segunda-feira, 31 de março de 2014

A PESSOA QUE SABE PARAR PAR VER A BELEZA, NÃO ENVELHECE.

O que faz as pessoas permanecerem jovens não são as ideias, mas as emoções. O mundo emocional é que comanda a vida. Para isso é necessário treinar-se em cultivar emoções que valorizam a vida e o lado bonito da vida.

O cultivo da beleza e do belo é um sinal de juventude. Ser capaz de parar diante de cada realidade. Entrar no mundo de cada ser. Tornar-se um anatomista, quer dizer, tentar penetrar no segredo da beleza de cada flor, de cada inseto, de cada raio de luz, de cada ser humano, de cada gota de chuva. O belo e a beleza estão presentes em cada ser. A pessoa que sabe parar para ver e contemplar a beleza não envelhece em suas emoções.

O cultivo de pensamentos agradáveis é sinal de juventude. É preciso treinar-se no cultivo de pensamentos de esperança e serenidade, de alegria e de encanto pela vida. Acima de tudo, ser capaz de ver o lado bom em todas as realidades. Do próprio negativo é possível extrair algo de positivo.

O cultivo do prazer rejuvenesce a vida. Há os que sofrem por antecipação. Fazem o velório antes de morrer. Ficam doentes antes do tempo. Em tudo veem o lado negativo. Vivendo, pensam na morte. Estando com saúde, guardam dinheiro para quando a doença aparecer. O cultivo do prazer significa que em tudo há um sabor de vida e é preciso treinar-se para extrair esse sabor. Do amargor é possível extrair a doçura.

Proteger as emoções é permanecer jovem. A sociedade criou um sistema de vida que favorece o surgimento de tensões nas emoções. É preciso aprender a nadar. Ser um peixe no mar das tensões que existem. Tensões como: é preciso ter mais e não consigo; não preciso de tais coisas, mas a mídia me empurra a adquirir; sinto a necessidade de conviver, mas o sistema social me empurra para a solidão e para o cada um para si. Dá para viver com o pouco e com o necessário, mas a concorrência e a ganância me impulsionam em adquirir, mesmo não sendo necessário. É preciso proteger-se no meio desse mar de tensões e aprender a nadar com as próprias decisões e escolhas.

Reconhecer os limites e vivê-los é uma forma de não envelhecer. O que estraçalha nossa sociedade e a cansa são a concorrência e a competência. Competência que significa briga, luta, querer chegar pisando por cima de quem está no caminho. Reconhecer os limites é tomar consciência de que somos humanos. De que somos carne e osso. De que cansamos e ficamos velhos. Inteligente é a pessoa que se coloca metas atingíveis. Sabe de suas possibilidades. Se estamos numa sociedade, onde até as crianças falam de “estou estressada”, é porque corremos demais em busca do menos. Somente vive o essencial e permanece jovem em suas emoções e ideias quem é capaz de parar, de sentar-se, de conversar consigo mesmo e de viver cada momento como uma conquista e ao mesmo tempo como um presente.

Cada pessoa, em cada idade - porque a velhice nas emoções pode iniciar em plena juventude do corpo -, deve sentir-se e aprender a medir sua juventude pela qualidade de seus pensamentos e emoções.

sábado, 29 de março de 2014

JERUSALÉM É A ESPERANÇA DA HUMANIDADE.

Brejo da Madre de Deus é uma obscura cidade do agreste pernambucano. Clima seco e 35 mil habitantes. Casas azulejadas entre pedras e vegetação rasteira. No entanto, o brejo que tem o nome da Mãe de Deus será  mais uma vez o lugar para onde convergirão uma peregrinação de 200 mil pessoas. Ali acontece, na cidade cenográfica de Nova Jerusalém, a encenação dos três dias que uma parte considerável da humanidade considera o apogeu de sua história: a Paixão de Jesus Cristo.
Mais de 2.000 anos se passaram, o mundo mudou vertiginosa e radicalmente. Porém, a atração exercida por esse obscuro galileu permanece de forma impressionante e inegável. A pequena cidade pernambucanaserá, mais uma vez, cenário do início da trajetória de Jesus de Nazaré, em Jerusalém. Cidade santa para o judaísmo, centro da religião, ali estavam situados o templo, o Sinedrio e as instituições mais importantes da Palestina daquele tempo.
O povo de Israel vê em Jerusalém uma cidade eleita por Deus, o qual em seu monte Sião erige novo Sinai, onde uma nova Lei é dada e recebida. Lugar da manifestação definitiva da glória divina e meta da esperança escatológica, Jerusalém acolhia os israelitas peregrinos que iam oferecer sacrifícios em seu templo, olhando desejosos para os tempos messiânicos, quando todas as tribos e nações ali se reuniriam.
Por isso o salmista aclama Jerusalém como a noiva do Senhor, da qual se anuncia um glorioso destino: ser o lugar de nascimento de todos os homens, um por um, pois foi o próprio Altíssimo quem a fundou. E o povo exalta sua amada cidade em meio a cantos de júbilo e alegres danças: “Todas as minhas fontes se acham em ti.”
A primeira comunidade cristã, nascida no seio do judaísmo, narra a vida de Jesus de Nazaré, o carpinteiro galileu que fazia milagres, multiplicava pães, amava pobres e crianças, deixava-se tocar por mulheres e leprosos e comia com públicanos e pecadores, como uma subida até Jerusalém. Jesus toma o caminho da cidade santa não como rei glorioso, mas como profeta e servidor destinado a sofrer e morrer pela salvação do povo.
A entrada de Jesus na cidade se faz de forma humilde e pobre. Sobre a cidade que seria o lugar de seu martírio, Jesus chora de frustrado desejo de reunir todos os seus filhos “como uma galinha abriga os pintinhos sob suas asas”. E o drama que ali acontecerá dentro de poucos dias vai confirmar a tradição de que “não convém que um profeta morra fora de Jerusalém.”
Como toda realidade humana, Jerusalém se revelará santa mas também pecadora. E sua destruição por volta do ano 70 é por muitos interpretada em coerência com as dores que deveriam presidir os tempos messiânicos. No entanto, outra interpretação aconteceu com igual força e foi acolhida por uma parte da humanidade. A Cidade Santa, a Nova Jerusalém, não será mais uma cidade edificada com pedras e tijolos, mas o corpo humano, no corpo de Jesus que sofreu sua Paixão fora de suas portas.
E por isso, até hoje, e sempre e para sempre, se pode continuar entoando o salmo e dizendo: “Em ti nossas fontes todas. Em ti todo homem nasceu”. Pois o que nasce sempre de novo em Jerusalém é a esperança da humanidade em que o amor é mais forte do que a morte e a convicção de que os conflitos acontecem, mas não aniquilam a criação de Deus e sim a fazem nascer, renascer.
E por isso Jerusalém está presente em todo lugar. No Oriente Médio e também em Brejo da Madre de Deus. Seja qual for nossa fé, o sopro singular que vem de Jerusalém nos diz que por mais obscura e aterrorizante que pareça a realidade, há um lugar, não geográfico, mas Transcendente, onde estão todas as nossas fontes todas e onde todo homem nasce e renasce a cada dia.

sexta-feira, 28 de março de 2014

QUANTOS NOMES TEM A FELICIDADE?

A felicidade já bateu à porta de todos. Em certo momento da vida ela fez sua visita. Deu sinal de sua existência e de sua possibilidade de existência aos abatidos e animados, aos depressivos e alegres, aos sonhadores e aos mortos em seus sonhos, aos que têm esperança e aos desesperados, aos que creem e aos que não tiveram a alegria de crer.

A felicidade existe. Nem todos acreditam nisso. Ela se manifesta desde o nascimento de uma criança, para a felicidade da mãe e do pai, até num simples copo de cachaça que engana a vida por um rápido momento. Mas a felicidade existe e tem nome. E tem muitos filhos e filhas.

A felicidade tem o nome de amor. Amor que parte de mim. Que nasce em mim. Que tem endereço. Que tem uma proposta. Amor que carrega consigo outras atitudes que dão um rosto concreto. Amor-desprendimento, que busca o bem do outro esquecendo-se a si mesmo. Amor-serviço, que faz descobrir que “grande é aquele que se coloca a serviço e que tudo neste universo é serviço um para o outro”. Amor-renúncia, capaz de deixar para outro momento o meu interesse para dedicar tempo a quem necessita de mim, mais do que a mim mesmo.

A felicidade também se chama serenidade. Tranquilidade. A serenidade é a marca da pessoa feliz. A pessoa agitada é uma pessoa infeliz. A pessoa que fala muito e rápido não é dona de si mesma. A pessoa amarga e lamurienta não se torna fonte de felicidade, mas de mal-estar para si e para as pessoas que a rodeiam. Serenidade na vida, nas relações, na espiritualidade, na vida com Deus é sinal de felicidade.

A felicidade tem o nome sabedoria. Sabedoria é saber que se tem um passado, um presente e um futuro e que tudo tem um sentido. Sabedoria é ter claro o endereço de tudo o que se faz. Tudo tem uma razão e uma direção. Sei onde quero chegar e como devo chegar. Isso é sabedoria. Sabedoria é escutar a vida e a voz do coração.

A felicidade se chama alegria. Não a alegria da gargalhada, mas a alegria como resultado de ter feito bem todas as coisas. A alegria como consequência do prazer de ter trabalhado, estudado, se relacionado e, acima de tudo, de ter servido com amor em todos os atos.

A felicidade também atende pelo nome paciência. Na natureza e na vida tudo tem um ritmo. Cada coisa no seu tempo. Tudo com calma.

A felicidade tem o nome tolerância. É o respeito para cada ser. Cada pessoa. É o respeito para o diferente e para a fragilidade de cada ser.

A felicidade se chama solidariedade. Ninguém está sozinho. Tudo é entrelaçado. Tudo é comunhão. Estar em comunhão é ser feliz. A felicidade se chama domínio próprio. Ser dono de si mesmo. Dominar as emoções e os impulsos. Controlar os desejos. Saber até onde ir.

A felicidade tem muitos outros nomes: perseverança, perdão, bondade, autoestima, paz. É uma família muito unida. Todas se constroem juntas e uma depende da outra.

quinta-feira, 27 de março de 2014

VIVER MELHOR OU BEM VIVER?

Na ideologia dominante, todo mundo quer viver melhor e desfrutar de uma melhor qualidade de vida. Comumente associa esta qualidade de vida ao Produto Interno Bruto de cada país. O PIB representa todas as riquezas materiais que um país produz. Se este é o critério, então o país melhor colocado é os EUA. Este PIB é uma medida inventada pelo capitalismo para estimular a produção crescente de bens materiais a serem consumidos.
Nos últimos anos, dado o crescimento da pobreza e da urbanização favelizada do mundo, e até por um senso de decência, a ONU introduziu a categoria IDH, o “Índice de Desenvolvimento Humano”. Nele se elencam valores intangíveis como saúde, educação, igualdade social, cuidado para com a natureza, equidade de gênero e outros. Enriqueceu o sentido de “qualidade de vida” que era entendido de forma muito materialista: goza de boa qualidade de vida quem mais e melhor consome. 
Consoante o IDH, a pequena Cuba apresenta-se melhor situada que os EUA, embora com um PIB comparativamente ínfimo. Acima de todos os países está o Butão, exprimido entre a China e a Índia aos pés do Himalaia, muito pobre materialmente, mas que estatuiu oficialmente o “Índice de Felicidade Interna Bruta”. Este é medido por critérios qualitativos, como boa governança, equitativa distribuição dos excedentes da agricultura de subsistência e da venda de energia à Índia, boa saúde e educação e em especial bom nível de cooperação para garantir a paz social.
Nas tradições indígenas de Abya Yala, ao invés de “viver melhor” se fala em “bem viver”. Esta categoria entrou nas constituições da Bolívia e do Equador como o objetivo social a ser perseguido pelo Estado e por toda a sociedade. 
O “viver melhor” supõe uma ética do progresso ilimitado e nos incita a uma competição com os outros para criar mais e mais condições para “viver melhor”. Mas, para que alguns pudessem “viver melhor” milhões e milhões têm e tiveram que “viver mal”. É a contradição capitalista
O “bem viver” visa a uma ética da suficiência para toda a comunidade e não apenas para o indivíduo. O “bem viver” supõe uma visão holística e integradora do ser humano inserido na grande comunidade terrenal que inclui além do ser humano, o ar, a água, os solos, as montanhas, as árvores e os animais; é estar em profunda comunhão com a Pacha Mama (Terra), com as energias do universo e com Deus.
A preocupação central não é acumular. De mais a mais, a Mãe Terra nos fornece tudo que precisamos. Nosso trabalho supre o que ela não nos pode dar ou a ajudamos a produzir o suficiente para todos. “Bem viver” é estar em permanente harmonia com o todo, celebrando os ritos sagrados que continuamente renovam a conexão cósmica e com Deus.
O “bem viver” nos convida a não consumir mais do que o ecossistema pode suportar, a evitar a produção de resíduos que não podemos absorver com segurança e nos incita a reutilizar e reciclar tudo o que tivermos usado. Será um consumo reciclável e frugal. Então não haverá escassez.
Nesta época de busca de novos caminhos para a humanidade a ideia do “bem viver” tem muito a nos ensinar.

quarta-feira, 26 de março de 2014

A VIDA PODE SER COMPARADA AO VINHO: ESTRAGA OS RUINS E CONSAGRA OS BONS.

Sempre existiu a comparação entre jovens e velhos. As culturas determinam quem está em vantagem. No passado, a velhice vinha coroada de sabedoria. Hoje, ser jovem é símbolo do sucesso. A história da humanidade está cheia de jovens e velhos que venceram. E de jovens e velhos que fracassaram. A história registra crianças prodígios e idosos que amadureceram em sua arte.
Mozart, aos cinco anos, já compunha maravilhosas melodias. Sócrates, com 23 anos, confundiu o sofista Protágoras, com o dobro de sua idade. Isaac Newton, aos 21 anos, já elaborara a Lei da Gravidade. Santo Antônio morreu aos 36 anos e Santa Teresinha de Lisieux - doutora da Igreja - morreu com apenas 24 anos. Cristo morreu, aproximadamente, aos 33 anos. Mas temos brilhantes exemplos do outro lado. Santo Antão manteve-se lúcido até morrer aos 105 anos. Miguelângelo esculpiu a Pietá antes dos 30 anos e pintou o Juízo Final depois dos 80. Picasso fez obras primas aos 92 anos e Marc Chagall pintou, com maestria, até sua morte, aos 98 anos.
Existe também o outro lado, o da inutilidade. Há idosos amargos e jovens irresponsáveis. Há velhos com apenas 18 anos e há jovens depois dos 80. Não se trata de uma questão de tempo. É questão de escolha, bem ou mal feita.
Envelhecemos, em qualquer idade, se fecharmos os olhos ao novo, se o novo nos assusta e aposentamos nossos ideais. Envelhecemos quando pensamos demais em nós mesmos, em nosso comodismo e em nossos interesses. Somos velhos quando deixamos de lutar.
Estamos todos matriculados na escola da vida e o mestre se chama tempo. E esse mestre é um juiz inflexível. O passado serve como referência e não como desculpa. O carro precisa de retrovisor, mas é perigoso dirigir olhando para ele. A vida está em nossa frente. Na juventude aprendemos, na velhice compreendemos. Nossa vida pode ser comparada ao vinho. O tempo estraga os ruins e consagra os bons. Nos olhos dos jovens fulgura a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.
A idade, nós a criamos. Podemos ser jovens ou velhos. Não devemos contar a idade, mas festejar a vida. Nem a tristeza do passado, nem o medo do futuro, mas a alegria do presente. O romano Catão começou a estudar grego aos 80 anos. Quando questionado, justificou-se: se não o fizer agora, quando o farei?
O tempo de Deus é agora. Agora é o tempo de partilhar, de lutar, de ser feliz. Agora, se for o caso, é o tempo de recomeçar. À semelhança do bom ladrão, podemos amadurecer em qualquer idade, até nos cinco minutos finais. Afinal, você está vivo, não está?

terça-feira, 25 de março de 2014

ENCANTAR-SE... UMA BELA FORMA DE VIVER.

Andei descobrindo que tudo na vida é encantar-se. Estar encantado é deixar-se possuir pela realidade que estamos contemplando, pela música que estamos escutando, pela pessoa com quem estamos conversando.
Encantar-se é esquecer-se para penetrar na realidade e nos fatos que estão diante de nós. É deixar de ser o centro de nós mesmos para que outro centro vá nos possuindo.
Estudei filosofia e me comunicaram que estudar filosofia é deixar-se encantar. Que todos os grandes filósofos e cientistas assim se tornaram porque se deixaram encantar por aquilo que se propuseram e pelo sonho que viam poder realizar.
Estudei teologia e me ensinaram que estudar teologia é encantar-se pelas coisas de Deus, que todos os santos se realizaram como santos porque se deixaram encantar por Deus e por tudo aquilo que manifesta Deus.
Assim fui aprendendo a me encantar. Apenas despertando para isso. Mas percebo que é o único caminho que satisfaz. É o único caminho que exercita para a liberdade. É o caminho do deixar-se possuir em vez de possuir. As pessoas de nossa sociedade não conseguem entender esse caminho pelo simples fato de que se deixam aprisionar pelo consumismo e pelo materialismo, pelo desejo de fama e de aparecer.
Estou descobrindo - outras pessoas já descobriram muito antes - que o desrespeito pela mãe e irmã terra se dá pela falta de encantamento. A flor já não vale pela beleza, pelo encantar-se pela sua beleza, mas pelo lucro que ela fornece. O pássaro faz pouca gente parar para escutar seu canto. Ele vale como comércio. Por isso existe o comércio dos pássaros. Não se planta um pinhão, que somente dará retorno daqui a vinte anos. É preferível plantar eucaliptos, que em poucos anos estarão respondendo à fome de lucro. Por mais que se fale em proteção de nossa terra, em não poluir as águas, em não colocar veneno na plantação, em não poluir o ar, a resposta é mínima. A pessoa materialista não fica sensibilizada com essas propostas. Em seu coração não há o encantamento, mas o desejo de ter e desfrutar o máximo em pouco tempo.
A pressa é resultado de quem não se encanta. Para encantar-se é preciso parar. É preciso ir devagar. Nenhum passageiro irá ver os pormenores das beiradas das estradas andando a cem por hora. E as pessoas, com vontade de tudo fazer e ter, correm a mais de cem por hora no dia-a-dia, chegando no final da jornada cansadas e chateadas.
Canta o poeta: “vou devagar porque tenho pressa”. Encantar-se é dar-se tempo para sentir o gosto da comida e do vinho. É sentar-se para saborear um livro ou um jornal. É dar-se tempo para uma caminhada e um conversa com as pessoas amigas. É sentar-se para tomar na mão as ações que se praticou, as emoções que se viveu, os encontros que se realizou. Encantar-se é perceber que neste universo - e mais ainda nesta terra - tudo tem seu sentido e sua beleza. Nada é por nada. Tudo tem um tudo.

segunda-feira, 24 de março de 2014

SERÁ VOCÊ UM HIPOCONDRÍACO?

Em tempos de remédios falsificados e laboratórios sedentos de lucros exorbitantes, vale lembrar deste consumidor compulsivo que faz da bula Bíblia: o hipocondríaco. Ele padece do mal de ter mania de doenças e adora tomar remédios. Ao passar à porta da farmácia não resiste e pergunta: “O que tem de novidade?”.
Nada mais ofensivo ao hipocondríaco do que erguer um brinde e desejar-lhe “saúde!” Ele só frequenta coquetel de vitaminas. Encara sempre o interlocutor com aquele olhar de quem diz “ando sentindo coisas que você nem imagina”. No telefone, faz voz de vítima. Cara a cara, suplica, silente, a compaixão alheia.
Está sempre entrando ou saindo de uma gripe; já tomou todas as vacinas; sofre da coluna; padece de insônia; e trata médico como faz com motorista de táxi: “Tá livre?”
O hipocondríaco entra na Justiça exigindo mandado de prisão contra os radicais livres e duvida que alguém possa imaginar o tamanho da enxaqueca que teve ontem. Enquanto outros fazem shopping, o prazer do hipocondríaco é visitar drogarias de vitaminas importadas. Ingere pela manhã o abecedário em drágeas e nunca se deita sem antes tomar um chá de ervas. Hipocondríaco não tem plano de saúde; prefere cota de cemitério. Gosta de se separar da família para morrer de saudades. E fica doente de raiva quando alguém diz que ele aparenta boa saúde.
O autêntico hipocondríaco carrega sempre uma dorzinha de lado, uma unha encravada, uma afta na boca, uma irritação na garganta, uma dor na coluna e umas tonturas estranhas.
Para o hipocondríaco, esposa ideal é a que banca a enfermeira; cadeira
confortável é a de rodas; e cama macia, a de hospital. O hipocondríaco é a única pessoa que, pelo som, distingue sirene de ambulância da de viatura de polícia e de bombeiro.
O guru do hipocondríaco é Hipócrates, e sua filosofia se resume nesta questão metafísica: “Se a gente nasce deitado e morre deitado, por que não viver deitado?”
O hipocondríaco morre de medo da vida saudável. Está convencido de que a diferença entre o médico e ele é que o primeiro conhece a teoria e, o segundo, a prática. Nunca pergunte a ele: “Vai bem?” É preferível: “Melhorou?”
O hipocondríaco só assina revistas médicas e, nos jornais, lê primeiro o obituário. Mas, ao contrário do que se pensa, o hipocondríaco não quer morrer - isto o curaria de sua loucura.
Nunca convide um hipocondríaco a matricular-se numa academia de ginástica. Ofereça-lhe um check-up. Os únicos exames que ele aceita fazer são os clínicos e adora ser reprovado. Se faz cooper, a perna dói; se pratica natação, fica resfriado; se flexiona o abdômen, sente dor nas cadeiras.
O hipocondríaco escuta o médico com a mesma atenção que o bêbado ouve os conselhos do abstêmio. A turma do hipocondríaco se reúne em porta de farmácia e tira férias em clínicas de repouso. Nunca deseje “bom dia” a um hipocondríaco; pergunte: “Levantou melhor?” Aliás, ele não se levanta; tem alta. No aniversário, dê a ele um vidro de remédios. Todo hipocondríaco é viciado em aspirina, vitamina C e melatonina.
O hipocondríaco considera incompetente todo médico que diz que ele não tem nada e acredita em tudo que a mídia fala sobre cuidados com a saúde. Quando viaja, não se hospeda; se interna. No bolso de dentro do paletó ele não carrega caneta, mas termômetro. E sempre reclama de que já existem telessexo, telepiada, telepizza, só falta o teledoença: você liga, descreve os sintomas e, do outro lado da linha, uma voz de médico prescreve a medicação.
Deve ter sido um hipocondríaco quem deu ao remédio que combate infecções o nome de antibiótico - que significa “contra a vida”. O hipocondríaco não tem remédio. Ele só se cura quando morre e, paradoxalmente, a morte é o sintoma mais óbvio de que ele tinha razão. Pena que não possa levantar-se do caixão e enfiar o dedo na cara de quem o tratava pejorativamente como hipocondríaco. De qualquer modo, repare como ele, defunto, traz um sorrisozinho de vitória nos lábios.

sábado, 22 de março de 2014

POLUIÇÃO E MAIS POLUIÇÃO.

Passava por uma avenida, acompanhado de um casal, quando perdemos o endereço que procurávamos. Eram tantos os letreiros, cartazes, placas e indicações que levamos 10 a 15 minutos para achar a loja que procurávamos. Estava escondida no meio de milhares de mensagens. A poluição visual se caracteriza pelo excesso de mensagens. Somos obrigados a ver o que não buscávamos e temos dificuldade de ver o que procurávamos.
Dá-se o mesmo com os sons. São tantas as emissoras de rádio, tantos os programas, tantas as pessoas a nos dizerem “compre, venha, creia, ouça-nos”, que depois de um tempo acabamos nem mais manuseando o nosso rádio. Ficamos numa estação e não nos importamos mais com o que houver nas outras. Ou selecionamos quatro ou cinco e não saímos dela. O resto não existe porque incomoda-nos ter que ouvir tanta gente a nos dizer o que é certo e o que não é, o que é verdade e o que não é.
Pelas Constituições da maioria dos países, toda pessoa tem o direito de se comunicar. E todos também têm o direito de não querer determinadas comunicações. Todos têm o dever de seguir algumas comunicações do governo, do trânsito, do partido, da prefeitura ou da Igreja, mas temos que escolher para não sermos sufocados pelo excesso de verdades e de promessas.
O mundo está poluído por excesso de emanação de gases tóxicos, de incêndios e de sujeira nas ruas; excesso de cartazes, de igrejas e púlpitos e pessoas gritando na rua as verdades da sua fé; excesso de altofalantes, de automóveis com o som ligado ao máximo e de lojas propagando para todo o bairro seus produtos; excesso de som, de imagens, de certeza, de fé, de Deus, de anjos, de demônios. A falta de equilíbrio e de moderação na comunicação provoca sérios ruídos.

sexta-feira, 21 de março de 2014

ALARGAR OS HORIZONTES

A terra já foi definida como um vale de lágrimas. Na realidade, a dor, o sofrimento, as limitações se constituem o pão nosso de cada dia. Mas nossa vida não é apenas isso. Depende da ótica assumida. Muitos apenas olham o espelho, olham a si mesmos, outros olham pela janela, olham para os outros, olham uma realidade mais ampla.
Abatido, um jovem deixou que a tristeza tomasse conta de sua vida. Não saía de casa, não participava de nada, não mais se interessava com os outros. Amadurecido pela experiência, um mestre pediu ao jovem que colocasse uma mão cheia de sal num copo de água. Qual é o gosto? O jovem admitiu que era horrível. O mestre sugeriu então outra experiência. Dirigiram-se a um lago carregando em sua mão um punhado de sal, que foi jogado em suas águas límpidas. Beba um pouco desta água, pediu o mestre. Qual é o gosto? Bom, admitiu o jovem.
Enquanto caminhavam, o mestre falou sobre as duas experiências. A dor na vida da pessoa não muda, mas sua intensidade depende de onde a colocamos. Quando a dor nos atinge, precisamos aumentar o sentido das coisas. Não podemos reduzir-nos a um copo. Precisamos tornar-nos um lago.
Dificilmente passa um dia sem que tenhamos algum sofrimento. Mas existem sofrimentos que esmagam a pessoa. Se o sofrimento é inevitável, cada um de nós tem o direito de escolher a maneira como vai sofrer. A pior alternativa é fechar-se em si mesmo e revoltar-se. Neste caso, a pessoa acrescenta ao seu sofrimento o sofrimento maior da revolta. Porém podemos escolher outra abordagem: acolhê-lo com amor. Isso não significa passividade. Temos o dever de superar todo o sofrimento, até por uma questão de fé. Deus quer que seus filhos e filhas sejam felizes. Nossa dor diminui e desaparece quando nos preocupamos com o sofrimento alheio. O serviço é a melhor terapia para curar a tristeza.
É inteligente fazer a paz com o passado. Ele é imutável. Aceite-o como ele foi. É inteligente também não querer carregar hoje o possível sofrimento de amanhã. Suporte hoje a dor de hoje. Não acrescente a de ontem, nem tente arcar com a de amanhã. E aprenda com a dor. Mesmo o acontecimento mais negativo tem algum ponto luminoso.
E não se isole. Não sofra sozinho. A palavra tem valor medicinal. Externe sua dor, sem ser repetitivo. Acolha as observações e os convites dos outros. Por fim, lembre a solidariedade do mestre “Vinde a mim vós todos que estais cansados e Eu vos aliviarei . Jesus salvou o mundo pelo sofrimento. O sofrimento pode e deve ser redentor.

quinta-feira, 20 de março de 2014

MEDIUNIDADE

O conhecimento humano é ainda muito pequeno, especialmente em se tratando da pessoa humana. O mundo exterior está sendo mais fácil. As coisas são como são e pronto. Mas o mundo humano é como o tempo. Muda a todo momento. Na caminhada humana não há duas situações que se repetem, nem dois momentos iguais. O ser humano, desde a sua concepção até a morte, permanece um mistério, que somente um Deus que elaborou esse complicado e maravilhoso mundo pode entender. Nenhuma criatura humana se entende totalmente, nem a si e nem a seu semelhante.
Assim acontece com o fenômeno chamado de mediunidade. Humanamente, filosoficamente, teologicamente e cientificamente é impossível uma mediunidade, como um jogo de espíritos entre as pessoas. Não somos joguetes de ninguém. Somos únicos e irrepetíveis. Somos uma identidade eterna. Mas, como é mais fácil buscar explicações externas e até atirar a responsabilidade em outras entidades, criam-se teorias para tentar explicar esses mistérios.
Sou médium de fora para dentro. Há um mundo exterior e um mundo interior. Sabemos que pelo fenômeno do registro automático da memória nada foge de nosso interior. Tudo fica registrado, desde a concepção até o momento de nossa morte. Nosso corpo, com todos os seus sentidos, se torna o meio de levar tudo o que vemos e ouvimos, tudo o que sentimos e percebemos. Nosso inconsciente se torna como um depósito de tudo o que se passa ao redor e dentro de nós. Tudo é registrado, tanto o conteúdo positivo como o negativo. E um dia tudo isso vai se manifestando e se transformando em nossos atos e realizações. Vai se transformando em artes e sonhos, em medos e entusiasmos, em fracassos e sucessos. Nosso corpo é o “médium” que leva tudo para dentro de nós e ali tudo vai sendo elaborado.
Sou médium de dentro para fora. Meu corpo se torna o meio da manifestação de meu inconsciente. Sou como uma máquina projetora que coloca na tela da vida todo o conteúdo interno. Meu inconsciente, se estiver cheio de coisas boas, vai fazer de minha vida realização, serenidade, coragem e sucessos. Se estiver repleto de conteúdo negativo, colocado ali por uma educação errada, vai me projetar no dia-a-dia da vida em pessoa medrosa, agressiva e violenta, com pesadelos e medos; em pessoa que não consegue se realizar, nem no trabalho e nem nas relações. E não há espíritos que vão se manifestar em mim, nem em sonhos e nem em vozes, nem em imagens e nem em doenças. Meu corpo, com sua maravilha de comunicação, será o médium que projetará fora de mim todo o conteúdo de meu inconsciente.
Sou um médium para as pessoas. Que bom poder ter dentro de mim toda a bondade e ternura do mundo. Toda beleza e grandeza da vida. Todo poder da fé e da esperança, toda a grandeza de Deus, através do meu corpo, de meus olhos e voz, de meu rosto e de minhas mãos, de minhas atitudes e decisões, ser um médium de mim mesmo para enriquecer a outros seres humanos, carentes como eu, de vida em plenitude.

quarta-feira, 19 de março de 2014

COHOUSINGS UM NOVO JEITO DE MORAR CHEGA AO BRASIL

É quase um condomínio, no qual cada família tem seu espaço privativo. A diferença está na possibilidade de reduzir o tamanho das casas ou dos apartamentos em troca de ambientes usados por todos. Um exemplo é a lavanderia comunitária, em que três ou quatro máquinas de lavar resolvem a demanda de dez ou mais grupos.

Nas cohousings – que surgiram na Dinamarca nos anos 70 e hoje são comuns principalmente na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá -, é assim também com a biblioteca, a horta, a oficina, a brinquedoteca, o refeitório, a sala de TV e, em alguns casos, até os carros. “Compartilhar diminui o consumo e o impacto ambiental, além de facilitar o dia a dia dos moradores, que ganham qualidade de vida, com menos necessidade de trabalho e dinheiro”, afirma o arquiteto Rodrigo Munhoz, do escritório Guaxo Projetos Sustentáveis, de Piracicaba, SP.

“Desse modo, as pessoas se sentem mais seguras, num clima de vida no interior, embora tenham acesso a tudo o que a cidade grande oferece”, completa Munhoz, que está formando um grupo para criar em sua cidade a primeira cohousing brasileira, com habitações sustentáveis, princípios de boa vizinhança e cotidiano menos dispendioso

terça-feira, 18 de março de 2014

O DOM DA PERSISTÊNCIA

Volúvel é o ser humano. Não se fixa em muitas coisas. Muitas vezes se fixa é no pecado, no qual não deveria perseverar enquanto abandona e trai a virtude, essa sim, motivo para perseverar. Não poucas vezes, o casal começa com juras de amor e de carinho eternos. Vem a dificuldade e um deles desiste. Pai ou mãe chora de emoção com o nascimento do filho no hospital. Vem um momento de dificuldade e ele ou ela acaba fugindo de casa, sem o filho por quem chorou no dia do nascimento.
O religioso se compromete, assume os votos. Vem a dificuldade e ele opta por outro caminho. Não estava mais aguentando aquele sacrifício. Descobriu que não estava pronto para tamanho peso.
Assim, os que trocam de empresa, de profissão, de amor, de família! Todos eles seguiram outro caminho, ou porque o achavam melhor ou porque o outro estava difícil demais.
Ninguém pode condenar alguém porque mudou. Sem conhecer todos os porquês, não há como emitir um julgamento. Na verdade, jamais conheceremos todos os porquês de uma pessoa.
Fato é fato. A nossa é uma sociedade em que pouco se favorece o dom da persistência e da perseverança. Pelo contrário, muitíssimas mensagens sugerem que sempre se busque o novo. Embutido na proposta, o conselho de que quando as coisas ficam difíceis não faz sentido continuar...
É graça que se deve pedir.

segunda-feira, 17 de março de 2014

" CARTA A UMA MENINA".

No Dia Internacional da Mulher pensei a quem homenagear. E só você me vinha à cabeça. Você que é uma menina de apenas nove anos, que tem um corpo frágil e magrinho, cabelinhos compridos atados em rabo de cavalo. Você que deveria estar brincando com bonecas e, no entanto, teve sua infância brutalmente interrompida dentro de sua própria casa. Você de quem não sei o nome, mas de quem acompanhei a tragédia pelos jornais, televisão e toda a mídia disponível neste mundo que se excita de curiosidade com o sofrimento alheio.
Aquele que acabou com sua vida de menina vivia em sua própria casa e era marido de sua mãe. Mas ele não era uma pessoa normal e por isso, às escondidas como costumam agir os criminosos, além de ter sua mãe no leito, também para lá levava você e sua irmã mais velha, que além de ser menor é deficiente física. Abusava de vocês que, por medo ou por inocência, não se queixavam nem o descobriam diante de sua mãe. E o estupro silencioso continuava povoando a casa que devia ser de convivência familiar, transformando-a em bordel sem paga, usando duas menores para saciar a sede de sexo de um homem que não era marido nem padrasto e sim tarado e criminoso.
Você certamente não entendia nada do que estava se passando com seu corpinho de menina. Não entendia por que aqueles seios crescidos, as dores no ventre, o mal estar. Tinha medo de perguntar. Medo de ser mal compreendida, medo de apanhar, de ser castigada. Por isso calou até que as dores se tornaram insuportáveis e você se abriu com sua mãe, que constatou sua gravidez de gêmeos. Sua mãe que nunca desconfiou de nada, porque seu padrasto tratava você muito bem.
Eu acredito nela. São tão indefesas as mulheres diante do homem a quem amam e com quem vivem, muitas vezes. São tão impotentes para reconhecer que muitas vezes eles só querem fazê-las de ponte para usar as filhas menores que estão com elas. Não foi apenas sua mãe que sofreu esse horror. A grande atriz Mia Farrow teve que passar pela dor de ver seu marido, o talentosíssimo diretor Woody Allen, admitir que molestava sexualmente suas duas filhas - uma de 15 anos e outra menor ainda - e que ia separar-se dela para viver com a mais velha, uma linda vietnamita que os dois haviam adotado para criar e proteger.
Eu sei, querida, que mal de muitos não é consolo, a não ser de bobos. Seu caso, infelizmente, apenas engrossa estatísticas que já têm dimensões simplesmente terríveis. Nestas últimas semanas, nosso noticiário esteve cheio de casos de meninas como você, que foram violentadas, sofreram constrangimentos e morreram em consequência da violência de que foram vítimas.
Por isso, quando todos celebram as conquistas da mulher emancipada no mercado de trabalho, na vida sexual e em não sei mais quantos terrenos, eu quero homenagear você. A mídia parecia não se interessar muito por sua pessoa. Estava mais preocupada em confrontar os médicos, o bispo, a polícia etc.
Eu estou preocupada com você. Gostaria de estar perto para poder abraçá-la, beijá-la, dizer-lhe que é uma pessoa amada e querida por Deus que a criou; que toda essa maldade que se abateu sobre você não pode destruir sua identidade de filha de Deus; que com a ajuda dele poderá superar tudo isso e transformar sua dor em ajuda, para que outras meninas não sofram o que você sofreu.
Como estou longe, não posso dar-lhe mais que esse texto. Que você o sinta como um afago, mesmo sem lê-lo. Que seu frágil corpinho nos sirva de ícone para lembrar-nos que enquanto a violência contra a mulher, sobretudo aquela que é menor de idade, for uma realidade tão constante em nosso país, não faz o menor sentido comemorarmos estatísticas que falam de libertação da mulher. As vítimas nos interpelam e a nossos discursos triunfalistas. Voltemo-nos para as prioridades que ainda não estão atendidas. E quando se virem os frutos, aí sim, poderemos celebrar.

domingo, 16 de março de 2014

AMOR: QUADRO OU MOLDURA?

Dois namorados - Gustavo e Jocelane - universitários, pouco acima dos 20 anos, aguardavam o padre na secretaria paroquial. Assunto: casamento. Gostariam que o sacerdote presidisse seu casamento. Tomando a agenda, o padre aguardou dia e hora da cerimônia. O noivo esclareceu: quando o senhor tiver tempo, qualquer dia desses, qualquer hora... E como o padre continuasse sem entender, explicaram que pretendiam um casamento simples, sem festas. Eles namoravam há cinco anos e sabiam o que queriam. Estavam preocupados com aquilo que o casamento tem de sagrado e não com as exterioridades. Estavam preocupados com o quadro e não com a moldura.
Algumas semanas depois, numa pequena capela lateral disseram o sim um ao outro e ambos a Deus. Na lista dos convidados, apenas os pais, dois casais de padrinhos e o padre. Não houve fotógrafo, nem música, nem tapetes, nem vestido de noiva, nem banquete, nem curiosos. Mas, na realidade, não faltou nada. Passaram-se anos, a cegonha chegou e continuam cada vez mais felizes. Eles haviam construído sua casa sobre a rocha.
Na mesma igreja, mas no altar central, alguns dias após, outros dois jovens receberam o sacramento do matrimônio. Foi o casamento do ano. A igreja estava enfeitada com rosas e tulipas da Holanda e centenas de velas. Mais de 600 pessoas haviam sido convidadas para assistir ao espetáculo. O ambiente era de uma grande feira, com fotógrafos, cinegrafistas, aias, jornalistas e curiosos. Deslumbrados, os noivos não prestaram atenção à leitura do Evangelho que falava da casa construída sobre a areia. Depois houve uma grande festa, presentes e lua-de-mel em Arruba. Passaram-se apenas alguns meses e eles se separaram.
Na divisão dos presentes, ninguém quis ficar com o vídeo, que foi para o lixo. Nem mesmo chegou a ser visto pelos familiares. O mesmo destino tiveram as fotos com seus sorrisos forçados. Eles haviam dado atenção à moldura. Quadro e moldura, agora, foram para a lixeira.
O insuspeito jornalista, Stephen Kanitz, afirma: “O casamento é um momento de consagração de duas pessoas, de promessas que deverão ser lembradas e guardadas todo o dia e para sempre, não arquivadas numa fita magnética na última gaveta do armário menos acessível. O altar não é um lugar para ficar posando para fotógrafos, mas para refletir o que cada um está prometendo ao outro. A lembrança deste momento mágico deverá ficar registrada, mas na mente e no coração”.
Além de vocação humana, casamento é um projeto de Deus. Não se trata de um espetáculo para ser visto, mas um projeto para ser vivido. Não se trata de um show para o público, mas um compromisso pessoal marcado pela dimensão divina

sábado, 15 de março de 2014

Vangelis 1492 Conquest Of Paradise




A FÉ NA MÍDIA

Por curiosidade tomei tempo e resolvi zapear as emissoras FM que entram na nossa região, pelo rádio do meu carro. Contei 31 emissoras, 14 delas com programação religiosa. Fiquei pensando no que há de bom e de mau em haver tanta gente anunciando soluções para os ouvintes, porque é isso o que quase todas fazem.
“Nossa loja é a melhor, temos os melhores produtos, melhores e mais baratos, conheça a melhor igreja, aqui tem mais Jesus, aqui há mais fé, mais milagres, mais curas, temos os melhores ternos, vestidos e sapatos, nosso banco é mais camarada, compre aqui que levará mais vantagem...”.
Todos se oferecem como lugares e grupos de solução. Fiquei ouvindo suas promessas e garantias de melhor produto e mais eficiência. Entendi, então, que esta é a era do marketing exacerbado. Vende mais e consegue mais quem mais se exalta e se enaltece.
O discurso de todos é muito parecido e repetitivo, alguns notoriamente vazios. Vivem de frases feitas e slogans. Também as igrejas.
Não há como deixar de perceber que se trata de marketing e religião demais. Como em imensa avenida repleta de painéis e propagandas, já não se percebe mais nem os prédios nem as pessoas. Tornamo-nos um país de letreiros, luminosos e apelos para comprar, aderir e vender. As mensagens perderam a isenção.
A maioria dos pregadores ou divulgadores deixa entrever quer só com eles é possível conseguir o melhor. Certamente, não é um tempo de modéstia.

sexta-feira, 14 de março de 2014

" TIRA ESSA MÃO DAÍ!

A mão invisível do Mercado ignora o bolso dos cidadãos. Viciada, sempre beneficia o bolso dos ricos. É o caso do Brasil. Diante da crise (e das próximas eleições) o governo trata de anabolizar o PAC, de modo que a mão do Mercado possa abastecer, o quanto antes, o bolso das empreiteiras e das empresas privadas encarregadas das obras.
Minha avó advertia: “Veja lá, menino, onde põe esta mão!” E me obrigava a lavá-la antes de sentar à mesa. Acho que a mão do Mercado é invisível porque jamais se lava. Ao contrário, lava dinheiro sem se lavar da sujeira que a impregna. É o que deduzo ao ler a notícia de que, nos paraísos fiscais, a liquidez dos grandes bancos foi assegurada, nos últimos anos, graças aos depósitos do narcotráfico.
A mão pode ser invisível, mas suas impressões digitais não. Onde o Mercado bota a mão fica a marca. Sobretudo quando tira a mão, deixando ao relento milhares de desempregados, jogados na rua da inadimplência, enforcados em dívidas astronômicas.
O Mercado é como um deus. Você crê nele, põe fé nele, venera-o, faz sacrifícios para agradá-lo, sente-se culpado quando dá um passo em falso em relação a ele - ainda que a culpa seja dele, como no caso da compra de ações que ele lhe vendeu prometendo fortunas e, agora, elas valem uma ninharia.
Como um deus, só se pode conhecê-lo por seus efeitos: a Bolsa, o salário, a hipoteca, o crédito, a dívida etc. Ele se manifesta por meio de sua criação, sem no entanto se deixar ver ou localizar. Ninguém sabe exatamente a cara que tem e o lugar onde se esconde, embora seja onipresente. E mete a mão, a temida mão invisível, essa mão mais execrável que a de tarados que ousam enfiá-la sob a saia da mulher de pé no ônibus.
Nem adianta gritar: “Tira essa mão daí!” Apesar de a mão invisível manipular descaradamente nossa qualidade de vida, privilegiando uns poucos e asfixiando a maioria, dela ninguém se livra. Como é invisível, não se pode amputá-la. Só resta uma saída: cortar a cabeça do Mercado. Mas isso é outra história. Hoje falei da mão. A cabeça fica pra outro dia.

quinta-feira, 13 de março de 2014

HÁ DOIS MIL ANOS ATRÁS.

Vivemos grandes mudanças através da história e, ao mesmo tempo, permanecemos os mesmos. As pessoas se fazem as mesmas perguntas: quem sou, donde vim, para onde vai a humanidade, qual o destino humano? A humanidade muda em suas aparências, mas no seu interior permanece com as mesmas interrogações e inquietudes.
Há dois mil anos as pernas humanas eram indispensáveis. Apenas o cavalo e algum veleiro lhes davam extensão. Tudo era feito em caminhada e praticamente todas as atividades eram feitas a pé. Hoje, aeronaves, trens, carros, motocicletas e outros meios de transporte prolongam a atividade das pernas. E o coração permanece o mesmo.
Há dois mil anos as mãos e os braços eram essenciais para muitas tarefas. Os braços e os músculos eram fundamentais para produzir alimentos e para a sobrevivência. Hoje, a roda e os equipamentos de todos os tipos, a máquina de lavar roupa e todos os utensílios domésticos, os teclados e os sinais de digitação fazem o serviço com muita mais rapidez e eficiência. E o coração humano permanece o mesmo.
Há dois mil anos o homem enxergava apenas o horizonte. Hoje ele se multiplica no telescópio e microscópio, na televisão e na imprensa. Seus ouvidos escutam muito mais e sua fala se prolonga através do microfone e do rádio. Hoje não há limite para o som e a imagem. As imagens e os sons, que são gerados em qualquer parte do planeta, minhas mãos podem acolhê-los com um simples toque. E o coração humano permanece o mesmo.
Há dois mil anos o conhecimento era privilégio de poucas pessoas. O mesmo conhecimento era passado de pais para filhos, simplesmente na técnica do escutar e decorar. Hoje temos a maravilha da imprensa e a possibilidade de recolher todo o conhecimento humano em grandes bibliotecas, e mais recentemente ainda, na espetacular memória dos computadores e da internet. E o coração humano permanece o mesmo.
Há dois mil anos se morria de sarampo e de gripe. Hoje a medicina e os laboratórios prolongam a vida em muitos anos.
Porém, no meio de tantas mudanças, desde as pernas até o cérebro, em nada alterou o coração humano, que teimosamente continua com as mesmas angústias e incertezas, com os mesmos desejos de vida e de eternidade. A inquietação humana permanece. Na verdade, tantos triunfos da ciência e da tecnologia humana foram superficiais. Continua-se satisfazer o estômago, mas o coração e a mente humana continuam inquietos. Dominam-se as doenças e o corpo, mas não se consegue evoluir no domínio do comportamento humano.
Que ser é esse que continua sendo o grande mistério indecifrável e indomável perante a ciência e a técnica? Não haverá respostas para a ansiedade e a inquietação do coração humano? Qual a vantagem para o ser humano em possuir tantos meios que facilitam a comunicação e o viver se o coração permanece no mesmo ritmo de milhares de anos passados? Pelo que se constata, estamos ainda no começo da evolução global do ser humano. Tudo está por fazer.

quarta-feira, 12 de março de 2014

SOMOS IMPULSIONADOS PELO PRAZER

Somos impulsionados pelo prazer. Fazemos nossas escolhas motivados pelo prazer. Comemos por necessidade, mas também por prazer. O doente perde o prazer de comer. É muito chato comer sem gosto e sem prazer. Dormimos por necessidade, mas também por prazer. Dormir com prazer é natural. A insônia e o medicar-se para poder dormir como necessidade apenas é doloroso. A noite se torna uma inimiga.
A procriação animal e humana passa pelo prazer. Não fosse por prazer, macho e fêmea não se procurariam. Homem e mulher não se encontrariam. Não fosse pelo prazer não haveria estupros e pedofilia, nem todos esses desvios e aberrações sexuais. Tudo se faz na busca do “meu prazer”. Não fosse pelo prazer não haveria procriação. A humanidade teria acabado. A motivação é o prazer e, como consequência, são concebidos e gerados filhos e filhas.
Melhor se tudo fosse realizado por amor. Não simplesmente por prazer. O amor supera o prazer. A natureza é tão sábia que tudo o que se faz por amor tem como resultado o prazer, a alegria e a satisfação. Sabe-se, pela experiência do amor vivido em cada ato do dia-a-dia, que quase sempre no amor está escondido o espinho e a dor, está a renúncia e doação, está o dar de si e o desprendimento. Mas tudo isso é passageiro e tem como consequência o prazer e alegria. Ao contrário do prazer pelo prazer que tem como consequência a desilusão e, muitas vezes, o sofrimento. O que é realizado simplesmente por amor, traz como resultado a alegria e o prazer. O que é realizado simplesmente pelo prazer, traz como resultado o sofrimento e a dor.
Aprendendo com a dor. É velho o ditado da sabedoria que diz: o que não se aprende com o amor se aprende com a dor. Dizemos mais: se aprende com a cabeça. Aprender com amor é, desde criança, ficar atento e aprendendo com as leis da vida e da natureza. A lei da vida é o que o corpo humano pede e exige. É o que o coração humano grita e exige que seja feito. É o que os sentimentos e as emoções reclamam e desejam ser satisfeitas. É o que a inteligência humana sabe, aprende, percebe e necessita ser atendida. Entrar nesse caminho, nos trilhos da vida natural, é aprender com amor. É ficar atento e ter consciência de ser gente, de ser pessoa humana, de ser criatura humana.
Aprendendo com a dor é fazer tudo errado. É comer e beber pelo simples prazer e cair numa indigestão ou bebedeira. É um homem conquistar sexualmente uma mulher à força pelo simples prazer e depois responder com processos e arrependimentos. O ideal é viver sem arrependimentos. Quer dizer, sem a acusação da consciência. Sem necessidade de consertar os erros.
A dor coloca nos trilhos da vida. Nem sempre. Há pessoas que vivem dando cabeçadas e morrem com a cabeça estraçalhada, sem aprender. Mas há pessoas que, tendo passado pela experiência da dor, encontram o caminho do amor. E só o amor constrói e realiza.

terça-feira, 11 de março de 2014

O MAIOR PROBLEMA DO EDUARDO CAMPOS É ELE MESMO

Eduardo Campos tem dois problemas. Um deles é Marina Silva. O outro, mais complicado, é ele mesmo.
Em Nazaré da Mata (PE), o governador de Pernambuco e virtual presidenciável disse que “não dá mais para ter quatro anos de Dilma. O Brasil não aguenta e o povo brasileiro sabe disso”. Afirmou também, referindo-se a Dilma, que “quem acha que sabe tudo não sabe de nada”.
Numa maratona de encontros em São Paulo, alguns deles ladeado por Marina, voltou à carga. “O arranjo político de Brasília já deu o que tinha que dar”, declarou. Dilma é “autoritária”, “foge do debate”, é “avessa ao diálogo”, vendeu uma imagem de gerente competente “que não se confirmou”, não fez a “faxina ética” que prometeu e “se acomodou” com os escândalos de corrupção” de seu governo. “Há uma crise de expectativa, uma crise política, uma crise econômica”, decretou.
Campos está em campanha e é, até certo ponto, natural ter subido o tom. Não decola nas pesquisas, não acontece, não nada.
Seu novo aliado é Jorge Bornhausen, ex-governador biônico de Santa Catarina, ex-senador e presidente do PFL. Hoje sem cargo, Bornhausen foi fundamental na criação do PSD de Kassab e deu uma mão a Marconi Perillo e Demóstenes Torres até o escândalo do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Seu filho, Paulo Borhausen, filiou-se ao PSB, que de socialista tem o nome.
Mas a grande questão de Campos passa pelas ideias. Onde elas estão? O que ele propõe, enfim?
Silêncio.
A tática de bater é um complemento à esterilidade que ele apresenta em sua conta nas redes sociais — um apanhado de lugares comuns, como “nossa vocação é pensar grande, é trabalhar para que os grandes sonhos e projetos do povo brasileiro virem realidade. É nisso que acredito”; “Só uma economia forte e pujante na sua sustentabilidade pode trazer um futuro melhor para os brasileiros”; “O Brasil precisa de um governo que jogue limpo, que trabalhe duro para defender nossa economia, que é a base da nossa soberania nacional”; “O IBGE divulgou hoje o medíocre PIB de 2013”. E blablablá.
Essa é a “nova política” de Eduardo Campos? No que a histeria ajuda agora? O que ele fez em Pernambuco de tão notável que o credencia a dar aulas? O estado está em 19ª posição no Atlas de Desenvolvimento Humano, aliás. Um empresário paulista que se mudou para o Recife teve dificuldades de registrar a empregada porque ninguém — ninguém — faz isso por lá.
É de uma miopia abissal. Ao invés de Bornhausen, Campos podia ser apresentado a gente como, por exemplo, Mujica ou o papa Francisco, dois reformadores e renovadores políticos. Um excelente template. Ou a alguém à direita com um conjunto de propostas. Qualquer coisa. O que o Brasil não aguenta — como ele diz — é o mais do mesmo que ele representa.

segunda-feira, 10 de março de 2014

PODERÁ RENASCER O NINHO DA SERPENTE?

Engrossada pela deterioração do estado de bem-estar social, a crise econômica, o desemprego e a pressão migratória - criada em boa parte pela própria Europa com o incentivo ao terrível pesadelo da “Primavera Árabe” - a baba do racismo, do ódio contra os ciganos e os árabes, do antissemitismo e do anticomunismo mais arcaico e bestial, espalha-se como peste seguindo o curso de grandes rios como o Dnieper e o Danúbio, criando uma sopa densa e corrosiva, apropriada para alimentar as ovas - nunca totalmente inertes - da serpente nazista.

Fruto de uma nação multiétnica, que estabelece seu passado e seu futuro na diversidade universal de sua gente, nenhum brasileiro pode ficar ao lado dos golpistas neofascistas ucranianos.

Não é possível fazê-lo, não apenas pelo senso comum de não apoiar uma gente que odeia e despreza tudo o que somos.

Mas, também, porque não podemos desonrar o sangue e a memória daqueles cujos ossos descansaram no solo sagrado de Pistóia.

De quem, em lugares como Monte Castelo e Fornovo di Taro – onde derrotamos, em um único dia, a 148 Divisão Wermacht e a Divisão Bersaglieri Itália, obtendo a rendição incondicional de dois generais e de milhares de prisioneiros – combateu, com a FEB, o bom combate.

Dos soldados e aviadores que, com a força e a determinação de 25.700 corações brasileiros, ajudaram a derrotar, naquele momento, a serpente hitleriana.

No afã de prejudicar e sitiar a Rússia, criando problemas à sua volta, em países que já a atacaram no passado, o que a UE não entendeu, ainda, é que o que está em jogo na Ucrânia não é o apenas o futuro do maior país europeu em extensão territorial, nem mesmo o de Putin, mas o da própria Europa.

Até agora, o neonazismo se ressentia de um território grande e simbólico o suficiente, do ponto de vista de uma forte ligação com o anticomunismo e com o nacional-socialismo, no passado, para servir de estuário para o ressentimento e as frustrações de um continente decadente e nostálgico das glórias perdidas, que nunca se sentiu realmente distante, ou decididamente oposto, ao fascismo.

Faltava um lugar, um santuário, onde se pudesse perseguir o mais fraco, o diferente, impunemente. Um front ideológico e militar para onde pudessem convergir – como voluntários ou simpatizantes - militantes da supremacia branca de todo o mundo.

Um laboratório para a criação de um novo estado, com leis, estrutura e ideologia semelhantes às que imperavam na Alemanha há 70 anos.

Se, como tudo indica, os neonazistas se encastelarem no poder em Kiev, por meio de eleições fraudadas, ou da consolidação de um golpe de estado desfechado contra um governante eleito, o ninho da serpente poderá renascer, agora, no conflagrado território ucraniano.

sexta-feira, 7 de março de 2014

TRANSFORMAR AS EMOÇÕES EM EMOÇÕES SAUDÁVEIS.

Desde o útero da mãe somos marcados por emoções de todos os tipos. Emoções que são reações diante das atitudes e fatos que nos rodeiam. Desde a concepção somos invadidos por emoções de alegria e tristeza, de paz e guerra, de medo e coragem, de segurança e ansiedade, de felicidade e infelicidade, de solidão e amor, de acolhida e rejeição, de contentamento e ilusão. Desde os primeiros dias de vida somos invadidos e marcados por uma variedade enorme de emoções, tanto sadias como doentias. Felizes as crianças que, desde o útero materno, se sentem envolvidas por emoções sadias. Crescerão como árvores bem cuidadas e alimentadas pela luz da mãe, pelo calor do pai, pela umidade dos familiares e pela terra boa da sociedade. Sabemos que nem todas as pessoas crescem nesse clima e ambiente de realização. Muitas nascem, crescem e vivem envolvidas em emoções doentias. Mas, no decorrer da vida, tomando consciência das próprias emoções doentias, torna-se possível trabalhá-las, tomá-las na mão e mudar as emoções em atitudes positivas.
TOMAR NA MÃO AS RAIVAS e transformá-las em mansidão. Utilizar a energia interna das raivas, conversar com as raivas, saber de sua causa e transformá-las de lobo em cordeiro, de leão em animal de estimação.
TOMAR NA MÃO OS MEDOS e transformá-los em atitudes de vencedores. Tomar a energia negativa dos medos para transformá-los em cuidado com a vida e em serenidade nas decisões.
TOMAR NA MÃO A ANSIEDADE e transformá-la em paciência. Transformá-la em sonhos possíveis e em futuro com jeito de paraíso e de paz.
TOMAR A SOLIDÃO NA MÃO e transformá-la em encontro realizador. Gostar de estar só para sentir-se ligado ao universo e a todas as criaturas. Para sentir-se ligado a toda a humanidade, que cabe total no coração. Transformar a solidão em casa e templo de Deus. Assim a solidão se torna criadora de relações e não destruidora de vida.
TOMAR NAS MÃOS A REJEIÇÃO e transformá-la em acolhida de todos e de tudo. Amar a cada pessoa como gostaria de ser amado. Acolher cada pessoa como gostaria ser acolhido. Assim o pólo negativo vai aos poucos se transformando em positivo e aquilo que aparecia como rejeição vai tomando rosto de aceitação e acolhida.
TOMAR NA MÃO A INSEGURANÇA, a indecisão e a insatisfação, as frustrações e bloqueios e transformá-los em forças positivas. É o lixo que atrapalhou a vida se transformando em luxo de novas atitudes e sonhos.
Mas, há um segredo. Abandonar, até certo ponto, médicos e psicólogos, benzedores e milagreiros e buscar dentro de si o poder da mudança. Sentar-se, conversar com as próprias emoções, descobrir novas possibilidades e assumir novas atitudes para viver novas emoções.

quinta-feira, 6 de março de 2014

TRANSFORMAR IDÉIAS EM IDÉIAS SAUDÁVEIS.

Não podemos ser tela de televisor, divulgando noticiários negativos e desastrosos. Parece ser missão dos meios de comunicação comunicar o anormal e o fora da lei. É uma pena, porque na rua estão acontecendo noventa e nove coisas boas, ocorre um fato negativo e esse faz esquecer a esmagadora maioria das coisas boas. E o pior, dá a impressão de que tudo está errado. Assim são os noticiários. O fato negativo dá a impressão de que tudo é negativo. Passam pela mesma estrada mil carros. Apenas um se desastrou. A impressão que fica é que o trânsito está um caos. Na verdade está muito bem. Há novecentos e noventa e nove acertos. Apenas um erro.
Por que ficar com o erro? Assim é a tela de nossa vida. Se penso que o mundo está torto, tudo aparece torto. Se penso que tudo por aí anda bem, vejo as coisas andando bem. Na verdade,como se pensa se vive e se vê. Como está dentro de nós,vemos fora de nós. Muitas vezes o desastre não está fora de nós. Está dentro. Somos uma projeção do que pensamos.
AS GRANDES IDÉIAS COMANDAM A SOCIEDADE. Tanto as positivas como as negativas. Foram grandes idéias-chaves que criaram o capitalismo e o comunismo, o nazismo e tantos outros ismos que ainda fazem a cabeça de nossa sociedade. Mas também são as pequenas e poderosas idéias pessoais que comandam nossa ação, que criam nossas relações com o trabalho e com as pessoas, com a vida e com Deus, de uma maneira sadia ou doentia. Meu pensar é que me comanda.
ESCOLHER IDÉIAS REAIS E POSITIVAS. Ser realista. Pensar conforme a realidade da vida. É bom sonhar, mas não se vive de sonhos. Idéias e sonhos pé-no-chão. Idéias construtivas e positivas. Para isso é necessário encher o copo e o balde da vida de idéias boas, encher o cérebro de idéias novas. Para isso é necessário:
VER E LER A REALIDADE DA VIDA. Pensar a realidade. Parar diante dos fatos e refletir. Fazer de cada acontecimento uma escola para a vida.
REFLETIR SOBRE SI MESMO. O que está acontecendo comigo? Por que está acontecendo isso? Qual a causa? Quando começou? É necessário estudar-se e sentir-se. Sentar diante do livro de nosso coração e refletir o que sentimos e como devemos agir para amadurecer nosso pensar e agir.
LER LIVROS E PESSOAS. Cada livro é uma pessoa, sua história e sua maneira de pensar, e cada pessoa é um livro. É uma experiência, nem sempre escrita, mas vivida e que pode ser uma ajuda para outras pessoas na mesma situação. Ler e ler, ler e ler sempre mais. Fazer do ler um lazer e um aprender. Cada livro lido é um novo mundo que chega a mim.
ESTUDAR E BUSCAR CONHECIMENTOS. A vida já é um livro. O estudo é o aprofundamento do livro da vida. Como a vida é uma realidade infinita e de infinitas possibilidades, cada pessoa vai descobrindo os segredos da vida e do universo. Estudar é aprender e acolher a descoberta de tantas pessoas que pensaram a vida e os fatos.
É PRECISO DEIXAR-SE DIRIGIR por idéias saudáveis. De vida e esperança. De otimismo e progresso. De possibilidade de sociedade saudável. Idéias saudáveis criam vida saudável.

A MAGIA DO ESPELHO.

Durante alguns séculos, a Espanha foi dominada pelos árabes muçulmanos. Após a surpresa inicial, começou a chamada Reconquista. Os jovens cristãos eram incentivados a participar dos torneios, fortalecendo a coragem e o vigor físico, preparando-se assim para - mais tarde - lutar contra os mouros. Surgiram daí episódios épicos. O mais conhecido, talvez, seja o do El Cid Campeador, que derrotou dezenas de príncipes árabes.
Com a finalidade de incentivar um jovem medroso, que não aceitava participar dos torneios, o pai deu-lhe um espelho dourado. Explicou que era mágico: seu portador jamais seria derrotado em torneios ou mesmo em batalhas. A partir daí, a vida deste jovem modificou-se. Ele venceu todos os torneios, com incrível capacidade de manejar armas. Sua coragem e habilidade tornaram-se, mais tarde, lendárias nos combates.
Passados anos, imaginando que isso não faria mal algum, um companheiro revelou a verdade. O espelho não era mágico, era um espelho comum. A valentia era pessoal. Imediatamente a insegurança voltou e o guerreiro não mais participou de torneios e combates, recolhendo-se a uma vida sem garra e sem sentido.
Cada um de nós é portador de uma auto-imagem. Isso significa a maneira como nos vemos. Uma auto-imagem positiva desencadeia grande dinamismo, enquanto uma auto-imagem fraca faz com que seu portador se esconda. E porque não acredita em si mesmo, acaba fracassando. A auto-imagem é formada nos primeiros anos de vida. Esses “comandos iniciais” que se originam a partir da opinião dos pais, familiares e mestres, tendem a se perpetuar. Mas isso não é definitivo. Existe a possibilidade de reação. A pessoa, num momento qualquer, pode tomar uma decisão e empunhar as rédeas da própria vida. O medo pode ser comparado a um cachorro. Na medida em que o tememos, ele se torna mais valente. Quando corremos, ele corre mais, mas quando paramos, ele também pára e podemos mesmo afugentá-lo. Em qualquer etapa da vida podemos dizer: de hoje em diante será diferente.
Nós não dependemos de coisas mágicas. A autoconfiança, o valor, a magia estão dentro de nós. Não é o espelho que nos dá certeza. É a maneira como olhamos a figura que está no espelho. Nem sempre percebemos nossa real dimensão. A criatura humana é demasiadamente grande para bastar a si mesma. Deus nos revela nossa verdadeira grandeza. Existe uma dimensão mágica e real em nossa vida: a fé. A certeza de um Deus que nos ama, que caminha conosco, nos possibilita enfrentar todas as batalhas da vida. De resto, não é só a vitória que tem sabor. Nossa realização está na luta. Combater o bom combate tem todo o significado e o sabor de vitória. É isso o que nos garante o espelho mágico que está dentro de nós.

quarta-feira, 5 de março de 2014

SOMOS UM PAÍS VIOLENTO.

Há um número inimaginável de brasileiros que não têm noção do grau de violência que se apossou em sua cidade. Seja nos prédios mais sofisticados ou nos ambientes de periferia. Somos um país violento. Talvez para cada dez pessoas boas tenhamos uma violenta e marginal. Ou, sendo generoso, talvez para cada cem pessoas boas uma seja violenta e marginal.
Mas há um poder de organização da marginalidade que prejudica profundamente o país. Para fazer um muro, às vezes leva dois meses, mas alguém pode pichá-lo em dois minutos. É sempre mais fácil desorganizar, demolir, detonar ou pichar, do que construir. Basta um violento para explodir um prédio que trezentos construíram. Essa é a força tremenda do mal.
Há cidadãos que não têm a menor noção do grau de sofrimento a que estão expostos. Certamente, milhões de brasileiros. E isso não vai mudar tão cedo. Começará a mudar quando de fato nos preocuparmos em lutar para que todos tenham o mínimo necessário para uma vida digna e humana. Enquanto não tivermos noção do sofrimento da maioria da população do planeta e do nosso país não podemos dizer que sabemos o que é viver.
Elas não são muito visíveis, mas nossas cidades estão cheias de grades e redomas que protegem as pessoas mais ricas e bem afortunadas. Elas acabam sem jamais ver o que se passa nas periferias e ambientes pobres da nossa nação. Não vão lá e quando vão não conseguem enxergar como eles são.
Uma senhora que teve o filho assassinado por um outro jovem rico por causa de drogas definiu com exatidão a situação de algumas famílias privilegiadas. “Eu nunca pensei que isso pudesse acontecer conosco, porque vivíamos numa redoma e achávamos que esse tipo de crime só acontecia nas periferias. Pois aconteceu no mesmo prédio onde vivíamos, alguém do segundo andar matou meu filho, que morava no oitavo, por dívidas de drogas.
Agora eu saí da redoma, tenho visto os sofrimentos de outras mães. Em memória do meu filho, que também errou, quero aprender do meu jeito a suavizar a dor de milhões de mães que já não tinham nada e perderam a única riqueza que restou: a paz. Faço parte das mães empobrecidas: perdemos os filhos e a paz”.

terça-feira, 4 de março de 2014

É PRECISO PASSAR PELO FOGO

Passar pelo fogo é ser semente que apodrece para gerar nova vida. É corpo que morre para transformar-se em vida renovada. É lagarta que adormece no casulo para acordar borboleta. É trigo moído que se transforma em pão. É uva esmagada que revive no vinho. É milho-pipoca que pelo calor do fogo se transforma em alimento feito flor.

É a história dos heróis. Nenhum ser humano se torna herói de graça. Necessariamente tem que passar pelo fogo. Sofre e é muitas vezes derrotado, mas, no final, se torna um vencedor. Para chegar à vitória sempre há um caminho de sofrimento, de dedicação e de negação de si mesmo.

É a história de nossos imigrantes. Sofreram para sair de sua pátria. Sofreram a longa e difícil viagem. Sofreram o começo de um novo sonho de vida e de progresso. Muitos deles se sentiram vencedores, outros foram vencedores apenas nas gerações futuras. Se tornaram vencedores, passando pelo fogo, que iluminou e aqueceu o coração dos netos e bisnetos.

É a história das mães. Nem de todas. Há mães frustradas. Mas toda mãe que vive sua vocação maternal passa pelo fogo da gravidez e do parto. Passa pelo fogo da paciência e da presença, da doação e do sacrifício, vendo o tempo passar lentamente, até poder ver-se vencedora no filho que gerou e cresceu. No filho que estudou e amadureceu para a vida. O sonho de mãe sempre passa pelo fogo que cria e recria a vida.

É a história dos estudantes. Não há saber gratuito. Todo ele é conquista. São horas e horas de escola. São horas e horas de estudo individual. São meses e meses de leituras. No momento atual somos expectadores de estudantes perdedores, porque a tentação da facilidade e do consumismo apagou o fogo.

É a história dos casais que sonham o amor. Mas o sonho é muito frágil. Um pequeno fogo destrói o sonho. O sonho alimentado somente pela beleza física, pelo prazer sexual, pela vida egoísta, qualquer fogo o torna cinza.

É a história de todos os relacionamentos humanos. É a história da vida das comunidades e grupos, de organizações e instituições. Todos e todas, em algum momento de sua trajetória, necessariamente passam pelo fogo. Felizmente temos alguém que indicou o caminho. Alguém que passou pelo fogo da cruz e se tornou vencedor. Ele é trajetória obrigatória de toda a natureza e de toda criatura humana. No caminho do mestre todos se tornam vencedores. Necessariamente passando pelo fogo

segunda-feira, 3 de março de 2014

AJUDA-TE QUE DEUS TE AJUDARÁ.

Cansado, desiludido com os poucos resultados obtidos, um pregador, que morava perto de uma ferrovia, jogou sua Bíblia pela janela. Era um dia de Carnaval. A partir daí deixou Deus de lado, voltou a beber e logo tornou-se mendigo. Passaram-se anos e um dia entrou num templo. Um fiel estava dando um depoimento. Contou que anos atrás, numa terça-feira de Carnaval, deprimido e desempregado, decidiu suicidar-se e deitou-se sobre os trilhos de uma ferrovia. O trem se aproximava quando algo o atingiu. Assustado, pegou o objeto e viu tratar-se de uma Bíblia. Desistiu de seu propósito e tornou-se missionário. O antigo pregador percebeu a ação divina. Esta Bíblia é minha, disse, e Deus a usou para salvar uma vida, assim como usou este irmão para chamar-me novamente à fé.
Numa de suas cartas, o apóstolo Paulo declara: “Tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”. Muitas vezes as chamadas coincidências são mensagens cifradas de Deus. Porém, não podemos esperar que Deus intervenha continuamente em nosso favor, alterando os fatos normais. Ele pede que confiemos em sua providência, mas a Divina Providência costuma agir através das criaturas e dos acontecimentos. Um provérbio oriental pede: confia em Deus, mas amarra teu camelo.
Numa oportunidade, um elefante assustava um povoado. Um crente fundamentalista foi enfrentar o elefante, na certeza que Deus o protegeria. Na realidade, o elefante o agarrou com sua tromba e o jogou contra as árvores. Ele seria morto se não fosse a ajuda da população que afugentou o elefante. Ferido e revoltado, reclamava contra Deus, que não o havia protegido... Seu mestre espiritual explicou-lhe: Deus te protegeu através das pessoas que afugentaram a fera.
Não podemos esperar milagres de Deus, mas devemos utilizar os recursos ordinários para resolver nossos problemas. Ajuda-te que Deus te ajudará afirma a sabedoria popular. Devemos rezar para uma boa colheita, mas também devemos lavrar e cuidar bem da plantação. Podemos pedir a saúde a Deus, mas consultemos o médico.
Se a humanidade não vai bem, se existem guerras, infanticídios, fome e doenças, não podemos culpar Deus ou pedir que Ele mesmo resolva esses problemas. Deus nos deu inteligência e vontade para que resolvamos as dificuldades. É através de nós que a Providência Divina age. Muitas vezes perguntamos: por que Deus permite isso? Esquecemos que nós mesmos causamos os males, pela ação direta ou pela omissão.

domingo, 2 de março de 2014

AS RAÍZES E A SUPERAÇÃO DA CRISE.

Ao priorizar a acumulação do capital em detrimento dos direitos humanos e do equilíbrio ecológico, o capitalismo instaura no planeta uma brutal desigualdade social, além de promover a devastação ambiental. Hoje, 80% da produção industrial do mundo são absorvidos por apenas 20% da população que vive nos países ricos do hemisfério Norte. Os EUA, com 5% da população mundial, consomem 30% dos recursos do planeta!
O padrão de consumo da sociedade capitalista é insustentável e tem um papel decisivo no processo de mudança climática. Boa parte desse consumo é reservada às práticas ostentatórias de uma reduzida oligarquia. De acordo com a ONU, a soma da renda das 500 pessoas mais ricas do mundo supera a de 416 milhões mais pobres. Um multimilionário ganha mais do que 1 milhão de pessoas!
Os muros dos campos de concentração da renda são altos demais para permitir a entrada da multidão de excluídos. Mas são demasiadamente frágeis para impedir o risco de implosão. Há que buscar uma alternativa ao atual modelo de civilização. Ela passa, necessariamente, por mudança de valores, e não apenas de mecanismos econômicos.
Se o mundo roda em torno da economia e a economia gira em torno do mercado, isso significa que este, revestido de caráter idolátrico, paira acima dos direitos das pessoas e dos recursos da Terra. Apresenta-se como um bem absoluto. Decide a vida e a morte da natureza e da humanidade. Assim, os fins - a defesa da vida no nosso planeta e a promoção da felicidade humana - ficam subordinados à acumulação privada das riquezas. Não importa que a riqueza de uns poucos signifique a pobreza de muitos. Os cifrões de contas bancárias são o paradigma do mercado e não a dignidade das pessoas.
O princípio supremo da cidadania mundial é o direito de todos à vida e, como enfatiza Jesus, “vida em plenitude”. Como tornar isso viável? Qualquer alternativa deverá fugir dos extremos que penalizaram parcela significativa da humanidade no século XX: o livre mercado e a planificação burocrática centralizada. Nem um nem outro subordina a economia aos direitos do cidadão. O mercado afunila oportunidades, concentrando a riqueza em mãos de poucos, e agrava o estado de injustiça. A planificação burocrática, embora exercida em nome do povo, de fato o exclui das decisões e muitas vezes restringe o exercício da liberdade. Ambos são incompatíveis com o meio ambiente e conduzem ao dramático processo atual de aquecimento global.
Para superar esses impasses, urge que a lógica econômica abandone o paradigma da acumulação privada, para recuperar o do bem comum e do respeito à natureza, de modo que a cidadania se sobreponha ao consumismo e os direitos sociais da maioria aos privilégios ostentatórios da minoria.
Repensar o socialismo supõe não identificá-lo com o regime derrubado pelo Muro de Berlim, assim como a história da Igreja não se resume à Inquisição. Se somos cristãos, é porque o Evangelho  encerra determinados valores, como a natureza sagrada de toda pessoa, que servem inclusive de juízo condenatório ao que representou a Inquisição.
Uma proposta alternativa de sociedade deve partir de práticas concretas, nas quais economia política e ecologia se coadunam. Uma das razões da brutal desigualdade social imperante no Brasil (75,4% da riqueza em mãos de 10% da população) é a esquizofrenia neoliberal que divorciou a economia da política, e a política do social e do ecológico.
A consolidação da democracia e a defesa dos ecossistemas no nosso país e no mundo dependem da capacidade de se enfrentar a questão prioritária: erradicar as desigualdades sociais. Preservação ambiental e superação da miséria são inseparáveis.

sábado, 1 de março de 2014

A COISA CERTA, NA HORA CERTA.

Já adiantado em anos, um velho camponês que levara uma vida exemplar, sentiu-se afetado pelo desânimo. Deus parecia não escutar suas preces. E ele externou seu ponto de vista a um velho e santo monge: “Por toda a vida invoquei a Deus com lágrimas nos olhos. Vivi uma vida pura. Servi aos amigos e desconhecidos da melhor maneira que pude. Mas Deus continua distante como sempre. Já estou começando a pensar que o tempo que eu dediquei a Deus foi um tempo perdido, um tempo jogado fora”.
O monge indicou, lá adiante, os campos cultivados e explicou: há dois tipos de lavradores. Há aqueles que sempre foram lavradores, semeiam todos os anos, mas nem sempre colhem. Por vezes é a seca, outras vezes a enchente, outras vezes ainda os insetos que impossibilitam a colheita. Isso pode continuar anos a fio. Mas eles não abandonam seus campos. Mas há outro tipo de lavrador: o que se entrega à agricultura com o único objetivo de conseguir lucros. E esse se deixa abater por uma única estação de seca.
E o mestre continuou: o verdadeiro discípulo nunca abandona suas orações e suas boas obras. Permanece firme, invocando o Senhor e servindo os irmãos. Ele canta louvores mesmo que não seja uma só vez abençoado com a visão do seu Deus. O caçador de pérolas mergulha muitas vezes seguidas no mar. Mesmo quando volta cansado e de mãos vazias não desespera. Mergulha de novo, de novo e de novo... na certeza que vai conseguir aquilo que busca. O peregrino, em busca de Deus, deve ser assim. Mais: deve redobrar os esforços. A demora não é recusa. Deus se mostra aos seus no tempo certo. Deus tem direito de dizer não. Ou, agora não. E Ele sempre dá muito mais do que pedimos. Ele dá a coisa certa, no tempo certo.
Desde Calvino, há cinco séculos, prospera a chamada Teologia da Prosperidade. Os seus seguidores exigem que Deus dê a eles a riqueza. Nesta ótica, Deus é um senhor cheio de bens. Os devotos se aproximam, não porque Ele é bom, mas para gozar seus favores. O foco de suas orações e suas ofertas não é Deus, mas seus tesouros. E a iniciativa é sempre deles. Eles dão um boi, mas esperam de Deus uma boiada.
Dentro da teologia calvinista, Deus mostra seu amor, dando bens materiais, sinal de predestinação. Quem é pobre, sempre nesta visão, não é amado por Deus. É natural que esse pensamento bata contra o Deus dos pobres, que “ouviu o clamor de seu povo”  e veio libertá-lo. Deus não quer, não precisa, de nossas esmolas. Mesmo porque não é mendigo. Ele quer nossa fidelidade, que se revela nos dois grandes mandamentos: amar a Deus e amar o próximo. De resto, Ele é nosso Pai. Precisamos um coração de filhos, que tem como pressuposto um amor incondicional. E que tem certeza nas surpresas do Pai, sem cobrar prazos e resultados.