quinta-feira, 30 de julho de 2015

LUTANDO POR UM BRASIL MELHOR


Algumas vozes do Supremo, a exemplo do ministro Marco Aurélio Mello, fazem críticas ao absurdo que tenta permitir que a Justiça aceite provas obtidas de modo ilícito, como a escuta ilegal em celas e áreas comuns de prisões.

Outro aspecto importante - que certamente o procurador não admite seja criticado por se tratar de iluminação divina - e que está sendo ignorado pela Operação lava Jato é o fato do artigo 2 da lei que define a "Colaboração Premiada" dizer que ela deve permanecer em segredo até a apresentação da denúncia.

Antes disso, só pode ser conhecida pelo juiz, pelo advogado, pelo Ministério Público. Todos sabem que no Brasil a regra é desrespeitada pela promiscuidade de advogados, delegados, procuradores e jornalistas.

Vazamentos seletivos acontecem a todo momento de acordo com interesses os mais escusos possíveis.

Nos Estados Unidos, a veiculação de informações de um inquérito criminal em jornais e tevês provoca obrigatoriamente a anulação do julgamento. No Brasil alguns togados tentam provar que estão acima do bem e do mal e que vazamentos devem ser tolerados e estimulados.

O mês de agosto chega com um holofote em todas estas questões armadas pela aliança das forcas de direita no Judiciário, no Legislativo e na grande mídia contra a permanência no poder de uma presidente eleita democraticamente.

Será um mês decisivo. A guerra não está ganha, para nenhum dos lados. O quadro é grave. Muitas batalhas ainda estão por ser definidas.

O ponto positivo de tudo isso é que nunca na história deste país a sociedade pode perceber e ter acesso a uma discussão que disseca tão bem as entranhas do jogo pelo poder e suas ramificações.

Luzes se acendem cada vez mais aqui e ali em defesa da democracia, da Constituição, da observância dos direitos fundamentais, no meio jurídico, político, acadêmico, sindical, nos movimentos sociais.

E isso deveríamos ensinar para nossas crianças desde cedo nas escolas: é necessário ter coragem para dizer verdades, quando a maioria não está preparada para compreender a extensão delas. É necessário ter coragem para enfrentar as consequências. É necessário ter sempre coragem para continuar lutando por um Brasil melhor.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

VEJA É PARTIDO POLÍTICO DISFARÇADO DE REVISTA, AFIRMA: MIOLO


Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), Jeferson Miola atacou a nova farsa da Veja contra o ex-presidente Lula. Segundo ele, a atuação partidária da Veja não é novidade: “para a revista, ter status de 'empresa de comunicação' serve de fachada para o crime”.

Desta vez, Veja afirma que chegou "a vez dele", a respeito de uma suposta delação premiada de José Adelmário Pinheiro, executivo da OAS, que foi preso na Lava Jato.

No entanto, antes mesmo de chegar às bancas e à casa dos assinantes, a reportagem foi desmentida pela OAS. “Sobre a reportagem da Veja deste final de semana, José Adelmário Pinheiro e seus defensores têm a dizer, respeitosamente, que ela não corresponde à verdade. Não há nenhuma conversa com o MPF sobre delação premiada, tampouco intenção nesse sentido”, disse, em nota, a empresa.

Leia o artigo de Miola, para a Carta Maior, sobre o assunto:


O lixo semanal da revista Veja traz na capa um close do rosto desfigurado do Lula com uma chamada ameaçadora: “A vez dele”. No subtítulo, faz alusão a supostas revelações do empreiteiro da OAS, que incriminariam Lula. De sobremesa, a revista oferece uma chanchada: “como o filho Lulinha ficou milionário”.

A Veja não surpreende; iludidos são aqueles seres humanos de boa fé que ainda se surpreendem com a vilania daquela revista. A Veja apenas ensina que a patifaria, o ódio e o desprezo de classe não têm limites.

Empregando linguagem asquerosa, a revista investe contra Lula com um desrespeito inaceitável a um ex-Presidente. Em qualquer democracia, ensejaria à prisão pelo crime de ofensa à honra: “Léo [Léo Pinheiro, da OAS] e Lula são bons amigos. Mais do que por amizade, eles se uniram por interesses comuns. Léo era operador da empreiteira OAS em Brasília. Lula era presidente do Brasil e operado pela OAS. Na linguagem dos arranjos de poder baseados na troca de favores, operar significa, em bom português, comprar. Agora operador e operado enfrentam circunstâncias amargas”.

O empreiteiro desmentiu a revista, que ainda assim manteve a circulação.

A atuação partidária da Veja não é novidade. Para a revista, ter status de 'empresa de comunicação' serve de fachada para o crime”. A quatro dias da eleição de outubro de 2014, Veja antecipou em dois dias seu lixo semanal trazendo na capa Dilma e Lula em close e a chamada “Eles sabiam de tudo” [sic], com um subtítulo espalhafatoso baseado em suposto depoimento do doleiro-criminoso Youssef.

Tanto antes como agora, a revista não baseia suas infâmias em fatos concretos, mas simplesmente em mentiras e elucubrações que satisfazem a obsessão patológica de desmoralizar Lula, Dilma e o PT.

Não é só a Veja que usa a “liberdade de expressão” como álibi para a prática criminosa. Este é o método da mídia oposicionista e seus servos ideológicos. Merval Pereira, do jornal O Globo, é um praticante contumaz dessa técnica. Na coluna de sábado 25.07 [“O diálogo inviável”] Merval perpetrou um repertório de acusações que decerto lhe foi servido pelo seu colega FHC no chá da tarde na Academia Brasileira de Letras:

“... o PT revelou-se um partido que adota meios corruptos para fazer política, e usa o Estado para financiar seus esquemas, com o objetivo de dominar a máquina pública pelo maior tempo possível;

o PT ... é, até que se prove o contrário, o único [Partido] que sequestrou o Estado brasileiro para montar um esquema de domínio político na tentativa de se perpetuar no poder;

... o PT inaugurou uma nova fase da corrupção brasileira, muito mais danosa à democracia por que se alimenta da própria máquina do Estado para continuar dominando-a indefinidamente;

... para, através do desvio de recursos do Estado brasileiro, controlar a vida partidária nacional e desvirtuar o sistema de coalizão partidária através de distribuição de verbas ao Legislativo, envenena o nosso sistema democrático, desmonta a convivência harmônica entre os Poderes da República, quebra o sistema de pesos e contrapesos próprio da democracia representativa;

Como partido organizado e bem comandado, o PT transformou a roubalheira generalizada em instrumento de controle político. O que mudou nos anos petistas é que a roubalheira nas principais áreas do governo foi monopolizada pelo esquema político que almeja a hegemonia. Sem mudar essa postura diante da democracia, não há razão para a busca de um diálogo”.

O Presidente Lula nomeou diretamente dois presidentes da Petrobrás – José Eduardo Dutra e Sérgio Gabrielli. A Presidente Dilma nomeou Maria das Graças Foster e Aldemir Bendine. Durante os 16 meses de frenético espetáculo jurídico-midiático da Operação Lava Jato que começou em março de 2014, nenhuma autoridade da Petrobrás designada diretamente por Lula e Dilma estão indiciadas ou são suspeitas.

As pessoas da própria Petrobrás implicadas na corrupção, como se sabe, são cinco ou seis funcionários de carreira de uma empresa que tem no seu quadro funcional quase 250 mil empregados.

Entre os outros mais de sessenta envolvidos no escândalo que foram arrolados até o momento pelo Judiciário, apenas um deles é do PT, o ex-tesoureiro. Os demais são empresários, lobistas, consultores, doleiros, além de agentes políticos que pertencem ao PMDB, PP, PSB, PSDB e que representam a maioria dos políticos implicados.

Apesar disso, o espetáculo jurídico-midiático promove intencionalmente uma narrativa desequilibrada e desproporcional para desmoralizar o PT.

Merval precisa comprovar a materialidade das imputações feitas ao Partido. Elas são de tal gravidade que, se verdadeiras, implicariam na proscrição de qualquer organização com as características por ele arroladas. Caso o colunista da Globo não comprove suas palavras levianas, não resta outro caminho que não um processo judicial pela ofensa desferida a quase um milhão e seiscentos mil pessoas filiadas ao PT.

Para a revista Veja, o caminho é o mesmo, e deve começar pela apuração do crime cometido na véspera do segundo turno eleitoral de 2014, até hoje sem resultados conhecidos.

Nunca antes na história do Brasil o ambiente esteve tão intoxicado pelo reacionarismo e por práticas fascistas que difundem ódio e intolerância. É essencial agir-se urgentemente contra essa realidade usando os remédios da democracia, das leis e da Constituição.

terça-feira, 28 de julho de 2015

A MARCHA DO ORGULHO HUMANO.

Marcha para Jesus, marcha do orgulho gay, do orgulho hétero, marcha da maconha, marcha das vadias, marcha do orgulho crespo, marcha do orgulho Cláudia Ohana, marcha do orgulho raspadinha, marcha dos coxinhas, marcha dos risoles, marcha do soldado cabeça de papel, marcha disso, marcha para aquilo. E se não marchar direito que vá para Cuba ou para Miami. Ou para qualquer pátria que não o tenha parido. E assim vamos caminhando e marchando e desafinando a canção. Cada um cantando no seu tom e no arranjo que mais lhe soa favorável. Mas a canção não é a mesma? Ou pelo menos deveria ser?

Nosso repertório de marchas está cada vez mais farto. Farto de orgulho e individualidades. Os objetivos de uma marcha quase sempre vão de encontro aos objetivos de outras. Isso quando não ocorre de membros de uma invadir a marcha dos outros para protestar. É comum vermos cristãos na marcha do orgulho gay panfletando sobre a sua marcha pessoal. Também vemos gays e "vadias" marcando presença, nem sempre muito respeitosa na marcha dos cristãos para defender a sua causa. Ainda temos situações onde tucanalhas se infiltram na marcha dos petralhas, e vice e versa, para defenderem as suas ideologias. Cada um com o seu orgulho e com a certeza ímpar de estar absolutamente certo.

E assim vamos andando com pressa, pois já andamos devagar demais, com a certeza de que muito sabemos ou nada sabemos. Talvez cumprir a nossa missão de vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente. Mas qual é a sua marcha? Qual é o seu orgulho? A sua marcha é em causa própria? O seu motivo de orgulho é uma característica física, um vício pessoal ou a sua orientação sexual? Sabiamente o poeta diz: "Todo mundo ama um dia, todo mundo chora. Um dia a gente chega e no outro vai embora". E se cada um de nós compõe a própria história e temos o dom de sermos felizes, porque não termos orgulho apenas de sermos humanos? Mas como podemos nos considerar humanos se marchamos em causas próprias e invadimos as marchas dos outros para impor a nossa vontade e o nosso orgulho?

Deveríamos marchar para a humanidade. Deveríamos ter orgulho de sermos honestos. Não existe honra na cor da pele. Não existe caráter na lisura ou no encaracolar dos cabelos. Não existe honestidade na orientação sexual. A sua santidade não está apenas no louvor que sai da sua boca ou na fé que você professa. A sua dignidade não está na classe social a qual você pertence. A estrada é bem mais longa e somos todos velhos boiadeiros levando a nossa boiada nas costas e contando os dias até o fim do caminho. Se marchássemos juntos por uma mesma causa, a caminhada seria mais leve. O fardo seria menos pesado. Faríamos menos paradas para isso ou para aquilo, pois estaríamos nos abastecendo uns aos outros com o combustível do amor ao próximo.


Pode ser utopia. Talvez isso nunca aconteça. Mas sabemos qual é o caminho, só não queremos passar por ele. Nosso orgulho vai pelo atalho. Nossa causa própria determina o trajeto com menos trânsito. Nossa falta de humanidade nos guia pela contra mão. Nosso egoísmo não liga a seta para quem está atrás. Nossa arrogância faz bandalha na vida dos outros. E assim vamos tocando em frente. De marcha-ré.





POR: Nêggo Tom

segunda-feira, 27 de julho de 2015

O PRIMEIRO AMOR

Tio Fábio é um homem sábio do interior. Uma vez ele me viu aflito com uma pilha caótica de livros que eu tinha na cabeceira. Tantas coisas para ler, tão pouco tempo: esse o motivo da minha aflição, expliquei a Tio Fábio. Na próxima vez que o encontrei, ele me passou uma citação de Sêneca, o grande filósofo romano de quase 2000 anos atrás. Tenho-a até hoje. “Uma profusão de leituras sobrecarrega o espírito, mas não o ilustra. É melhor se aplicar num pequeno número de autores do que vagar no meio de muitos”. (
Adiante, conforme me contou Tio Fábio, Sêneca quase louvou o célebre incêndio da Biblioteca de Alexandria, considerado pela visão convencional como um dos maiores desastres culturais da humanidade. Sêneca qualificou a biblioteca queimada como um exemplo de “orgia de literatura”. Tio Fábio gosta de Sêneca porque admira gente que pensa diferente. Herdei essa admiração. Uma das razões pelas quais falo tanto de tio Fábio é que ele pensa diferente).
Agora confesso que esqueci por que falei em Sêneca e no esforço inútil despendido em leitures inúteis. Ah, lembrei. É que no esforço de seguir o romano genial eu passei a me concentrar em alguns autores, não numa infinidade. E tirei de minha vista a montanha de livros que me trazia tanta ansiedade. Entre as minhas poucas e constantes leituras estão dois escritores “espirituais”. Um deles é o monge católico Thomas Merton, já morto. O outro é o monge zen Thich Nhat Hanh, um vietnamita que ergueu uma comunidade budista num lugar retirado na França.
Citei ambos porque, em livros que escreveram, eles trataram de um assunto que é único, vital, indelevelmente marcante na vida de um homem: o primeiro amor. É quando descobrimos que não somos mais crianças. É quando descobrimos que existem outros prazeres além da bola de futebol e do videogame.
E é quando descobrimos também o quanto a alegria está conectada à tristeza. O quanto a euforia está próxima da angústia. Um telefone que toca com a voz de quem você deseja ouvir. E então é o êxtase. Um telefone que teima em ficar silencioso, cruelmente silencioso. E então é a agonia. Você é um antes do primeiro amor. E outro depois. Os beijos. O adeus.
(E então me ocorre aquela linda canção chamada Crying Game, que deu nome ao polêmico filme. “First there are kisses/Then there are sighs/And then before you know where you are/You’re saying goodbye”. O sentido é a fugacidade da paixão. A impermanência, como dizem os budistas. Quem sabe um dia o Mantraman me diga palavras de conforto em relação à revolta ingênua que sinto contra a impermanência).
Merton, em sua autobiografia, nota algo que eu nunca tinha pensado. Somos tão jovens, tão frágeis quando aparece pela primeira vez em nossa vida aquela onda avassaladora que é o primeiro amor. Tanto impacto e somos tão indefesos. Merton se apaixonou antes de virar monge.
Thich Nhat Hanh, num pequeno e belo livro chamado Cultivando a Mente de Amor, confessa a paixão que o tomou quando, jovem monge, conheceu uma monja. Ele diz que decidiu falar desse amor para ajudar outros monges que por acaso enfrentem a mesma situação.
Pelo lirismo inspirado, transcrevo um trecho em que Thich Nhat Hanh fala do objeto de seu amor: “O comportamento dela como monja era perfeito – a forma de se mover, de olhar, de falar. Ela era tranquila. Jamais dizia alguma coisa, a melhor que lhe perguntassem”. Mais adiante, ele compara seu amor a uma tempestade pela qual ela e ele tinham sido apanhados sem saber como. E também sem saber como escapar.
Num capítulo intitulado “A beleza da primavera”, Thich Nhat Hanh faz um convite ao leitor. “Por gentileza, pense no seu próprio primeiro amor”. Faça-o devagar, visualizando como aconteceu, em que lugar foi, o que lhe trouxe naquele momento. Relembre essa experiência e observe-a calma e profundamente, com compaixão e entendimento. Você descobrirá muitas coisas que não notou naquela ocasião”.
E então aceito o convite do monge zen. E penso nela. Nos olhos verdes. Na pele suave como um pêssego. No sorriso meigo e constante. No telefone que tocou e trazia a voz dela para dentro de minha casa e de meu coração. No vestido azul e amarelo que usou quando saímos pela primeira vez.
No primeiro beijo.
E então penso na tempestade (para usar a expressão de Thich Nhat Hanh) que se seguiu. Deus, que tempestade. Mas quanta poesia, quanto calor, quanto ensinamento se escondia naquela torrente de água ao mesmo tempo tão sofrida e tão gloriosa.

Por: Fábio Hernandes - Cubano -  em sua auto definição "Um escritor Barato".

domingo, 26 de julho de 2015

MIDIA FACISTA QUER CRIMINALIZAR EDITORAS DA ESQUERDA.



É uma guerra política em todos os sentidos.

A direita brasileira não admite que exista nenhuma iniciativa independente de suas patranhas imperialistas e golpistas.

Blogs de esquerda, tem que ser processados judicialmente e não podem obter qualquer patrocínio, público ou privado.

A mídia brasileira só protege blogueiros cubanos – que escrevem contra Cuba, claro.

Agora a “força-tarefa” de setores tucanos da PF e mídia, num conluio criminoso, vazando informações seletivamente, promove um ataque político a uma das mais importantes iniciativas da esquerda brasileira: a editora Atitude, que produz a Rede Brasil Atual, a Revista do Brasil, o programa de rádio Jornal Brasil Atual, entre outros projetos.

Além de bloquearem o debate sobre a democratização dos meios de comunicação, as forças reacionárias da mídia, as mesmas que se locupletaram por décadas do regime militar e de conchavos dentro do governo, tentam matar qualquer ação que ouse trazer um mínimo de contraponto à narrativa eternamente golpista das corporações midiáticas.

Na ditadura, perseguiram e censuraram somente editoras e jornalistas que ousavam discordar do discurso único pró-imperialista.

Hoje fazem a mesma coisa, talvez com um pouco mais de sofisticação.

Uma pena que o ministro da Justiça seja leniente com essa transformação da Polícia Federal em polícia política à serviço da mídia, da direita e do golpe.

sábado, 25 de julho de 2015

INCOMPETÊNCIA E ARROGÂNCIA



“Recessão e suborno: a crescente podridão no Brasil” foi o título do editorial desta quinta-feira no secular “Financial Times”, o jornal cor-de-salmão que raramente pisa em falso quando dá opinião (sobre música, vinho, política, ou macroeconomia), e, por isso adquirido no mesmo dia por mais de quatro bilhões de reais pelos japoneses da Nikkei.

“Incompetência, arrogância e corrupção tiraram do Brasil seu encanto mágico…Não é de admirar que o país hoje seja comparado a um infindável filme de horror”, afirma o FT.

Que o governo não reagisse ou reagisse no estilo inglês – glacialmente – era o esperado. Designado para responder, Jacques Wagner, ministro da Defesa, contestou com o argumento de veterano cinéfilo: “ não é filme de horror mas de superação”. A surpresa veio da repercussão – quase nenhuma. Por solidariedade e/ou despeito, nossa mídia enfiou a viola no saco e saiu de fininho. Para não ser denunciada como alarmista ou golpista, talvez por sentir-se absolutamente desamparada diante de uma crise tão disseminada e ameaçadora, a verdade é que a retórica e o racionalismo anglo-saxônico se impuseram aos floreios da prosa neolatina. 


Ao associar de forma direta, impiedosa, o fenômeno macroeconômico da recessão à esfera criminal onde se encaixa o suborno, o jornal escancara a natureza da nossa desgraça. Para não deixar dúvidas quanto a gravidade do que está sendo investigado, adiciona dois penosos ingredientes raramente utilizados nas avaliações sobre o que aconteceu na Petrobrás: incompetência e arrogância. 

Para coroar, o diagnóstico, o arrasador substantivo – podridão – que nos remete a Shakespeare e ao inconformado Hamlet, ao reconhecer que “há algo de podre no reino da Dinamarca”. Na injusta metáfora, o Bardo não se referia apenas ao casal regicida (mãe e padrasto de Hamlet), mas à sociedade desmoralizada, corrompida, desprovida de senso moral que permitiu a consumação e a ocultação do crime.

Entende-se porque o editorial não foi transcrito e traduzido na íntegra em nossa imprensa: por pudor e autoestima. No “Valor”, de sexta-feira (24/7), nenhuma referência foi feita ao atroz editorial do FT, no texto de uma página inteira sobre a aquisição do jornal britânico pelo grupo nipônico. Passou despercebido? Claro que não: “Folha”, dona de 50% do “Valor” também não publicou uma única linha.

Em compensação, o Grupo Globo”, dono dos restantes 50%, publicou uma chamada na capa e um razoável comentário na pagina 3. Será que os acionistas conseguirão entender-se e permitir que o jornal não brigue com o noticiário ?

Verdadeira bomba arrasa-quarteirão espalha estilhaços, fere a todos que, mesmo de longe, percebem o enredo. O interminável filme de horror do qual somos personagens e espectadores, ao contrário do que apregoam os mestres no gênero, parece condenado ao insucesso. Ninguém faz questão de vê-lo, o desfecho ainda demora. Nossas plateias são impacientes, se resignam às longas e artificiosas telenovelas, mas quando se trata de crises exigem soluções imediatas, no atual mandato.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

FIDEL CASTRO PREVIU EM 1973 A APROXIMAÇÃO COM OS EUA.

Da Revista Fórum - Uma reportagem do jornal argentino Clarín, publicada nesta quinta-feira (23) mostra que o líder cubano Fidel Castro fez, inadvertidamente, uma previsão certeira em um encontro com jornalistas ocorrido em 1973.

O jornalista britânico Brian Davis perguntou a Fidel, que retornava de uma visita feita ao Vietnã, pouco depois de encerrada a guerra deste país com os Estados Unidos: "Quando o senhor acredita que poderão ser restabelecidas as relações entre Cuba e Estados Unidos, dois países tão distantes apesar da proximidade geográfica?".

A resposta de Fidel veio por meio de uma olhar fixo e dada em alto e bom som, para que todos os jornalistas presentes pudessem ouvi-la. "Os Estados Unidos virão dialogar conosco quando tiverem um presidente negro e houver no mundo um Papa latino-americano."

A fala irônica do presidente de Cuba queria demonstrar que, na verdade, o reatamento de laços estava muito distante. Afinal, àquela altura era inimaginável que os EUA viessem a eleger um presidente negro e os pontífices da igreja católica eram, invariavelmente, italianos com trajetória apostólica em Roma.

Por conta da resposta inusitada, muitos profissionais da comunicação riram, como conta o jornalista argentino Pedro Jorge Solans. Ele resgatou a história em uma recente viagem feita a Cuba, enquanto fazia uma matéria acerca da reaproximação diplomática entre o país caribenho e os norte-americanos. A reportagem original foi publicada no El Diário de Carlos Paz.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

COMO A ELITE QUER DESTRUIR ODEBRECHT E A IMPORTANCIA GLOBAL DE LUDA

O ano de 2015 chegou como referência cronológica atípica para, em nome da ética e da moral no serviço público brasileiro, por meio de fatos construídos a partir da política partidária, identificar este tempo como a inevitável "lavagem da roupa suja" e, assim, construir a solução para extirpar os negócios nacionais, através da operação "Lava Jato" – operação que identifica e busca punir desvios públicos inaceitáveis.

Só que, ultimamente, ao que parece, há um macro processo com viés nítido de querer acabar de vez com as grandes marcas brasileiras dos negócios bilionários internacionais.

Antes de teses, enfatizemos direto ao assunto o caso Odebrechet – a mais importante referência de grandes negócios brasileiros dentro e fora do Brasil, em especial fora de solo nacional, entretanto, transformada ultimamente em símbolo de uma marca forjada em falcatruas.

Na verdade, a empresa de origem baiana é, ao contrário, uma referência da indústria brasileira no cenário internacional, agora se configurando em alvo dos interesses capitalistas estrangeiros querendo não só tirá-la do mercado global mas, especialmente, expurgá-la de seu próprio solo nacional para germinar possibilidades de firmas estrangeiras assumirem seu papel.

Como ninguém discute a questão básica de considerar indispensável a conclusão da operação "Lava Jato", que identificou operações bilionários enviadas a vícios, portanto, precisa de solução punitiva exemplar, nem por isso pode-se querer acabar com o patrimônio de referência internacional, como é a Odebrechet, porque há muitos anos ela se credencia em territórios estrangeiros com fama de qualidade e de tamanho global.

LULA É O OUTRO GRANDE ALVO

Outro dia, aqui mesmo, expomos como o lendário Secretário de Estado americano, Henry Kissinger, se transformou no grande articulador do desarmamento ideológico com a China, mas levando para o solo de Mao Tse Tung, todas as grandes marcas dos Estados Unidos, sem isso se consolidar com desvios nem escândalos, ao contrário, zelo pela soberania dos produtos americanos.

No Brasil, contudo, e em especial nas ultimas semanas, o noticiário e as estratégias do capital internacional e da Grande Mídia é querer considerar o ex-presidente Lula numa referência de escândalo por ter estado reforçando marcas brasileiras de importância, entre elas a Odebrechet, porque esta é a posição dos Lideres internacionais em favor de suas empresas.

HILLARY E SARCOZY VIERAM FAZER LOBBIES PARA SUAS EMPRESAS

Na recente negociação dos Caças adquiridos pelo Governo brasileiro todos os grandes nomes internacionais interessados no caso, a exemplo de Hillary Clinton, Sarcozy (França) e até o todo poderoso russo Vladimir Putin, etc, estiveram no Brasil defendendo abertamente as empresas de seus países. Nenhum desses casos não foi nem será tratado senão como obrigação patriótica de defender suas causas e empresas.

EM SÍNTESE

Durante os últimos tempos, o ex-presidente Lula se credenciou como uma das mais importantes figuras do Planeta, em termos de dimensão popular e estratégica, por ter capacidade de representar e defender o interesse brasileiro, mas sempre com ética e respeito aos principais de soberania nacional e dos negócios
 
 
 

por: Walter Santos
 

terça-feira, 21 de julho de 2015

A CRISE

Raramente na história houve tanta acumulação de situações de crise como no atual momento. Algumas são conjunturais e superáveis. Outras são estruturais e exigem mudanças profundas, como por exemplo, a reforma política e tributária brasileira. Mas há uma crise que se apresenta sistêmica e que recobre toda a Terra e a humanidade. Ela é ecológico-social. A percepção geral é que assim como a Terra viva se encontra não pode continuar, pois pode nos levar a um quadro de tragédia com a dizimação de milhões de vidas humanas e de porções significativas da biodiversidade.

A crise sistêmica é grave porque ela carrega dentro de seu bojo a possibilidade da destruição da vida sobre o planeta e eventualmente o desaparecimento da espécie humana. Os instrumentos já foram montados. Basta que surja um conflito de maior intensidade ou um louco fundamentalista tipo o ex-presidente Busch para abrir as portas do inferno nuclear, químico ou biológico a ponto de não termos nenhum sobrante para contar a história. Não podemos subestimar a gravidade desta última crise sistêmica e global. A atual crise brasileira é um pálido reflexo da crise maior planetária. Mas mesmo assim é desastrosa para todos, afetando especialmente aqueles sobre cujos ombros se colocou o maior onus dos ajustes fiscais para sair ou aliviar a crise: os trabalhadores e os aposentados.

A crise representa purificação e oportunidade de crescimento. Não precisamos recorrer ao idiograma chinês de crise para saber desta significação. Basta nos remeter ao sânscrito, matriz de nossas linguas ocidentais.

Em sânscrito, crise vem de kir ou kri que significa purificar e limpar. De kri vem crisol, elemento com o qual limpamos ouro das gangas e acrisolar que quer dizer depurar e decantar. Então, a crise representa um processo critico, de depuração do cerne: só o verdadeiro e substancial fica, o acidental e agregado desaparece.

Ao redor e a partir deste cerne se constrói uma outra ordem que representa a superação da crise. Ela se traduzirá num curso diferente das coisas. Depois, seguindo a lógica da crise, esta ordem também entrará em crise. E permitirá, após processo crítico de acrisolamento e purificação, a emergência de nova ordem. E assim sucessivamente, pois essa é a dinâmica da história.

A crise possui também uma dimensão pessoal, em várias situações da vida e a maior de todas, a crise da morte. A crise possui também uma dimensão cósmica que é o fim do universo que para nós não acaba na morte térmica mas numa incomensurável explosão e implosão para dentro de Deus.

Entretanto, todo processo de purificação não se faz sem cortes e rupturas. Dai a necessidade da de-cisão. A de-cisão opera uma cisão com o anterior e inaugura o novo. Aqui nos pode ajudar o sentido grego de crise.

Em grego krisis, crise, significa a decisão tomada por um juiz ou um médico. O juiz pesa e sopesa os prós e os contras e o médico ausculta os vários sintomas da doença. À base deste processo ambos tomam suas decisões pelo tipo de sentença a ser proferida ou pelo tipo de doença a ser combatida. Esse processo decisório é chamado crise.

O Brasil vive, há séculos, protelando suas crises por faltar às lideranças ousadia histórica de tomar decisões que cortem com o passado perverso. Sempre se fazem conciliações negociadas a pretexto da governabilidade. Desta forma sutilmente se preservam os privilégios das elites e novamente as grandes maiorias são condenadas continuar na marginalidade social.

A crise do capitalismo é notória. Mas nunca se fazem cortes estruturais que inaugurem nova ordem econômica. Sempre se recorre a ajustes que preservam a lógica exploradora de base, como ocorreu recentemente com a Grécia. Bem disse Platão em meio à crise da cultura grega: “as coisas grandes só acontecem no caos e na krisis”. Com a de-cisão, o caos e a crise desaparecem e nasce nova esperança.

Então se inicia novo tempo que, esperamos, seja mais integrador, mais humanitário e mais cuidador da Casa Comum.






L.Boff

segunda-feira, 20 de julho de 2015

ATITUDE PARA MELHORAR O BRASIL

Chegamos a um ponto limite. A ameaça de Eduardo Cunha de "explodir o governo" é, na verdade, ameaça de explodir o país, ou melhor, de explodir a economia.

Quem paga por isso? Você, caro leitor.

Se quem lê estas palavras for antipetista, a reação provável será a de subir em um banquinho e discursar contra os (supostos) pecados dos governos petistas que conduziram a economia a essa situação. Se for da esquerda caviar, discursará sobre "estelionato eleitoral" e sobre a necessidade de uma desnecessária "crítica pela esquerda" que nada mais é do que colaboração com o golpismo e com o afundamento da economia.

Chega de politicagem. Os 200 milhões de brasileiros não querem saber disso. O país precisa sair dessa. Até mesmo para a oposição não interessa herdar uma massa falida, caso vença em 2018.

O golpe não acontecerá como pensa a direita golpista. Haverá uma guerra política antes. Nesse interim, quem chegar ao poder encontrará um país economicamente arrasado e terá que dar respostas que a parcela da população que apoia o golpe espera que sejam dadas.

O golpe não acontecerá ou acontecerá após uma luta fratricida e, nesse contexto, os setores da sociedade que condescendem com tal estupro da democracia acreditam que bastará tirar o PT do poder para tudo se resolver como por mágica.

Não será assim. Quem assumisse agora encontraria uma crise muito pior do que a que há neste momento e demoraria para dar alguma solução a ela, se é que daria. Afinal, a sabotagem mudaria de lado. O ajuste fiscal, agora, teria que ser muito mais duro e quem herdar o butim estará esperando uma farra com a chave do cofre que lhe cairá nas mãos.

A única solução viável, neste momento, é um pacto político. Caberia às lideranças do governo e da oposição, aos movimentos sociais, ao empresariado, à mídia e até ao Ministério Público, à Polícia Federal, ao Judiciário e a quem mais puder colaborar, sentarem-se todos para discutir uma agenda mínima.

Pelo lado das investigações de corrupção, a partir de agora deveriam ocorrer discretamente. Não se propõe que sejam abandonadas, mas devem deixar de ser espetáculo. Já.

Pelo lado do Congresso e dos partidos, é chegada a hora de aprovar medidas, com celeridade e eficiência, para equacionar receita e despesa.

Pelo lado da mídia e das lideranças políticas à direita e à esquerda, seria tranquilizador para o país se todos aparecessem publicamente comunicando à nação que diferenças serão postas de lado até que a economia se estabilize.

Ao contrário do que poderia pensar a oposição, ela lucraria muito ao demonstrar que está colocando o país acima de suas ambições políticas. Ao governo caberia reconhecer a colaboração da oposição, recompensando-a publicamente pela atitude madura e responsável.

À mídia, caberia parar de colocar lenha na fogueira, desfazendo a imagem de golpista e de abutre com que é vista por amplos setores da sociedade.

A oposição já ganhou discurso para 2018. E se atuar para que o país saia da crise, terá esse ativo a seu favor. O governo e o PT, poderão argumentar que não hesitaram em compartilhar decisões com os representantes da minoria, em um gesto de desprendimento e republicano. A mídia, finalmente poderia demonstrar sua utilidade.

A alternativa a iniciativas republicanas a serem adotadas por TODOS os agentes políticos e econômicos é o caos, é o estabelecimento de uma situação imprevisível que certamente irá surpreender inclusive àqueles que pensam que estão ganhando o jogo.

A situação econômica do país já começa a mudar de patamar. É como se o paciente tivesse que tomar uma colher de sopa de um remédio amargo todos os dias, mas como só aceita tomar uma colherinha de café a doença, além de não ceder, ameaça piorar. Ou esse paciente para de agir como criança ou sua gripe irá se transformar em pneumonia.

sábado, 18 de julho de 2015

EDARDO CUNHA ESTÁ PRATICAMENTE MORTO.

Sabe aquele lutador que cisca, cisca, cisca até que leva um golpe na pera e desaba?
 

É Eduardo Cunha.
 

O golpe foi o depoimento de Júlio Camargo.

A luta acabou para Eduardo Cunha. Ele está tão zonzo que não percebeu. É como se ele, ainda na lona, dissesse ao juiz: “Tá tudo bem. A que horas começa a luta?”

Se preferirem outra imagem, Cunha é um dead man walking, um morto que caminha, como os americanos chamam os detentos do corredor da morte.

Camargo contou, num vídeo eletrizante de uma hora, o que Eduardo Cunha fez para garantir uma propina de alguns milhões de dólares.

Cunha chamou-o depois de mentiroso. Mas quem vê o vídeo sabe muito bem quem é o mentiroso entre os dois.

Todas as peças se encaixam.

O método do achacamento, por exemplo. Cunha ia triturar a empresa devedora na Câmara se o dinheiro não lhe fosse dado.

Isso bate com uma investigação da Procuradoria Geral da República segundo a qual requerimentos na Câmara para investigar a empresa partiram, secretamente, de Cunha.

Funcionaria assim. Se o dinheiro fosse dado, o trabalho da Câmara não daria em nada. Se não fosse, bem, eis aí a arte do achaque e da chantagem.

Outro delator, o doleiro Alberto Youssef, também num vídeo tornado público, contribuiu para o desmascaramento de Cunha.

Youssef contou que um “pau mandado” de Cunha o vinha intimidando para não falar nada sobre o presidente da Câmara em sua delação.

As ameaças do “pau mandado” se dirigiam à família de Youssef.

Camargo também tocou nisso: o medo que sentia de que sua delação levasse a violências contra sua família.

Você ouve Camargo e Youssef e pensa que se trata do submundo da bandidagem, de organizações como o PCC.

Mas é o mundo de Eduardo Cunha.

Desesperado, ele tentou criar uma notícia para neutralizar o conteúdo devastador do depoimento de Camargo.

É aí que apareceu sua “ruptura” com o governo, como se ele em algum momento tivesse jogado a favor.

Alguns jornalistas embarcaram alegremente no blefe de Cunha. Diego Escosteguy, da Época, o Kim Kataguiri das redações, foi um deles.

Em sua conta no Twitter, ele anunciou, triunfal, o “furo” da ruptura. A notícia de fato importante passou a não valer nada: o vídeo histórico de Camargo. Foi o triunfo do rodapé.

Maus editores contribuem mais para o fim de revistas impressas do que a internet.

Qual o poder de Cunha numa guerra contra o governo?

Alguma coisa muito próxima de zero. Não há nada mais liquidado do que um chefe político liquidado.

Que lealdade alguém como ele, cercado do que há de pior em termos de caráter, pode esperar dos deputados que controlava agora que está numa encrenca pesada e já não tem nada a oferecer?

Um sinal disso veio quando o PMDB, em nota, avisou que ele falará em nome dele mesmo, no pronunciamento de rádio e tevê que ele programou para esta sexta.

Para a mídia, ele também já não serve para nada.

A mídia precisa de alguém que pelo menos pareça honesto para contrapor ao PT na campanha demagógica centrada na corrupção.

Depois do depoimento de Camargo, Eduardo Cunha já não serve para isso. Ele é o maior ícone da corrupção no Brasil.

Tudo aconteceu muito rápido para Cunha.

Da obscuridade aos sonhos presidenciais, foram poucos meses.

Agora, devolvido à áspera realidade, resta a ele torcer para escapar da cadeia.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

DISCURSO DE TSIPRAS ENSINA UMA VELHA LIÇÃO.



Concordando-se ou não com a posição do primeiro-ministro grego, chama atenção seu discurso político.

Ao contrário da tradição demagógica, que infesta também círculos de esquerda em vários cantos do mundo, Tsipras não edulcora o acordo que defendeu diante do Syriza e do parlamento de seu país.

Denuncia que foi chantageado.

Esclarece que considera o pacto com a União Europeia, em boa medida, lesivo aos interesses nacionais e dos trabalhadores.

Relata que bateu à porta dos Estados Unidos, Rússia e China em busca de alternativas, mas não encontrou apoio.

Destaca claramente que a escolha é entre a rendição sob condições ou o colapso político-econômico, identificando os inimigos que combate e sua natureza.

Não transforma necessidade em virtude, como se o acordo fosse algum capítulo harmônico à estratégia de desenvolvimento traçada por seu partido.

Não vende felicidade ou irrealismo.

Pinta o quadro com todas as suas cores, em um esforço notável para informar e educar militantes e cidadãos que até agora marcharam ao seu lado.

Tsipras pode estar certo ou errado. Mas revela-se um discípulo da velha lição de Gramsci, que horroriza os defensores de substituir a política pelo marketing: apenas a verdade é revolucionária.

COMO LIDAR COM O MEDO DA MORTE

Montaigne disse que quando queria lidar com o medo da morte recorria a Sêneca. Não por acaso. Raras vezes, se é que alguma, um filósofo se deteve de forma tão profunda e brilhante sobre a maior das aflições humanas: o medo da morte. Numa carta ao discípulo Lucílio, Sêneca (5 a.C. – 65 d.C.) escreveu uma frase célebre: “E por mais que te espantes, aprender a viver não é mais que aprender a morrer”. Sêneca pregava o desprezo pela morte. Não por morbidez ou por pessimismo. É que quem despreza a morte vive, paradoxalmente, melhor. Sobre sua alma não pesa o terror supremo da humanidade: o fim da existência. “Parece inacreditável, mas muita gente morre do medo de morrer”, escreveu Sêneca.

Pensar na morte, regularmente, é a primeira e maior recomendação de Sêneca. Os romanos tinham um provérbio ainda hoje lembrado e admirado: “Memento mori”. Lembre-se de que vai morrer. Não há como escapar dessa operação da natureza a qual estamos condenados desde o dia em que nascemos. E no entanto nos atormentamos o tempo todo por algo que com certeza, um dia, se realizará. Esse tormento contínuo nos impede de viver bem. Outro romano, Lucrécio, escreveu: “Onde a morte está, não estou. Onde estou, a morte não está”. Encontramos uma maneira similar de lidar com a morte nas filosofias orientais. O asceta Milarepa, uma das maiores figuras do budismo, vivia perto de um cemitério para jamais esquecer que um dia iria morrer.

Sêneca, em suas obras, evocou com frequência a bravura de personalidades histórias diante da morte. Sócrates, perante a perspectiva de tomar cicuta, manteve a calma e o humor. Consolou os discípulos em vez de ser consolado, episódio que Platão, o maior deles, registrou em sua obra-prima, Fédon. “Chegou a hora de partir, vocês para a vida, eu para a morte”, disse Sócrates na hora de execução de sua sentença, segundo Platão. “Qual dos dois destinos é melhor, ninguém sabe”. Outro exemplo sempre citado por Sêneca foi o do político romano Catão. Derrotado numa guerra civil, Catão passou sua última noite entregue a três tarefas. Primeiro, tentou salvar o maior número de seus seguidores. Depois, leu Fédon para encontrar inspiração e coragem. Enfim, atirou-se contra a própria espada.

Sêneca mostrou a mesma bravura das pessoas que tanto citou. Acusado de conspiração, recebeu de Nero, de quem tinha sido preceptor, a sentença de se matar. Na perpétua instabilidade da sorte, Sêneca passara de homem forte do reinado de Nero (antes que este ficasse louco) a renegado. Como Sócrates, confortou os amigos e familiares que o cercavam desesperados no momento derradeiro. Cortou os punhos e se deixou levar serenamente. Venceu o destino. Sua atitude desassombrada conferiu relevância às palavras que escreveu sobre a morte. Fez dele, para usar uma linda expressão de um sábio, um eterno amigo da humanidade, um jarro calmo de luz para quem queira se livrar da bruma paralisante que é o medo de morrer.


dcm

quinta-feira, 16 de julho de 2015

JANOT: SE PARAR O BICHO PEGA, SE CORRER...

A Operação Politeia, que foi deflagrada ontem e instalou um clima de pânico em Brasília, depois de atingir três senadores (Fernando Collor, Fernando Bezerra Coelho e Ciro Nogueira), disseminou duas versões antagônicas. A primeira, de que o Palácio do Planalto se beneficia. Isso porque, com a Lava Jato atingindo pesos-pesados da política, o Congresso não terá autoridade moral para levar adiante um eventual processo de impeachment. A segunda, na direção oposta, dá conta de que os políticos atingidos farão o possível e o impossível para se vingar, tornando ainda mais delicada a relação entre o Executivo e o Legislativo.

Para medir a dimensão do estrago, será preciso confirmar se, de fato, haverá novas denúncias contra os chefes das duas casas: o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, e o senador Renan Calheiros, presidente do Congresso, conforme se especula em Brasília. Um eventual processo de impeachment precisa ser admitido na Câmara e votado no Senado – e com seus dois líderes abatidos, o cenário se torna mais complexo.

Apesar de todas as incertezas, o que pode ser dito com segurança é que a Operação Politeia colocou uma batata quente nas mãos da presidente Dilma Rousseff. A questão é: o que fazer, na volta do recesso, após o fim do primeiro mandato do procurador-geral da República, Rodrigo Janot?

Desde o início do governo Lula, tem sido mantida a tradição de se indicar o mais votado numa lista tríplice do MP – o que não era feito no governo FHC, mas foi mantido por Dilma. E, na procuradoria-geral da República, até as pedras sabem que Janot será o mais votado com larga vantagem, chegando perto da unanimidade.

É justamente aí que começa o problema. Caso Dilma o indique ao segundo mandato, estará comprando uma briga com o Senado, que, ontem, se sentiu afrontado em suas prerrogativas, conforme pontuou, em nota, o senador Renan Calheiros. Na Câmara, Eduardo Cunha já afirmou que a eventual recondução de Janot será percebida como uma afronta do Palácio do Planalto ao Poder Legislativo. E o fato é que mesmo que ele seja indicado, quem aprova ou não sua recondução é o próprio Senado Federal – o que, depois de ontem, se tornou quase impossível. Dilma irá comprar esta briga?





Publicado anteriormente no Brasil 247

SÃO PAULO E O AMOR.

São Paulo, um dos homens que difundiram o Cristianismo no mundo, foi responsável por muitos dos escritos do Novo Testamento. Uma de suas reflexões mais belas relaciona-se ao amor. Por causa dela o escolhemos como novo entrevistado em nossas Conversas com Escritores Mortos. 
Um dos pilares da Igreja é o amor ao próximo. Qual a sua opinião a respeito dele?


Se eu falasse todas as línguas, as dos homens e as dos anjos, mas não tivesse amor, seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de remover montanhas, mas não tivesse amor, nada seria. Se eu gastasse todos os meus bens no sustento dos pobres e até me fizesse escravo, para me gloriar, mas não tivesse amor, de nada me aproveitaria.
Belas palavras. Quais as principais características do amor?


O amor é paciente, é benéfico – não é invejoso, não é presunçoso e nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo. O amor não acabará nunca.
Hmmm…


As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência desaparecerá. Com efeito, o nosso conhecimento é limitado como também é limitado nosso profetizar. Mas, quando vier aquilo que é perfeito, desaparecerá o que é imperfeito.
O senhor sempre pensou dessa forma?

Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança. Agora nos encontramos em um espelho, confusamente, mas um dia veremos face a face. Agora conheço apenas em parte, mas então conhecerei completamente, como sou conhecido. Atualmente permanecem estas três: a fé, a esperança e o amor. Mas a maior delas é o amor.





Puboicado anteriormente no DCN.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

UM RETROCESSO DE 90 ANOS.

Em 12 de outubro de 1927, no Palácio do Catete, o presidente Washington Luiz assinava uma lei que ficaria conhecida como Código de Menores. Hoje, passados quase 90 anos, a canetada do último presidente da República do Café com Leite é alvo das mais exaltadas discussões no governo, no Congresso e na sociedade.

Foi o Código de Menores que estabeleceu que o jovem é penalmente inimputável até os 17 anos e que somente a partir dos 18 responde por seus crimes e pode ser condenado à prisão. O que agora está em debate no país é a redução da maioridade penal para 16 anos.

O código de 1927 foi a primeira lei do Brasil dedicada à proteção da infância e da adolescência. Ele foi anulado na década de 70, mas seu artigo que prevê que os menores de 18 anos não podem ser processados criminalmente resistiu à mudança dos tempos.

É justamente a mesma idade de corte que hoje consta da Constituição e do Código Penal, além do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) — uma espécie de filhote do Código de Menores que nasceu em 1990 e completará 25 anos na segunda-feira (13).

A pioneira lei, que foi construída com a colaboração do Senado, marcou uma inflexão no país. Até então, a Justiça era inclemente com os pequenos infratores. Pelo Código Penal de 1890, criado após a queda do Império, crianças podiam ser levadas aos tribunais a partir dos 9 anos da mesma forma que os criminosos adultos.

Notícias criminais protagonizadas por crianças e adolescentes eram corriqueiras na imprensa. Em julho de 1915, o jornal carioca A Noite noticiou: “O juiz da 4ª Vara Criminal condenou a um ano e sete meses de prisão um pivete de 12 anos de idade que penetrou na casa número 103 da Rua Barão de Ubá, às 13h, e da lá furtou dinheiro e objeto no valor de 400$000”.

A mão policial também era pesada. Até o surgimento do Código de Menores, os pequenos delinquentes recebiam o mesmo tratamento dispensado a bandidos, capoeiras, vadios e mendigos. Uma vez capturados, todos eram atirados indiscriminadamente na cadeia.

Em março de 1926, o Jornal do Brasil revelou a estarrecedora história do menino Bernardino, de 12 anos, que ganhava a vida nas ruas do Rio como engraxate. Ele foi preso por ter atirado tinta num cliente que se recusara a pagar pelo polimento das botinas. Nas quatro semanas que passou trancafiado numa cela com 20 adultos, Bernardino sofreu todo tipo de violência. Os repórteres do jornal encontraram o garoto na Santa Casa “em lastimável estado” e “no meio da mais viva indignação dos seus médicos”.
Reformatórios

Em 1922, uma reforma do Código Penal elevou a maioridade de 9 para 14 anos. Com o Código de Menores de 1927, chegou-se aos 18 e a prisão de crianças e adolescentes ficou proibida. Em seu lugar, teriam de ser aplicadas medidas socioeducativas, como se chamam hoje.

No caso dos delinquentes com idade entre 14 e 17 anos, o destino seria uma escola de reforma (ou reformatório), onde receberiam educação e aprenderiam um trabalho. Os menores de 14 anos que não tivessem família seriam mandados para a escola de preservação, uma versão abrandada do reformatório. Os mais novos com família poderiam voltar para casa, desde que os pais prometessem às autoridades não permitir que os filhos reincidissem.

Extenso e minucioso, o código se dividia em mais de 200 artigos, que iam além da punição dos pequenos infratores. Normatizavam desde a repressão do trabalho infantil e dos castigos físicos exagerados até a perda do pátrio poder e a criação de tribunais dedicados exclusivamente aos menores de 18 anos.

No Brasil da virada do século 19 para o 20, uma parcela considerável da população vivia na miséria. Com o fim da escravidão, em 1888, os negros e suas famílias se viram abandonados de uma hora para a outra, elevando as estatísticas da pobreza. A ainda tímida industrialização atraía gente do campo, mas não conseguia absorver toda a mão de obra disponível. As cidades inchavam,e o desemprego e a criminalidade disparavam.

crianças

terça-feira, 14 de julho de 2015

OS SONHOS PERDIDOS SÃO OS MELHORES

Então vamos falar dos sonhos. Não dos sonhos realizados, mas dos sonhos perdidos. Sonhos perdidos. Acho essa expressão sublime. Poética, lírica, poderosa. Os sonhos que me interessam são os perdidos. Não resisto à tentação de interromper a mim mesmo e falar de um quadro inspirado num outro de Edward Hopper, o grande retratista da solidão americana. O quadro se chama Boulevard of Broken Dreams. Rua dos Sonhos Perdidos. Não troco dez Monas Lisas por aquele pequeno grande quadro.
A minha tese a respeito de sonhos é: eles não existem para ser realizados. Existem apenas para ser sonhados e, depois, perdidos. O sonho realizado morre. O sonho perdido se eterniza. Contemplem, por favor, o quadro que ilustra este texto e digam se não estou certo. Os sonhos perdidos reunidos naquela lanchonete são para sempre. Nem os meteoros destruidores do filme Armageddon seriam capazes de obliterar a Rua dos Sonhos Perdidos.
E então eu olho para mim mesmo e para meus sonhos. Meu primeiro sonho sério amoroso foi, como uma vez contei, com Constanza. Outro dia, ao mexer em velhos livros, encontrei uma dedicatória de Constanza. Era um livro francamente horrível. Um tratado de semiótica. Não o li na época e jamais o lerei. Mas vou guardá-lo até o fim de meus dias, como um pequeno troféu, pela dedicatória. “Espero que você goste. Mas, tratando-se de Fabio Hernandez, nunca se sabe”.
A dedicatória me devolveu à memória o rosto jovem de Constanza. E depois a reconstruiu, como um escultor meticuloso, como naquela noite de sábado em que a beijei pela primeira vez. O vestidinho azul. A camisa amarela por baixo dele. O ar ingenuamente sexy de bandeirante. E sobre os olhos mais verdes que as águas do Caribe eu prefiro nem falar.
Tive então o impulso de ir ao condomínio de prédios onde, lá para trás, se realizou o baile em que demos nosso primeiro beijo. Desci do carro e me sentei num banco diante do condomínio. Fiquei apenas olhando, e olhando, e olhando. Na verdade eu não estava ali. Eu estava a muitos anos de distância dali. Uma jovem se aproximou e perguntou, gentil e preocupada, se estava tudo bem. “Sim”, respondi. “Foi só um… sonho”. Ela não pareceu convencida. “Tem certeza de que está tudo bem?” Fiz que sim com a cabeça. Um dia ela também retornaria a seus sonhos perdidos.
E agora me ocorrem meus sonnhos literários. Aos 20 anos eu sonhava escrever romances. Muitos romances. Romances como os de Dostoiévski, Jorge Amado e Fitzgerald, meus preferidos naqueles dias. Todos eles tinham lançado seu primeiro romance na casa dos 20 anos. Acho que Jorge Amado até antes. Mas a vida me transformou não num romancista sério, mas num escritor barato. Vejo agora mesmo diante de meus olhos uma estante imaginária com os romances importantes que jamais escrevi.
Um dia, alguns anos atrás, falei dessa minha frustração com Tio Fabio, um homem sábio do interior. Ele não disse nada. No dia seguinte, me entregou seu exemplar desgastado de tanto ser usado de Os Maias, de Eça de Queirós. Eu ainda não o tinha lido. Ao lê-lo entendi por que Tio Fabio me dera o romance. O final fala exatamente dos sonhos perdidos. Dois amigos conversam pelas ruas de Lisboa sobre seus sonhos destruídos. Um deles, Ega, como eu, nunca escreveu o romance que toda Lisboa tanto esperara. Entendi enfim terminada a leitura, que sem sonhos perdidos não haveria a grande arte de Os Maias, ou de Hopper, ou de tantos outros gênios. Não haveria aquela formidável tocha que se alimenta da dor para produzir romances, poemas, canções, quadro, filmes que iluminam e aquecem a humanidade. E então eu soube que a maior miséria de todas é não ter uma coleção de lindos sonhos perdidos.














Publicado anteriormente no DCM

segunda-feira, 13 de julho de 2015

GRECIA: ESTARÁ NASCENDO A DEMOCRACIA DELEGATICIA?

A vitória de domingo dia 5 de julho foi espetacular para o Não: 61% contra 38% do Sim. Primeira lição: os poderosos não podem fazer o que bem entendem e os fracos não estão mais dispostos a aceitar as humilhações. Segunda lição: a derrota do Sim mostrou claramente o coração empedernido do capital bancário europeu. Terceiro, trouxe à luz a traição da Unidade Européia a seus próprios ideais que era a integração com solidariedade, com igualdade e com assistência social. Renderam-se à lógica perversa do capital financeiro.

A vitória do Não representa uma lição para toda a Europa: se ela quer continuar a ser súcuba das políticas imperiais norteamericanas ou se quer construir uma verdadeira unidade européia sobre os valores da democracia e dos direitos. O insuspeito semanário liberal Der Spiegel advertia que através da Sra. Merkel, arrogante e inflexível, a Alemanha poderia, já pela terceira vez, provocar uma tragédia européia. Os burocratas de Bruxelas perderam o sentido da história e qualquer referência ética e humanitária. Por vingança o Banco Central Europeu deixou de subministrar dinheiro para os bancos gregos continuarem a funcionar e os obrigou a fechar.

Uma lição para todos, também para nós: quando se trata de uma crise radical que implica os rumos futuros do país, deve-se voltar ao povo, portador da soberania política e confiar nele. A partir de agora os credores e as inflexíveis autoridades do zona do Euro terão pela frente não um governo que eles podem aterroizar e manpular, mas um povo unido que tem consciência de sua dignidade e que não se rede à avidez dos capitais. Como dizia um cartaz:"Se não morremos de amor, por que vamos morrer de fome"?

Na Grécia nasceu, pela primeira vez, a democracia mas de cunho elitista. Agora, nesta mesma Grécia, está nascendo uma democracia popular e direta. Ela será um complemento à democracia delegatícia. Isso vale também para nós no Brasil.

Um prognóstico, quiçá uma profecia: não estaria nascendo, a partir da Grécia, a era dos povos? Face às crises globais serão eles que irão às ruas, como entre nós e na Espanha e tentarão formular os parâmetros políticos e éticos do tipo de mundo que queremos para todos. Já não confiamos no que vem de cima. Seguramente o eixo estruturador não será a economia capitalista desmoronando, mas a vida: das pessoas, da natureza e da Terra. Isso realizaria o sonho do Papa Francisco em sua encíclica: a humanidade "cuidando da Casa Comum".

domingo, 12 de julho de 2015

O PSDB É UM PARTIDO SEM RESPEITO À SUA HISTÓRIA

Que o PSDB sempre foi um partido de elite já o sabíamos há mais de 20 anos.

O tempo não fez bem ao PSDB: o partido ficou esclerosado rápido demais. E sua decadência começou quando investiu pesado na aprovação da oportunista emenda da reeleição em 1997, feita sob medida para se manter no poder, para garantir mais quatro anos de mandato ao então progressista Fernando Henrique Cardoso. O balcão de negócios para a compra de votos no Congresso Nacional que garantissem a aprovação daquela emenda que esse foi um dos capítulos mais torpe já escrito no Brasil visando a que um partido permanecesse no comando.

Executivo. Apesar de depoimentos, testemunhos e várias outras robustas evidências de que havia se "feito o diabo" para garantir mais quatro anos de FHC na presidência da República, fato é que até hoje aquele passado não foi escrutinado, os crimes permaneceram impunes e a nódoa de descaramento se fixou em alto relevo na fronte mesma do PSDB.

Que o PSDB nunca digeriu com satisfação as profundas transformações porque vem passando o Brasil desde que tomou posse em 2003 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é também fato inconteste. Porque o PSDB é a cara do conservadorismo mais retrógrado que infelicita o país: aquele que luta por manter tudo como sempre foi, que não ousa avançar na garantia das liberdades democráticas, nos direitos civis e trabalhistas, que não se atreve a lutar contra as profundas desigualdades sociais que há séculos enferma 2/3 da população nacional.

Para saber quem é o PSDB de hoje basta ver o nível de política que leva a cabo: política de arrasa-país, política revanchista, política de apoio às pautas mais atrasadas e anti cidadania que se tem notícias – pautas como a terceirização de atividades-fim; o financiamento empresarial das campanhas eleitorais; redução da maioridade penal; legislação repressora para a comunidade LGBT; restrições aos direitos dos homossexuais; fragilização da Petrobras em um momento difícil que atravessa nossa mais nacionalista das empresas estatais.

O que não se sabia de forma clara e transparente era esta vocação golpista e tantas vezes dissimulada que sempre teve o PSDB.

É por isso que o partido arregimenta em seu entorno políticos como Jair Bolsonaro, Roberto Freire, Carlos Sampaio, Agripino Maia e mais todos os Telhadas e seus brucutus.

E só os arregimenta porque existe comunhão de ideais entre eles: ferir a democracia de morte para retirar seu desafeto político do comando do Poder Executivo, mesmo que seu desafeto tenha amealhado estrondosos 54 milhões de votos nas urnas abertas na noite de 26 de outubro último e abrir espaço para nova incursão militar em anos imediatamente à frente.

O PSDB é um partido sem respeito à sua própria história e sem a menor consideração com a manutenção da democracia e do estado de direito vigente a duríssimas penas no Brasil. Planeja ganhar no golpe o que não conquistou nas urnas, deseja transformar o Brasil numa república paraguaia, cartorial e coronelista, entendendo que ministros do Tribunal de Contas da União detêm o direito divino de "tratorar" a vontade política expressa inequivocamente por mais de 54 milhões cidadãos e cidadãs brasileiros.

O PSDB esquece não apenas de seu imenso telhado de vidro – abram-se investigações sérias sobre os metrôs paulistas, a falta d´água e os crimes cometidos por sua Sabesp, o mensalão tucano desafiando qualquer sentimento de justiça, as delações premiadas de só Deus sabe como conseguidas pelo juiz Sérgio Moro – como esquece também as pesadas suspeições que pairam sobre as cabeças e os ditames de ao menos 2 senhores juízes do próprio TCU, assim como esquece que a justiça deve ser administrada com equidade e valer para todos e todas.

sábado, 11 de julho de 2015

O QUE A GRÉCIA PODE NOS ENSINAR

Qualquer comparação entre distintas realidades nacionais nasce morta se omitidas ou negligenciadas as realidades concretas, mas a pátria do Syriza também traz lições universais.

Estratégias de mudanças sem conflito são eficazes apenas em períodos de bonança, quando a interseção entre transformação e paz se amplia porque o Estado tem mais recursos para investir na melhoria da vida dos pobres sem afetar a fortuna e os interesses dos ricos.

Nas épocas de escassez, esta zona de conforto desaparece.

Somente há mudanças se houver conflito, o instrumento político pelo qual a sociedade distribui renda, poder e riqueza.

Se a regra central for evitar enfrentamentos, não há mudanças. Normalmente impera o retrocesso e a capitulação.

As forças progressistas, quando seguem esta senda conciliatória sem base objetiva, geralmente são tragadas pela paralisia, sofrendo todos os males do enfraquecimento político, incluindo a desmoralização perante eleitores e apoiadores.

O resultado prático, nestas circunstâncias, é deixar o terreno fértil para a ofensiva das forças mais reacionárias, que se aproveitam das contradições e confusões para impor sua agenda e ditar o ritmo da vida política.

Mais grave quando, para se evitar o confronto a qualquer custo, quebra-se o cristal da coerência, criando um fosso entre o discurso de sedução eleitoral e a prática de governo.

O Syriza extraiu estes ensinamentos da história grega e do movimento socialista mundial.

Obviamente atento aos limites da situação política e econômica, além das fragilidades objetivas da Grécia, o partido de Tsipras revela muita flexibilidade tática na negociação com os centros imperialistas europeus.

Sua marca de corte, no entanto, não é evitar o conflito, mas viabilizar a mudança, o que implica fundamentalmente construir maioria nacional e solidariedade mundial para embates inevitáveis.

Avanços e recuos, operados com a necessária maleabilidade, parecem submetidos a um rigoroso objetivo estratégico: gerar uma outra correlação de forças na Europa, forçando ao máximo a disputa com a Troika, até que se criem as possibilidades de uma nova ordem econômica.

Preferencialmente parida por acordo. Se necessário e inevitável, pelo fórceps da ruptura.

A lógica da tática, assim, não se apresenta como instrumento destinado a obter pequenas concessões, mas caminho para construir um bloco capaz de combater a ditadura do capital financeiro.

Esse foi o papel do plebiscito de domingo.

A política de esquerda somente pode triunfar quando se transforma em mobilização popular, principal alicerce de qualquer mudança efetiva.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

SOU DESSAS QUE NÃO DESPERDIÇAM ORGASMOS


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Dar ou não dar, eis a questão. Você tá na porta da sua casa, acabou de voltar muito bem acompanhada da balada. Vocês estão num amasso nervoso dentro do carro, você está morrendo de tesão mas ao mesmo tempo presa em seu conflito interno se chama o cara para entrar e terminar o que começaram, ou se segue os sete mandamentos de como conquistar um cara em dez passos e deixa o convite para depois do quarto encontro, porque “fazendo assim ele não vai me achar uma vadia, não é mesmo?”. Se você se identificou com a situação descrita, na boa, eu tenho pena de você. Me desculpe, mas tenho dó de quem precisa de aprovação para viver. E é por isso que me pergunto: o que aflige tanto as mulheres? Por que temos que praticamente “fingir” que não gostamos de sexo? Por que ainda é tabu a mulher dizer que adora sexo tanto quanto o homem?

Apesar da liberdade sexual que conquistamos nos últimos 50 anos com a criação da pílula anticoncepcional e a entrada feminina no mercado de trabalho, ainda vivemos sob os resquícios de uma ótica machista. Nos foi ensinado, durante séculos, que só havia dois papéis para a mulher: o da casa e o da rua. Em casa, só entrava o sexo para procriação, aquele de luz apagada e no qual a mulher é apenas um instrumento da masturbação masculina. Já a rua era o local das mulheres que dizem sim ao prazer – as tais oferecidas. Chamar a mulher liberada de puta é um vestígio desse maniqueísmo obsoleto. Os nomes mudaram, mas o tratamento para quem transa com vários caras não: o “maçaneta” dos anos 50 evoluiu para o “piranha” que atualmente virou “periguete”. Transforma-se o adjetivo, o preconceito não.

O papel de homem e mulher no sexo sempre teve regras. Fazia parte do jogo de sedução a recusa dela e a insistência dele. Apesar de hoje essa dança de acasalamento sincronizada não fazer mais sentido, quantos manuais já foram escritos em revistas femininas ditando os 10 passos que devemos seguir religiosamente para transformar o paquera em um namoro sério? E quantos desses tem como regra número um postergar o sexo? Essas revistas tem uma visão tão equivocada e retrógrada que até a sessão destinada a tratar do assunto se chama “amor e sexo”, como se para as mulheres os dois sempre estivessem atrelados um ao outro e não pudessem existir independentes. E tudo isso em vão, já que se o cara não quiser algo mais sério com você, não vai ser o sexo logo de cara (ou a ausência dele) que vai mudar isso – a não ser é claro que ele seja um machista, mas nesse caso a gente até agradece descobrir isso para se livrar logo do mané.

Aliás, até a ciência comprova que o sexo mais ajuda a engatilhar do que a espantar um possível relacionamento. Estudiosos norte-americanos perceberam que quando transamos nosso corpo libera ocitocina, um hormônio que ajuda a criar laços emocionais com o parceiro. Ou seja, o velho conselho para você “resistir à tentação ou ele vai pular fora na manhã seguinte” é uma furada, perda de tempo.

Então pra quê se prender a esses manuais de conduta pré-estabelecidos que tentam padronizar todos os tipos de relacionamento? Por que tantas mulheres continuam escutando-os e adiando o prazer quando poderiam tê-lo aqui e agora? E que tipo de comportamento incentivamos com isso? O de que se a mulher deu na primeira é porque não vale nada? A Charlotte de Sex and the City que me perdoe, mas ao negar nosso próprio prazer também contribuimos para reafirmar e fortalecer o estereótipo da “mulher fácil x mulher difícil”, da “mulher pra casar x mulher pra se divertir”, de que se você afirma que gosta de sexo, você não presta.

Acredito que uma boa parte das mulheres ainda não foca a atenção em si mesma. Fica mais encanada imaginando o que os outros vão pensar e vão dizer, ao invés de preocupar-se com o que ela quer para ela mesma. Mas acredito também que cada vez mais mulheres pulam essa barreira de hipocrisia que separa a mulher-de-casa x mulher-da-rua. Afinal, desejo não tem local nem hora certa para surgir. Sou dessas que, se sentir vontade, transam logo no primeiro encontro. E se você sente algum incômodo com essa afirmação, acho que na real o problema não está em mim, mas sim em você. Se toda mulher é meio Leila Diniz eu acredito na máxima da musa de que “quebro a cara toda hora, mas só me arrependo do que deixei de fazer por preconceito, problema e neurose”.






Publicado no site delírios em comprimidos.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

O PSDB É HOJE UM ARREMEDO DO QUE UM DIA FOI

Em sua luta por convocar um terceiro turno eleitoral capaz de retirar de Dilma Rousseff o mandato legítimo que o povo lhe outorgou, o PSDB deixou de lado todos os escrúpulos, esqueceu todas as lições políticas que deveria ter aprendido ao longo do tempo e passou a ser não mais que ridículo instrumento da vontade pessoal e soberana de seu presidente – o senador Aécio Neves, aquele mesmo que foi batido duas vezes na urnas das Minas Gerais em 2014 e que foi batido também nas urnas pela atual ocupante do Planalto.

E Aécio Neves sabe que o tempo conspira em seu desfavor, sabe bem demais que só será presidente por um golpe do azar, seja à moda antiga, seja à moda paraguaia, porque se tiver de esperar para outubro de 2018 terá sido tarde demais para ele – é que a fila no PSDB começou a andar já no dia 27 de outubro de 2014. E por ordem de preferência, por ser o PSDB um partido eminentemente conservador paulista, os candidatos naturais têm nome, sobrenome e biografias: o o governador Geraldo Alckmin e o senador José Serra.

De elitista, dono de políticas neoliberais que tanto infelicitaram o povo brasileiro e povos de várias nações desenvolvidas, o PSDB tornou-se o partido dos golpistas que sequer tem a bravura, a coragem de chamar pelo nome o que tramam, conspiram, intentam – rasgar a ordem democrática, abrir regime de exceção, tomar pela força de pseudo-tribunais o que não conseguiu pela vontade soberana do povo brasileiro.

O PSDB esquece apenas que antes há de combinar com o povo: não se derruba presidentes legítimos do dia para a noite sem que se tenha como pagar o alto preço da traição à pátria.

E de povo o PSDB entende muito pouco ou quase nada: alguém já fez um corte racial e social na plateia das convenções do PSDB? Alguém já localizou em meio àquelas "massas cheirosas", na expressão de Eliane Cantanhede, alguém com cara de povo, ou seja, morena, negra, pobre e que fala um português ao arrepio da norma culta? Não. Porque, então, não seria uma convenção do PSDB. Porque para ser convenção tucana tem que ter aquele clima de convenção norte-americana, com balões coloridíssimos no teto e nas laterais do palco, com o candidato feito de literalmente papelão, vestidos à moda "casual chic", com blazer azul marinho e calça jeans de grife, sorriso armado o tempo todo, quentinhas à la carte, ar condicionado por volta dos 18 graus.

Pelo que observo nas redes sociais, pelo que vejo nas movimentação de mais que uma dezena de partidos que apoiam a presidente no Congresso Nacional, arrisco-me apenas a expressar o seguinte:

- Que o PSDB se prepare para a guerra se quer levar a ferro e a fogo sua tentação golpista.
- Não será uma guerra nem rápida e nem fácil.
- Mas, ao fim, vencerão as forças democráticas e os trabalhadores e restará ao PSDB escrever seu ultrajante epitáfio no rodapé da história brasileira: Aqui jaz um partido que nasceu democrata e morreu de joelhos, golpista, corpo gangrenado e sem alma nenhuma.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

DILMA REAGE E AVISA: MEU GOVERNO NÃO ACABOU.

Ponham-se no meu lugar: por onde começar este texto, depois dos acontecimentos dos últimos dias e horas que, numa velocidade cada vez maior, levaram a guerra política à beira de uma crise institucional sem precedentes, trinta anos após a redemocratização do país?

Tinha ido dormir com a sensação de que o governo estava no chão e as oposições só contavam as horas para saber quando e como assumiriam o poder.

Acordei nesta terça-feira com a manchete da Folha em que a presidente Dilma Rousseff, na mais franca e contundente entrevista desde a primeira posse, reage ao cerco desfechado contra ela na última semana para avisar que o seu governo não acabou:

"O que você quer que eu faça? Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso é moleza, é luta política. As pessoas caem quando estão dispostas a cair. Não estou. Não tem base para eu cair. E venha tentar, venha tentar", desafiou, indignada com os que se movimentam para encurtar seu segundo mandato e promover um terceiro turno.

Já que ninguém se dispunha a isso, no governo, no PT e na base aliada, a presidente resolveu sair em sua própria defesa. Parece que finalmente ela se deu conta da gravidade da crise que já dura seis meses e atinge todos os setores da vida nacional. Abriu o coração, falou tudo o que estava entalado na garganta e desabafou, referindo-se a "certa oposição um tanto quanto golpista":

"Eu não vou terminar meu mandato por quê? Para tirar um presidente da República, tem que explicar por que vai tirar. Confundiram seus desejos com a realidade ou tem uma base real?".

Na festiva convenção promovida pelo PSDB no domingo, em que foi reeleito para a presidência do partido, o senador mineiro Aécio Neves, derrotado por Dilma nas urnas há apenas oito meses, já se apresentou como candidato a tomar seu lugar o mais rápido possível, com direito a jingle de campanha, claque, camisetas, e tudo.

A euforia dos tucanos era tanta que, ao perguntar a Fernando Henrique Cardoso quando seria a estreia do seu programa de televisão no Canal Brasil, Aécio ouviu a seguinte resposta do ex-presidente, em tom de brincadeira, é claro:

"Pelo ritmo que vai, quando estrear você já será presidente".

Esqueceram de combinar com o governador paulista Geraldo Alckmin, outro pré-candidato, que saiu da convenção enciumado com a babação de ovo sobre Aécio, e com o senador José Serra, que nas últimas semanas já está oferecendo seu passe ao PMDB, caso eles precisem de um nome para disputar as próximas eleições presidenciais.

Dividido como sempre e animado como nunca, o PSDB deu muita bandeira, mostrando que não está disposto a esperar até 2018. Sem apresentar qualquer proposta alternativa ao país para o enfrentamento da crise e jogando tudo apenas no desgaste da presidente, o partido oficial da oposição acabou dando munição aos que denunciam suas manobras golpistas, agora voltadas para os tribunais, com o descarado apoio da mídia hegemônica.

Com esta oposição, Dilma reuniu forças para sair da toca e ir ao ataque, no momento de maior isolamento e mais delicado do seu governo, em que apenas a lealdade do vice Michel Temer parece estar do seu lado.

Na surpreendente e corajosa entrevista concedida por Dilma a Maria Cristina Frias, Valdo Cruz e Natuza Nery, nenhum assunto ficou de fora, nem mesmo o boato espalhado na internet de que teria tentado o suicídio:


"Eu não quis me suicidar na hora que eles estavam querendo me matar lá (quando foi presa durante o regime militar), a troco de quê eu quero me suicidar agora?".

Para deixar clara sua disposição de resistir às tentativas golpistas e retomar a iniciativa da agenda, hoje nas mãos do líder de fato da oposição, Eduardo Cunha, presidente da Câmara, durante toda a segunda feira a presidente manteve reuniões com a coordenação política do governo e líderes e presidentes dos partidos da base aliada.

Dois são os próximos desafios de Dilma: o julgamento das contas do governo, com as chamadas pedaladas fiscais, no TCU, e o das suas contas da campanha eleitoral, no TSE. É das decisões a serem tomadas nestes tribunais, possivelmente ainda este mês, que dependerão os próximos capítulos desta guerra política sem quartel, e sem fim à vista. Preparem seus corações.






Ricardo Kotscho

terça-feira, 7 de julho de 2015

E OS GOLPISTAS VÃO ENCARAR?

A entrevista da presidente Dilma Rousseff aos jornalistas Maria Cristina Frias, Valdo Cruz e Natuza Nery, da Folha de S. Paulo, teve um grande mérito: usou a palavra correta para denunciar o movimento antidemocrático que vem sendo liderado por determinada ala da oposição.

Ao ser questionada sobre se terminará ou não o mandato, Dilma foi direto ao ponto e disse que isso representa apenas o desejo de uma certa oposição "golpista".

O acerto só não foi completo porque Dilma evitou citar os nomes dos principais generais do golpe, que são Aécio Neves (PSDB-MG), Carlos Sampaio (PSDB-SP), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Agripino Maia (DEM-RN) e Roberto Freire (PPS-SP), que ainda contam com o apoio discreto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

"Confundiram seus desejos com a realidade", disse Dilma. No último fim de semana, em entrevista ao Globo, Aécio falou abertamente em abreviar o mandato de Dilma, depois de usar como porta-voz seus mais fiéis aliados, que são Sampaio e Cunha Lima. No PPS, Freire afirmou que as "forças democráticas" resgatariam o País, ao justificar seu golpe. No DEM, a indignação parte de personagens como Ronaldo Caiado, acusado de caixa dois por Demóstenes Torres e Carlos Cachoeira, assim como Agripino Maia, investigado por receber propina de R$ 1,1 milhão.

A todos esses, Dilma lançou um desafio no terreno da ética, quando foi questionada pela Folha sobre eventuais ataques a sua biografia. "Vão reescrever? Vão provar que algum dia peguei um tostão? Vão? Qeuro ver algum deles provar. Todo mundo neste país sabe que não. Quando eles corrompem, eles sabem que é corrompido".

Na entrevista, Dilma fez jus ao aposto "coração valente" e sinalizou que está pronta para a briga. "Eu não quis me suicidar na hora que eles estavam querendo me matar", fazendo uma referência ao tempo em que foi presa política durante a ditadura militar. "A troco de que eu iria me suicidar agora?"

Dilma também apontou as fragilidades da tropa golpista. "Não acho que toda oposição seja sim", afirmou. Govenadores tucanos, como Geraldo Alckmin, de São Paulo, e Marconi Perillo, de Goiás, pretendem seguir o relógio da democracia, que prevê eleições apenas em 2018. Governadores aliados, como Flávio Dino, do Maranhão, já começaram a se manifestar em defesa da presidente.

Ao longo desta terça-feira, a fala de Dilma repercutirá e será respondida pelos artífices do golpe, que, cada vez mais, terão que explicitar seus movimentos à luz do dia.

CHEGA DE AUTORITARISMO E MACHISMO


Para grande parcela da sociedade brasileira a cultura machista ainda predomina e distorce o papel real que a mulher brasileira já alcançou na sociedade.

Muitos creem que ela é boa para ser dona de casa, cozinheira, faxineira, lavadeira mas não para ser engenheira, médica e muito menos para ser uma deputada, senadora ou dirigente política em altos escalões do governo.

A pouca quantidade de mulheres existentes hoje em cargos no Legislativo estadual e federal em relação ao que a própria lei eleitoral exige é prova disso. A lei não é cumprida porque os homens não fazem questão de terem mulheres na política. Apenas engolem a exigência.

E essa visão não é disseminada apenas por homens mas compartilhada também por mulheres. O machismo e o autoritarismo estão tão arraigados na cultura deste país que muitas mulheres ainda não conseguem enxergar que criticar publicamente e gratuitamente uma presidente da república mulher significa contribuir para que as conquistas femininas retroajam na história.

Quando Dilma chegou ao poder, e se manteve nele mais um mandato, fez feliz a muitas mulheres que viram ai reconhecidos os seus valores femininos, mas desagradou a milhares de machistas que se acham no direito de não aceitar que uma mulher chegue ao cargo mais alto da direção de uma Nação.

Aliada ao machismo de fundo, a situação de Dilma fica mais crítica devido à visão autoritária da oposição que não aceita perder, que não aceita que os interesses das classes dominantes deste país sejam contrariados.

Iniciada bem antes das eleições para impedir a reeleição de Dilma, a estratégia de tirar Dilma do poder se encontra hoje totalmente enraizada em setores da imprensa, justiça e parlamento nacionais. Todos estão de acordo em encontrar uma vítima para levar à forca, à guilhotina, para acalmar os ânimos acirrados da turba insatisfeita.

Para a oposição, o que vem depois não importa, desde que não seja o PT, e a continuidade da defesa de crescimento do país com distribuição de renda. Distribuir pra que ? Não querem que seus filhos estudem com negros nas universidades, nem que seu porteiro se sente ao lado deles no mesmo avião.

A campanha da elite brasileira para enfraquecer, humilhar e ou derrubar Dilma levou milhares de despreparados politicamente as ruas pedindo a volta da ditadura e o impeachment da presidente. Como não são organizados o movimento arrefeceu em termos de multidão mas permanece gangrenando a imagem da presidente na internet e na grande mídia.

Cada dia que passa me surpreendo mais com o desrespeito galopante que toma conta das redes sociais contra a figura de Dilma como presidente - o que poderíamos considerar um posicionamento político - mas principalmente me assusta o desrespeito pela figura de Dilma como mulher, que poderia ser a mãe, ou a irmã de cada um de nós. Este é um desrespeito aceito pela cultura autoritária e machista que ainda é forte no Brasil.

Chamar Dilma de gorda é um comportamento machista puro e simples. Vi muitas pessoas repetirem isso, rindo. Depois que a presidente emagreceu e ficou mais bonita, não vi as mesmas pessoas elogiando este fato. Se estava gorda era gorda, se emagreceu está “acabada “.

No meio da crise econômica mundial, que obviamente tem desdobramentos no Brasil, um dos mais conhecidos chargistas deste país desenhou Dilma de joelhos sendo decapitada. Com certeza ele acha bonito os vídeos de algozes do Estado Islâmico cortando cabeças na internet. Ele devia se envergonhar disso.

Adesivos vendidos pela internet mostram Dilma num posto de combustíveis com a mangueira da bomba de gasolina entre as pernas abertas; Mesmo após a ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, ter pedido "ação urgente" ao Ministério Público e à Polícia Federal para "impedir a produção, veiculação, divulgação, comercialização e utilização do material" criminoso, vários sites na internet continuam anunciando o produto.

Entender como normal ou se calar diante a propagação desse tipo de mensagem é referendar a violência contra as mulheres como algo aceitável dentro dos padrões de nossa cultura.

Até mesmo Joaquim Barboza, ex presidente do STF, surge das cinzas com saudades dos holofotes e decide dizer que Dilma comete crime de responsabilidade ao atentar contra o andamento do judiciário.

Quando Dilma atentou contra o andamento do Judiciário? Por acaso não gostar de delatores é atentar contra o Judiciário? Enlouqueceu de vez.

Ao afirmar que “a Constituição não autoriza o Presidente a ‘investir politicamente’ contra as leis vigentes, minando-lhes as bases”, a intenção de Barboza é clara : enfraquecer a imagem de Dilma perante a opinião pública, ajudar a campanha difamatória da oposição contra Dilma e o PT.

Ainda bem que existem ainda homens e mulheres que percebem e se preocupam com o que está acontecendo no Brasil. Esta semana me identifiquei profundamente com uma carta enviada a Dilma por Julia Dworkin, uma moradora do Rio de Janeiro e que se diz não petista.

Ela diz: “apesar das divergências políticas que tenho com o governo, te admiro profundamente Dilma. Admiro sua história, sua postura, sua coragem. Sofro com você todas as vezes que te atacam de forma pessoal, cruel e criminosa. Dói em mim. Toda vez que me deparo com esses ataques, sempre penso em como você está se sentindo ao ver aquilo. E penso em todas as vezes que isso aconteceu comigo e com mulheres que gosto. Quando vejo a forma que falam de você, lembro-me de quantas vezes homens me olhavam com aquele mesmo olhar de desprezo, e quantas vezes falaram de mim de forma desrespeitosa e cruel. Seu rosto abatido da última semana me representa. Representa todas as mulheres atacadas, agredidas, silenciadas e humilhadas deste país”.

A situação é preocupante mas quando vejo mulheres comuns que que saem do silêncio para defender Dilma em meio de uma campanha de pregação do ódio contra a presidente, percebo que pelo Brasil afora existem muitas júlias, apesar dos Aécios, dos Barbozas, dos Cunhas ...
Neste momento é importante e decisivo que os movimentos sociais provoquem e incentivem o debate em torno do fim da pregação do ódio e sobre a democratização da mídia. Assim teremos melhores canais para expor a verdade e os pontos positivos das ações governamentais.

Este deve ser o objetivo da sociedade. Se unir em torno de novas conquistas, e não se dividir em nome do ódio e da humilhação de sua presidente. Chega de autoritarismo. O Brasil tem leis conquistadas ao longo de décadas de lutas e elas devem ser cumpridas.

Abaixo o machismo secular das fazendas e senzalas. O maior motivo do ódio das elites contra contra Dilma, Lula e o PT é exatamente por seu maior feito: ter conseguido fazer as senzalas invadirem e compartilharem das benesses da Casa Grande. Isso eles não conseguem aceitar.






BRASIL 247