilidade e do universo das emoções, sob o pretexto de que ele atrapalharia “as ideias claras e distintas” (Descartes) do olhar científico. Assim surgiu um saber sem coração, mas funcional ao projeto da modernidade que era e continua sendo o de fazer do saber um poder e um poder como forma de dominação da natureza, dos povos e das culturas. Essa foi a metafísica (a compreensão da realidade) subjacente a todo o colonialismo, ao escravagismo e eventualmente à destruição dos diferentes, como das ricas culturas dos povos originários da América Latina (lembremos Bartolomé de las Casas com sua História da destruição das Índias) e também do capitalismo selvagem e predador.

Curiosamente a epistemologia moderna que incorpora a mecânica quântica, a nova antropologia, a filosofia fenomenológica e a psicologia analítica tem mostrado que todo conhecimento vem impregnado das emoções do sujeito e que sujeito e objeto estão indissoluvelmente vinculados, às vezes por interesses escusos (J. Habermas).

Foi a partir de tais constatações e com a experiência desapiedada das guerras modernas que se pensou no resgate do coração. Finalmente é nele que reside o amor, a simpatia, a compaixão, o sentido de respeito, base da dignidade humana e dos direitos inalienáveis. Michel Maffesoli na França, David Goleman nos USA, Adela Cortina na Espanha, Muniz Sodré no Brasil e tantos outros pelo mundo afora se empenharam no resgate da inteligência emocional ou da razão sensível ou cordial. Pessoalmente estimo que, face à crise generalizada de nosso estilo de vida e de nossa relação para com a Terra, sem a razão cordial não nos moveremos para salvaguardar a vitalidade da Mãe Terra e garantir o futuro de nossa civilização.

Isso que nos parece novo e uma conquista – os direitos do coração – era o eixo da grandiosa cultura maya na América Central, particularmente na Guatemala. Como não passaram pela circuncisão da razão moderna, guardam fielmente suas tradições que vêm pelas avós e pelos avôs, ao largo das gerações. O escrito maior o Popol Vuh e os livros de Chilam Balam de Chumayel testemunham essa sabedoria.

Participei mais vezes de celebrações mayas com os seus sacerdotes e sacerdotisas. É sempre ao redor do fogo. Começam invocando o coração dos ventos, das montanhas, das águas, das árvores e dos ancestrais. Fazem suas invocações no meio de um incenso nativo perfumado e produtor de muita fumaça.

Ouvindo-os falar das energias da natureza e do universo, parecia-me que sua cosmovisão era muito afim, guardadas as diferenças de linguagem, da física quântica. Tudo para eles é energia e movimento entre a formação e a desintegração (nós diríamos a dialética do caos-cosmos) que conferem dinamismo ao universo. Eram exímios matemáticos e haviam inventado o número zero. Seus cálculos do curso das estrela se aproximam em muito ao que nós com os modernos telescópios alcançamos.

Belamente dizem que tudo o que existe nasceu do encontro amoroso de dois corações, do coração do Céu e do coração da Terra. Esta, a Terra, é Pacha Mama, um ser vivo que sente, intui, vibra e inspira os seres humanos. Estes são os “filhos ilustres, os indagadores e buscadores da existência”, afirmações que nos lembram Martin Heidegger.

A essência do ser humano é o coração que deve ser cuidado para ser afável, compreensivo e amoroso. Toda a educação que se prolonga ao largo da vida é cultivar a dimensão do coração. Os Irmãos de La Salle mantém na capital Guatemala uma imenso colégio –Prodessa – onde jovens mayas vivem na forma de internato, onde se recupera, bilíngue, e sistematiza a cosmovisão maya, ao mesmo tempo em que assimilam e combinam saberes ancestrais com os modernos especialmente ligados à agricultura e a relações respeitosas para com a natureza.

Apraz-me concluir com um texto que uma mulher sábia maya me repassou no final de um encontro só com indígenas mayas em meados de fevereiro.”Quando tens que escolher entre dois caminhos, pergunta-te qual deles tem coração. Quem escolhe o caminho do coração jamais se equivocará” (Popol Vuh).


Por: Leonardo Boff .

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O GIRASSOL

O espetáculo se repete anualmente. Tudo começou quando, num ano desses, um senhor plantou, em forma de fileira, sementes de girassol. As plantinhas cresceram. Os girassóis deram um toque de jardim à horta bem cuidada e equilibradamente regada. Esses espaços conventuais, além de verduras e legumes, têm cheiro, verdadeiros perfumes naturais. Junto aos muros, uma variedade de chás emoldura os canteiros, exalando saúde. Além das hortaliças, há também ervas daninhas. Não tem horta sem algumas pestes, como são popularmente denominadas.

Os girassóis mereceram até registro fotográfico e postagem nas redes sociais. Depois disso, dei mais uma observada: a tonalidade amarela contrasta com o verde da vegetação. Nem pensar que os girassóis vão perder de vista o astro luminoso. O sol, porém, segue seu ritmo circular, verdadeira expressão de amor à terra. Não cansa de aparecer e desaparecer. Diariamente a claridade se despede, cedendo matematicamente espaço à escuridão. O cessar da luz traz a noite, que sugere o repouso, refazendo as energias. Tudo acontece numa perfeita sincronia, apesar das nuvens, que nem sempre têm direção.

O movimento dos girassóis é contínuo. São flores que não só embelezam como ensinam que não faz bem perder de vista a luz. O girassol faz jus ao nome que leva. Contemplando as belas plantas da horta, lembrei que a vida é verdadeiramente vida quando está em movimento, quando se deixa guiar por algo maior. Caminhando por este mundo é imprescindível ter uma direção a seguir. Além disso, a flexibilidade poderá ajustar posturas, harmonizar diferenças e reagrupar a esperança.

As pessoas deveriam ser parecidas com os girassóis. Talvez menos gente se perderia em alguns caminhos que não levam a lugar nenhum. Não basta estar em movimento, é necessário saber onde se quer chegar. Neste sentido, a espiritualidade sempre será um jeito criativo na descoberta do sentido da vida. É incrível como a fé permite uma profunda experiência de humanização. A transcendência reaviva a luminosidade, redimensiona os valores e confirma o quanto vale a pena viver. Os girassóis, com esse sol tão forte, vão secar. Um dos viventes guardará as sementes. No próximo ano, elas serão lançadas ao solo. Na horta novamente, outros girassóis florescerão.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O BEM E O MAL

A mentalidade de que o bem e o mal se opõem e se excluem absolutamente e que há uma luta do bem contra o mal, não para de produzir fanáticos e intolerantes. Essa postura simplista, contudo, é tão insustentável que não resiste ao mínimo de um exame cuidadoso e criterioso. De forma aforística e provocativa vejamos como nem tudo é preto no branco.

Você para no sinal de trânsito e uma criança te aborda pedindo esmola. Você tira umas moedas e alcança ao menino que entrega ao pai para comprar cigarro ou para comprar, na melhor das hipóteses, leite advindo da tortura da vaca. Sim, vaca leiteira vive permanentemente sob tortura. Não sabia?

Você sabia que o ato de comprar um ipad ou um iphone, ou qualquer aparelho celular de alta definição, é um ato de maldade para com as crianças exploradas no Congo que são escravizadas para extrair um metal (tântalo) indispensável para a fabricação desses aparelhos? Sim, a alta tecnologia não é inocente e nem ecologicamente correta...

A carne, leite e ovos com que você, pelo esforço, trabalho e amor compra para seu filho, até com orientação médico que dizem serem esses produtos bons para a saúde, estragam sua saúde mental, pois os viciam em uma dietética que é cruel para os animais e dispensável para a vida humana.

A mulher passa todos os dias na frente da nossa casa alimentando com ração os cachorros abandonados na rua. Parece um belo gesto. Ela gasta do seu próprio bolso e banca a gasolina do carro passando a alimentar os animais abandonados nas ruas. Parece nobre! Pois eu digo e tenho que dizer, na boa fé e na boa intenção ela alimenta o abandono e o sofrimento. Não quero que os animais abandonados nas ruas morram de fome...! A chance de ser mal entendido aqui é enorme...

A jovem de bem compra seus cosméticos que a embeleza e, sem saber, alimenta a indústria que se utiliza de testes cruéis para com os animais sem haver mais necessidade para o uso do modelo animal para tal fim. A beleza custa-nos caro, mas mais cara custa ao animal...

Você e eu compramos ou assinamos algum jornal ou revista de grande circulação e sequer desconfiamos que patrocinamos assim o inimigo dos pobres da terra e dos que lutam por direitos de cidadania que, por não terem as armas e poder dos grandes, organizam-se em protestos e atos de pressão e por conta disso são chamados e tachados, pelos mesmos jornais e revistas que alimentamos, de vagabundos, baderneiros, arruaceiros, agitadores etc. Esses qualificativos jamais aparecem na identificação dos sonegadores de impostos, empresários rurais que ainda mantém jovens pobres sob regime de escravidão, empresários que violam os direitos humanos etc...

Fazemos o bem e salvamos nossa alma quando compreendemos e justificamos aborto em anencefálicos, aborto com vítimas de estupro e aborto cuja gestação represente perigo de morte da mãe. Praticamos um bem quando matamos em legítima defesa. Não é estranho? Praticamos um bem quando castigamos os filhos para que sejam educados, mesmo na dor, para a justiça e para o bem. Nem tudo é preto no branco!

Muitas vezes colaboramos com o mal, pensando fazer o bem. Muitas vezes fazemos o bem, achando que estamos fazendo o mal. Quase sempre nos achamos do bem, mas eu estou desconfiado de que estamos todos misturados com o mal....Não é não?

domingo, 21 de fevereiro de 2016

A PRAIA...

Até hoje não me deparei com nenhum estudo sobre as razões da fascinação do ser humano pela praia. Estranho que um fenômeno sociologicamente relevante não tenha entrado no radar de antropólogos, sociólogos, psicólogos, economistas, cientistas políticos... Afinal, o deslocamento anual de milhões de pessoas para o litoral é algo socialmente relevante que deveria ser incluídos nos estudos acadêmicos.

Principalmente aqui no Rio Grande do Sul em que, aparentemente, são poucas as razões para deslocar-se até as águas do Atlântico. Por que tantos insistem em enfrentar a água constantemente gelada, ondas contínuas e irregulares, areia esburacada, o nordestão implacável, águas-vivas de todos os tamanhos e até algumas variações de cores, cães sem dono e com dono circulando livre e impunemente pelas areias, falta de salva-vidas nas guaritas, banheiros raros, distantes e infectos, moradores das cidades fantasiados de gaúchos que vão em insana cavalgada sujando as areias com esterco em que proliferam moscas e outros animais por semanas e semanas?... E mesmo assim tanta gente insiste em ir às “praias” gaúchas? Inclusive eu, não desisto de, a cada ano e todos os anos, passar pelo menos uma semana por lá?

Se alguém tiver alguma hipótese a considerar, me comunique, por favor. De minha parte, em um momento havia considerado a possibilidade de que fosse por razões econômicas. Vai-se ao Cassino, Cidreia, Tramandaí, Imbé, Capão, máximo Torres, porque é mais barato. Santa Catarina, onde, de fato, há praias de verdade, seria muito caro para o bolso dos gaúchos... Mas vendo o modo como os veranistas, do Chuí ao Mampituba, se comportam no veraneio, tanto à beira-mar como nas festas, restaurantes, bares, casas e as mansões e condomínios que fazem inveja a Punta e Parati, esta hipótese fica descartada. Mesmo não universalizável, o que se assiste no litoral gaúcho é um verdadeiro “veraneio ostentação”. A hipótese da economia fica, pois, descartada.

A outra a considerar é o atávico gosto entre nós cultivado ao longo das décadas e séculos de privilegiar o que é nosso. Aqui tudo é diferente, especial e melhor que no “resto do Brasil”. E dessas especificidades gaúchas fariam parte também as praias. Assim que podemos afirmar que nenhum outro estado tem o mar tão frio como o nosso, um nordestão igual ao nosso, águas-vivas tão multitudinárias como as das nossas praias, só aqui se permitem cachorros a beira-mar atacando as bolsas e transmitindo tudo o que é doença, da sarna ao bicho geográfico, unicamente nas nossas praias as pessoas são obrigadas a entrar no mar ou esconder-se nos cômoros quando alguma necessidade fisiológica premente não pode ser contida, não há em nenhum outro estado um desfile de cavalos pela praia para embelezá-la com montículos de esterco e rastros de urina... Ou seja, nossas praias são tão especiais que não podemos trocá-las pelas de qualquer outro estado do Brasil ou até do Caribe, mesmo sendo mais barato uma semana de hotel em Arruba que em Torres, uma cerveja em Natal que em Arroio do sal, um churrasco em Fortaleza que em Cidreira!

Ah! E nossas praias são tão especiais que nem os argentinos ficam por aqui. Eles passam e vão direto a Santa Catarina. Imagina! Elas são só para nós e não queremos reparti-las com mais ninguém. Mesmo que isso pudesse trazer mais recursos para os negócios turísticos e, consequentemente, benefícios para as cidades. Imagina se eles chegassem a afirmar que nossas praias são parecidas com as da Patagônia...

Mas essa é apenas uma hipótese. Falta comprovação científica. Espero que alguém se interesse pelo tema e vá fundo na questão. Ficaria feliz em ser desmentido. Mas temo não sê-lo. Tanto por culpa da natureza que assim fez nosso litoral como pelo nosso atávico instinto de nos considerarmos especiais diante do “resto do Brasil”. Até nas praias.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

A IMPORTÂNCIA DOS SÍMBOLOS

Os símbolos fazem parte da cultura. Toda sociedade tem seus símbolos. Nas religiões os símbolos concentram valores imensuráveis. O mercado vende pela força dos seus símbolos. Há símbolos para todos os sentidos da vida: de vitória, de alegria, de gozo, de sofrimento, de morte, etc. Em nosso país, em 2016, um símbolo muito divulgado será o dos Jogos Olímpicos. Sediar o evento Olimpíadas é uma oportunidade para congregar paz, respeito, tolerância entre pessoas e povos, como propõe seu símbolo.

Todo símbolo tem sua sabedoria, propósitos, valores. Uma característica desses sinais é sua relação com a história. São criados na intenção de não desaparecer da história ou retroceder no tempo. Seu objetivo é emitir inexprimíveis e extraordinárias ideias e assimilação de sua doutrina. Destarte, o termo símbolo — no grego symbolon — designa um significante de realidade concreta ou pode representar algo abstrato. O símbolo é sempre algo que representa outra coisa ou indica algo para alguém. Então, ele comunica.

Linguagem não lhe falta. Imprime caráter de relação com o transcendente, sem perder relação com determinado grupo e contexto histórico. No caso da cruz do cristianismo, representa a imagem do Cristo morto. Por isso, a cruz para um cristão sempre vai levar a incomensurável revelação de Deus na morte de Cristo. Contudo, para outros a cruz pode representar o sofrimento da vida, a dureza da condição humana e a crueza que afronta os humanos. Portanto, seja como for, para os letrados e para não cultos os símbolos sempre representam algo.

Em nossos dias há uma grande proliferação de novos símbolos. A sociedade moderna sabe fazer uso de uma forte relação dos símbolos com a vida. Os símbolos têm o poder de conectar as pessoas por sua linguagem de persuasão. Como ninguém, o mercado investe na persuasão do consumidor com produtos em oferta através de símbolos criativos. No caso, o símbolo das Olimpíadas em solo nacional proporciona reflexão em dimensão de valores.

O símbolo dos Jogos Olímpicos é constituído por cinco anéis entrelaçados com as cores azul, amarelo, preto, verde e vermelho sobre um fundo branco. Foi criado em 1913, pelo Barão Pierre de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos modernos. Ele representa os cinco continentes do mundo que são conquistados para o Olimpismo e dispostos a aceitar uma competição saudável para toda humanidade. Em 2016, sediando as Olimpíadas, pode representar um momento novo para a nação brasileira tão espoliada em política pública e em patrimônio ético e social.

O poder do esporte leal pode vir a fortificar uma nova consciência humana pelo bom, belo, verdadeiro, a superação de males que assolam a esperança de justiça, paz social e bens coletivos. O símbolo olímpico em nosso solo poderia inserir nas mentes uma verdadeira crença de que somos capazes de um país sempre melhor para todos os brasileiros.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

PRECISAMOS UNS DOS OUTROS

Homem algum é uma ilha, afirmou John Donne. Somos seres sociais, convivemos e precisamos uns dos outros. Todos necessitamos amar e ser amados. Mesmo assim, a vida está cheia de desencontros. Alguns saem silenciosamente de nosso convívio, outros batem com violência a porta e mesmo jogam pedras. Por vezes não sabemos porquê e achamos que os outros são os culpados.

As empresas, seguidamente, fazem pesquisas sobre os clientes, o grau de satisfação ou de rejeição. Recente pesquisa mostra porque as empresas perdem clientes. Apenas 1% dos clientes é perdido por morte. As mudanças de endereço são responsáveis pelo sumiço de 5% dos clientes. Os preços e outras vantagens conduzem cerca de 10% dos clientes para os concorrentes. Percentual um pouco maior – 14% - é pedido pelo não atendimento de reclamações. Por fim, nada menos de 65% dos clientes são perdidos porque foram atendidos com frieza ou indiferença. Em outras palavras, foram mal atendidos. Isto dá um percentual de quase 80% dos clientes perdidos por mau atendimento.

Isso não vale apenas para estabelecimentos comerciais. Vale para todos os grupos que dependem do público. Vale para uma paróquia, uma barbearia, uma associação de moradores; para grupos de oração, para um hotel, para um restaurante... Alguns reclamam, mas a maioria vai embora e não retorna mais. E ainda se encarrega de falar mal da instituição, em média, para mais de vinte pessoas.

São muitas as maneiras de perder um cliente. A apatia da pessoa encarregada de atender o cliente, o mau humor, a consulta constante ao relógio e mesmo dar a impressão que está fazendo um grande favor. Outras atitudes ou conselhos: retorne na próxima semana, nosso sistema de computação caiu, o responsável está de férias, só depois do feriadão, está no fim do expediente...

A solução está na atitude oposta: demonstrar ao cliente que ele é importante e uma solução será encontrada. E se for preciso optar pela negativa, existem muitas maneiras de dizer não. Um não, dito de maneira amigável, fará o cliente ter certeza que foi bem atendido, que foi levado a sério. Se possível, indicar uma alternativa.

Jesus foi estrategista. Ele sabia como vender o seu produto. A regra de ouro: trate os outros da maneira como gostaria de ser tratado; faça aos outros aquilo que gostaria que os outros fizessem a ti (Mt 7,12). Até neste ponto Cristo se revelou excelente estrategista. Não por interesse, mas por amor, por respeito à pessoa. Francisco de Assis tinha uma posição: o irmão é sempre maior que nós.

A constatação de cada dia revela que as pessoas – clientes, amigos – é quase sempre por acaso que entram em nossa vida, mas não é por acaso que permanecem.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A VIDA PRECISA DE ENDEREÇO

A vida precisa de endereço. A localização geográfica é imprescindível. Ter um endereço é estar situado, é ter dignidade por ter moradia. Para conseguir adquirir um endereço, muitos demoram quase a vida inteira. Outros, apesar de todas as lutas, só conseguem locar um endereço. Há também os que não se preocupam com endereço. Tempos atrás, visitei um humilde apartamento de uma senhora de 82 anos. A felicidade era tanta que chegou a exclamar: ‘pensei que iria morrer sem poder dizer essa é a minha casa!’ A realização era visível. Agora ela tinha um endereço definitivo. Os dias exigentes ficaram no passado, lembranças remotas.

Ter um lugar para morar faz parte daquelas necessidades que dignificam a vida. É uma questão de justiça social poder recolher-se num espaço que garanta espontaneidade e bem-estar. Quando alguém consegue um endereço, mais ou menos definitivo, a liberdade se expande, a serenidade se instala. É a realização de um sonho. Quase um privilégio, pois nem todos têm acesso à casa própria. Conquistar um lar deveria ser um direito universal. O fator econômico tem dificultado e até impedido tal sonho. Há tantos que se obrigam fazer da rua o seu único endereço.

Além de um endereço residencial, todos necessitam de um lugar no coração de alguém. Não pode ser um acampamento, a ser desfeito lá adiante. Deve ser um lugar onde o amor inspire proteção. Há tantas formas de amor: materno, filial, paterno, conjugal. O amor-amizade é um jeito leve e criativo de estar na existência de outra pessoa, sem ser hóspede. O amor transforma qualquer endereço num ponto turístico, numa obra encantadora, numa referência que dispensa qualquer descrição.

A convivência familiar é o endereço indicado para alcançar à vida o que existe de mais precioso: a felicidade. A vida se encontra nos laços da pertença, no abraço que acalenta, no vigor que garante as escolhas, nos aplausos que descortinam novos horizontes. Ter uma família como endereço é estar preparado para crescer, superar e celebrar. O que é sonhado nas dependências de um lar acaba alcançando a eternidade. Às vezes são miúdos detalhes, o suficiente, porém, para marcar a existência. Não importa a idade, a vida precisa de endereço para embalar a liberdade ao ponto de permitir sonoridade à espontaneidade.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

UM DIA SÓ NOS RESTARÁ AQUILO QUE DAMOS

O gênio da lâmpada, que satisfaz os pedidos, povoou os sonhos de minha infância. Adulto, entendi que os sonhos podem ser realizados, desde que aceitemos pagar seu preço. Entendi que o futuro não é algo que vai acontecer, mas é construído por nós mesmos. O destino não está escrito em nossa fronte, mas passa por nossas mãos.

Três amigos, no final de uma festa, tiveram a visita do gênio da lâmpada. Ele não agia conforme o imaginário e deu a cada um deles um buquê de rosas. Em seguida desapareceu. Os amigos olharam-se espantados. Tudo parecia sonho, mas as rosas eram reais. Sem palavras, deixaram o local.

O primeiro amigo, após caminhar algumas quadras, amaldiçoou sua falta de sorte. Uma única vez na vida o gênio se apresenta e deixa apenas algumas flores. Havia um depósito de lixo e ele jogou ali as malditas flores. Outro amigo levou para casa as flores, colocou-as num vaso na sala e foi dormir. O terceiro amigo foi bater à porta da casa de seus amigos. E a cada um deles ofertou uma rosa. Na caminhada teve a impressão que as rosas não terminavam nunca.

No dia seguinte, os três amigos encontraram-se para comentar a visita do dia anterior. E, de novo, o gênio apareceu. O que você deseja, perguntou um deles? “Eu desejo que as rosas de vocês se transformem em ouro”, disse ele antes de desaparecer.

O ingrato correu até o lixão, mas suas rosas haviam desaparecido. O segundo amigo foi até sua casa e lá estavam as rosas transformadas em ouro. Ao regressar à sua residência, o terceiro personagem foi saudado com alegria por muitos dos seus vizinhos, felizes com a rosa que haviam recebido. E, em sua casa, rosas de ouro amontoavam-se em toda parte.

Vamos esquecer o gênio e ficar com a simbologia. As rosas da lenda podem significar muitas coisas: o amor, a partilha, a generosidade, o tempo gasto com os outros... O ingrato, que não valoriza a família, os amigos, os dons recebidos, nunca irá desenvolvê-los e ficará de mãos vazias. O conformado terá uma recompensa proporcional à sua medida, muito pequena. Mas o generoso, aquele que não tem medo de arriscar, de semear, de partilhar, de apostar nos outros, receberá tudo multiplicado

Um dos maiores profetas de nosso tempo, Martin Luther King, afirmou: “Perdi tudo o que eu guardei em minhas mãos, mas o que coloquei nas mãos de Deus, ainda possuo”. É isso o que ensina o Evangelho quando aconselha “saber perder”. Um dia, nos restará só aquilo que damos.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

DEFENDER A HUMANIDADE EM SUA DIGNIDADE.

Atualmente o que não faltam são temáticas para a humanidade refletir, dentre as quais, as crises. Como se não bastassem os transtornos que causam para a humanidade, as crises são extremamente propagadas em meios de comunicação social. Da forma e intensidade com que são divulgadas alguém parece estar a tirar proveito da situação. Com certeza, servem como um meio de resignação da população a um panorama de manipulação social. Ante a situação é preciso defender em primeiro lugar a vida das pessoas.

Quando alguém é marginalizado do círculo das relações sociais consideradas dignas tem como consequência a perda de identidade pessoal e social. Sabe-se que seu caminho será o anonimato, provavelmente o das favelas. Numa sociedade de classe social a tendência é de crescimento da discórdia. É incontroverso que alguém ao se encontrar nesta situação social é atacado em sua própria dignidade. O sofrimento é inevitável ao serem as pessoas submetidas a uma condição sem possibilidades de escolhas.

A crescente concentração de capital em poucas mãos tende a aumentar o sofrimento de quem está no anonimato e na marginalidade. Por conseguinte, a crise econômica provocada pela política de livre mercado tem fomentado na última década o distanciamento de milhões de pessoas de condições de vida dignas. Pior, o crescente pauperismo desta gama da humanidade não tem atacado e nem perturbado a consciência de quem o provoca, os quais continuam privilegiados em suas posições sociais. Por sua vez, enquanto a luta social por maior distribuição de renda não despontar no caminho dos excluídos e marginalizados, o cenário mundial é de uma humanidade resignada que não combate e nem contesta com resistência. Diante do quadro social de poucos privilegiados e muitos desfavorecidos é preciso afirmar insurreição de ativos movimentos sociais por dignidade humana. As consequências ao não contrapor a perda de dignidade, a crise do sistema econômico mundial, incluem levar ao extermínio milhões de seres humanos. Certo é que o futuro da humanidade torna-se nada esperançoso ao silenciar e submeter à resignação social milhões de pessoas. O sistema capitalista, em nome da economia, coloca na retaguarda o valor das pessoas. Ao renegá-las ao segundo e até terceiro plano em escala de valores, o sistema financeiro capitalista cria caos e sofrimento aos que vivem na condição de anonimato e abandono social. Como se não bastasse a situação de indiferença humana, a poderosa mídia tem cumprido o papel de manipular consciências ao defender as políticas econômicas excludentes. O cruel sofrimento dos excluídos leva a crer que a alternativa mundial no momento é defender o mais precioso patrimônio, a humanidade em sua dignida

domingo, 14 de fevereiro de 2016

A ÉTICA NO DIA A DIA

A ciência moderna tem estabelecido diferenças de temática sem conceitos claros. A natureza da reflexão científica é determinar maior compreensão do objeto em questão e dirimir dúvidas sobre práticas específicas. No caso das temáticas da ética, da moral e do direito, embora tenham vínculos, há diferenças entre elas, aponta a ciência. Devido a sua importância, a produção científica tende a acontecer incorporada a um conjunto de deveres e de responsabilidades e assim auxiliar um bom desempenho em todos os campos, ofício que dela se espera.

Na reflexão das ações éticas, morais e do direito realizadas no cotidiano, exige-se que haja o mais adequado comprometimento e deveres a cumprir. Nessas ações cotidianas fundamentais é imprescindível estar sempre bem informado. Exige-se que, além do conhecimento de seus aspectos teóricos e práticos, haja absoluta aplicação nas dimensões legais e normativas. Então, ao cidadão contemporâneo pressupõe-se que tenha em mente uma série de atitudes, ainda que não tenha a clareza da gravidade de infringir certos códigos éticos, morais e de direito. Para sua aplicação, são considerados conhecidos e comuns a todos os comportamentos e atividades que uma pessoa pode exercer ou não.

Portanto, a postura ética, moral e de direito não fica restrita apenas às tarefas que foram dadas ao cidadão, às pessoas ou ao profissional, mas inclui contribuir para o engrandecimento das ações humanas. Neste sentido, a moral e o direito contribuem com as regras que estabelecem condições para as ações humanas, ainda que ambas se diferenciem. No tocante à moral, são regras que visam o bem-viver das pessoas e que ultrapassam fronteiras geográficas e culturais. Ao direito, cabe estabelecer o regramento de determinada sociedade. Isto é, suas leis valem para uma base territorial. Quanto à ética como ciência, se ocupa da reflexão do que é correto ou incorreto, bom ou mau, adequado ou inadequado, justo e injusto. Isto é, a reflexão ética discorre sobre as regras estabelecidas pela moral e pelo direito. No contexto atual há um anseio crescente por ver na sociedade um comportamento ético adequado, essencial para o crescimento da humanidade. Em suma, a ética faz parte de nosso cotidiano e deve ser um compromisso permanente de todos.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

A ORIGEM E A ESCOLHA

Nas eleições de 1989, a Nação tomou conhecimento, horrorizada, de que Lula, o operário de origem nordestina, tinha um som três em um.

Como se atrevia? A sua condição de integrante da nossa Senzala exigia que ele tivesse, no máximo, um modesto radinho de pilha. Seu adversário, Collor, bem-nascido na Casa Grande, podia ter o som que quisesse. Afinal, desigualdades e privilégios herdados desde as capitanias são o negócio e a alma do Brasil. É algo natural.

Agora, a Nação toma conhecimento, de novo com horror moral, que Lula frequenta um sítio em Atibaia, onde pesca lambaris e tilápias a bordo de um nababesco bote de R$ 4 mil. Não bastasse, Lula teria tentado comprar um apartamento a beira-mar. Tentou e não comprou. Mas o horror moral permanece. Como se atreve? Tendo a sua origem em nossa Senzala, Lula poderia almejar, no máximo, uma casinha do Minha Casa Minha Vida, quiçá uma bucólica palafita, em alguma periferia infecta.

Agora, imaginem se essas “acusações” fossem esgrimidas contra algum grande político da oposição, como FHC ou Aécio. Seriam motivo de chacota generalizada, é claro. Mesmo se insinuassem, sem provas, como fazem com Lula, que tais imóveis teriam sido reformados por alguma empreiteira, ninguém acharia nada de mais.

Por quê? Porque empreiteiros, grandes empresários e destacados políticos conservadores fazem parte da mesma classe social. São provenientes da nossa Casa Grande. Têm os mesmos interesses. São “amigos”, são “sócios”. Moram nos mesmos bairros, frequentam os mesmos lugares. Estudaram nos mesmos colégios.

Assim, quando se revelou que a estrada da fazenda de FHC teria sido construída por uma empreiteira, a nossa destemida imprensa não achou nada de mais. Também acham natural quando tomam conhecimento que FHC frequentaria luxuoso apartamento em Paris, propriedade de um “amigo”.

Agora, imaginem se tais informações fossem relativas a Lula. Que a estrada para o sítio de Atibaia tivesse sido construída por uma empreiteira. Que Lula frequentasse apartamentos na Avenue Foch. Ou, ainda, que no sítio de Atibaia tivessem mandado construir um aeroporto com verba pública. Qual seria a reação da nossa isenta e profissional imprensa? Não é preciso muito esforço de imaginação, não é?

No caso de políticos bem-nascidos e conservadores, essa promiscuidade entre poder econômico e poder político é considerada natural. Ela está legitimada pela origem social e até mesmo por relações pessoais.

No caso de Lula, político da Senzala, essa relação, mesmo que ocasional e distante, será sempre considerada corrupta. Lula pegou carona num jatinho de um empresário? “Aí tem”. Aécio fez a mesma coisa? “Nada de mais, os caras são amigos, sócios”. Lula adoeceu? “Tem de se tratar em hospital público e frequentar filas do SUS. Afinal, quem está pagando essa conta?” Figueiredo ficou doente? “Tem de mandar ele para o exterior, se tratar num hospital de ponta.”

FHC defendeu nossas empreiteiras na exportação de serviços e ainda elogiou o Odebrecht? “Tudo bem, como estadista, ele estava defendendo os interesses do país e de suas empresas”. O Lula fez a mesma coisa? “Ah! Aí tem, mesmo! O petralha deve ter ganhado uma baba de propina para fazer isso.”

O mesmo vale para os partidos. Partidos da Casa Grande podem ter relações estreitas com o poder econômico. Partidos que tiveram sua origem na Senzala, não. Nesse último caso, qualquer relação será corrupta. O PSDB e seus candidatos receberam grandes doações de empreiteiras? “Natural. Doaram por acreditar numa causa justa”. O PT também? “Ah! Isso aí só pode ser propina disfarçada de doação legal.”

E o que é mero pecadilho em um pode se transformar num enorme escândalo em outro. O PSDB montou um esquema de caixa dois de campanha? “É fato corriqueiro, um erro isolado, que deve ser julgado, sem alarde, na justiça comum”. O PT usou do mesmíssimo esquema? “Ah! Nesse caso, trata-se do maior escândalo de corrupção da História do Brasil! Tem de ser julgado, com enorme alarde, pelo Supremo.”

O PSDB pedalou? “Tudo bem. Estavam tentando ajustar o Orçamento e cumprir seus compromissos de governo”. O PT pedalou também? “Ah! Aí tem. Justifica o impeachment.”

Entretanto, o problema maior de Lula, para os nossos reacionários neoudenistas, não está na sua origem, está nas suas escolhas.

Lula não é apenas um político oriundo da nossa Senzala. Lula fez a escolha fatal de ser um político para a Senzala.

Lula tomou a decisão de incluir a Senzala na Casa Grande. De incluir os excluídos. De eliminar a pobreza. De reduzir a nossa desavergonhada desigualdade. De combater atávicos privilégios.

Lula cometeu o erro imperdoável de combater nossa principal e histórica corrupção: a miséria e a desigualdade.

O grande erro de Lula foi ter tentado transformar nosso capitalismo selvagem num capitalismo minimamente civilizado. Sonho da clássica socialdemocracia, pesadelo de nossa elite predatória e excludente.

Tivesse Lula mudado de lado, governado exclusivamente para Casa Grande, como sempre se fez, ainda assim ele seria um outsider, um penetra na festa dos “donos do poder”. Mas seria um penetra tolerado. Cumpriria, em nosso sistema político, a mesma função que o isolado articulista progressista cumpre num jornal maciçamente conservador: legitimar o conservadorismo sob o disfarce da pseudopluralidade política.

Porém, como fez a escolha que fez, Lula não é apenas um penetra, é um perigoso subversivo. Ainda mais agora, quando a crise mundial impõe, aos olhos dos verdadeiros donos do poder, a volta da desigualdade e do desemprego como condição sine qua non para a retomada do crescimento.

Lula, com sua possível candidatura em 2018, ameaça a recomposição das grotescas taxas de lucro. Esse é o ponto. É isso que verdadeiramente escandaliza e amedronta as nossas elites. Não é o “triplex” que não obteve; é a terceira vitória eleitoral que fatalmente obteria, caso não seja impedido. O problema é o “triplex” político; não o apartamento no Guarujá.

Lula é o grande obstáculo à pretendida restauração neoliberal, que ameaça varrer com todas as experiências progressistas recentes da América Latina.

Por isso, deve ser destruído, custe o que custar.

Para isso, não são necessárias provas, não são necessários sequer indícios.

Basta a cortina de fumaça de suspeitas constantemente alimentada pela fogueira midiática do autodefinido maior partido de oposição e pela ação investigativa partidarizada de autoridades que não têm pejo de se desfazer de qualquer resquício de republicanismo. Basta levantar suspeitas até sobre o proletário isopor das pescarias.

Basta o ódio da oposição sem propostas que, quem diria, acabou no Guarujá.

Basta brandir, aos quatro ventos, a origem e a escolha.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

NOVOS PARADIGMAS

Há muitas maneiras de ver e interpretar a história. Os cientistas políticos a veem a partir da conjuntura política. Os economistas a interpretam com base na situação econômica. Os antropólogos dão destaque aos humanos. Os teólogos pensam a história na relação homem e Deus e vice-versa. Todos buscam compreender a história conforme as ciências. Mas, o mais importante é perguntar-se com que perspectiva atua-se na história.

O termo história, do grego, significa pesquisa ou conhecimento. O primeiro a usar o termo pesquisa foi o grego Heródoto. Tucídides o usa como método crítico de análise dos fatos acontecidos e realizados pelo homem. Em estudos contemporâneos o termo é aplicado à história humana. É a ciência que faz o registro evolutivo das sociedades humanas. A história como ciência tem por fim estudar o homem e sua ação no tempo e no espaço.

Por outro lado, entende-se a história como o lugar em que o homem pode fazer a proclamação de uma parusia, a vinda de algo. Isto é, o lugar visível do homem realizar projetos. Se assim compreender a história, o tempo presente está relacionado com as coisas futuras. Ou seja, o que se pensa no presente tem influência de algo possível de realização no futuro. Logo, a história também é um processo de construção do passado, do presente e do que virá a ser no futuro. E neste processo todo ser humano participa e colabora com a história da humanidade e da sociedade.

Então, retomamos aquilo que cada um pensa e aplica neste processo da história. Desse modo, todas as leituras de diferenciadas ciências podem aplicar alternativas a levantar caráter mais promissor para os dias que virão. Os humanos podem conceber ciclos e ciclos para a história da humanidade, claro, em avanços. Quanto mais projetar que povos, nações e homens em tempo presente são capazes de algo novo, será possível substituir fracassados projetos por ações destinadas a aprimorar avanços. Em tal direção, a história como ciência oferece ao sujeito histórico, o homem, afigurar-se consciência corroborativa ao momento presente, sobretudo em momentos de dificuldades. A história como ciência não aprova a descrença sem a descrença do próprio historiador, o homem.

A história como lugar do acontecimento pode afiançar que a efemeridade das crises depende muito da crença nela aplicada. Para os cientistas, políticos, economistas, teólogos, antropólogos, sociólogos, é sábio interpretar o momento histórico à luz de novos paradigmas. É possível contribuir com visões e análises que revigorem crenças de que o maior sujeito da história do terceiro milênio é o homem. Um ser capaz de propor nova direção à história, mais na linha da cooperação, solidariedade, da justiça social, bem coletivo, preservação da natureza, dignidade humana.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

OS ALICERCES DA CULTURA

As coisas se relacionam umas com as outras. Assim é com todas as coisas. A fé cristã significa ter profunda relação com o Deus crucificado. A aprovação de uma ideia é assegurada por ter boas intenções. A esperança, por acreditar em algo que é positivo. A honestidade, por ter muito de verdade. O mesmo acontece à cultura. Ela tem seus alicerces. Na atualidade, a cultura secular se relaciona pelos princípios da produtividade e do prazer. Pois bem, participar desta cultura é no mínimo desafiador para quem deseja ser diferente e manter importantes valores da tradição.

A partir do exposto, estudiosos da cultura atual afirmam que a cada quatro anos renovam-se os conhecimentos adquiridos. Tal fato e afirmação são no mínimo impactantes. Sem dúvida, ainda que não precise em grau e velocidade a mudança cultural, esta tende a identificar-se como a produtividade e o prazer. A princípio, a cultura da produtividade caracteriza-se pela mudança total. Espera-se sempre pela próxima novidade.

Para uns a veloz mudança de cultura é positiva e construtiva e para outros pode ser destrutiva. A grande força da mudança de era é o avanço tecnológico. Isso, no entanto, pode facilitar e harmonizar as pessoas, ambientes, ocupações, trabalhos. Para isto, basta ter condições de acesso e domínio da tecnologia. Considerando isto, na falta de acesso à cultura da produtividade vive-se em contradição com os novos ambientes. Como é lógico, para alguns a cultura da produtividade socializa, harmoniza, e a outros traz distanciamento e estranhamento. Às vezes a mudança cultural resulta em sofrimento por não assimilação. Sobretudo nesses casos não assegura condições e esperanças.

Falemos da cultura do prazer que incide sobre os valores normativos. Como se sabe, no seio familiar as mudanças de hábitos, costumes e tradições para alguns são sinônimo de sofrimento, algo inaceitável e causador de escândalo, enquanto para outros significam libertação da dor e do sofrimento. Como ficou dito, toda cultura tem seus alicerces, a secular no princípio da produtividade e do prazer. Como pano de fundo a cultura secular tem o desejo de afastar o sofrimento para que ninguém precise vivenciar o mundo como obstáculo. No campo normativo e religioso nada é mais rejeitado do que algo que ainda causa pecado, amarras e dor. Na dor experimentamos uma realidade fora de nós, uma realidade que não criamos ou imaginamos. No pecado experimentamos a dor da não conversão, da mudança total. Nas amarras experimentamos a dor da alienação, da não liberdade.

A pretensão da cultura secular é libertar as pessoas de suas ilusões culturais, soltá-las dos seus contextos ofuscantes, confrontá-las com a verdade de sua existência. Porque fica evidente seu estranhamento ao habitar em sociedade acostumada a manter tradições, costumes, ritos sólidos. A cultura da produtividade e do prazer identifica-se com os anseios e interesses do mundo. Contrapor-se a este movimento impõe limites, disciplinas e normas mais perenes.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

DE VESTES BRANCAS

Este ano teremos eleições e nestes tempos os partidos estão se preparando para lançarem seus candidatos. E a nós todos caberá a tarefa de escolher bem. Mas, o que mesmo significa o termo candidato? “A palavra significa vestido de branco, puro, límpido, cândido. Sua origem vem da antiga Roma, onde aqueles que queriam disputar um cargo eletivo eram obrigados a desfilar pelas ruas usando vestes brancas, uma demonstração da pureza de sua vida e de suas intenções. Cabia aos cidadãos aceitar a apresentação ou jogar lama nos camisolões brancos daqueles que estavam enganando a população”.

Hoje a aceitação ou não deste ou daquele candidato se dá pelas urnas. A lama foi substituída pelas urnas. Mas como saber, de fato, a verdadeira intenção dos candidatos? É muito difícil de conhecer o mistério que o ser humano carregada dentro de si. Contudo, uma das maneiras viáveis para perceber a postura ética dos candidatos, é olhar sua vida, sua história, sua vida familiar, sua trajetória pela comunidade, bairro, cidade etc., a fim de constatar se suas ações foram de interesses pessoais, particulares ou teve dedicação, sacrifício, postura e vocação pelo comunitário.

O candidato tem o direito de “desfilar” pelas ruas para apresentar as suas propostas, porém muitos deles colocam-se na posição de um “super-homem”, ou seja, vão resolver todos os problemas que até chegam a propor coisas absurdas em seus discursos. Além disso, o adversário possui todos os defeitos e limitações possíveis, mas o “super-homem”, todas as qualidades. Será isso mesmo? Pode-se afirmar denegrindo a imagem do outro?

Diante desses se poderia fazer uma simples interpelação: Dê três razões para votar em você! O candidato sério e ciente irá perceber que não é um “super-homem” e que não tem solução para tudo. Aquele que consegue perceber suas limitações e qualidades pode ser merecedor do voto de confiança; contudo aquele que se coloca no patamar de “salvador da pátria” deve-se desconfiar, pois está se valendo da arte de bem falar para persuadir em busca de seus interesses.

Muitos candidatos se utilizam da arte de bem falar para convencer o eleitor com suas propostas, porém deve ser averiguada com cuidado a fundamentação de suas falas. Para isso, portanto, seria interessante se cada eleitor pudesse questionar, de fato, cada um que lhe pedir o seu voto, pois assim os aproveitadores e interesseiros teriam poucas chances de ingressarem na vida pública. Além disso, seria importante que os mais esclarecidos pudessem colaborar para a conscientização da população na purificação dos candidatos que buscam somente status, poder e prestígio.